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Beatriz Souza conquista primeiro ouro do Brasil

PARIS, FRANÇA – Era o dia de Teddy Riner, um dos maiores judocas da história, e de uma França que veste quimono. Até o presidente Emmanuel Macron estava na Arena Campo de Marte. Mas era o dia também de Beatriz Souza, a Bia, 26, que surpreendeu as favoritas, a líder do ranking e a campeã europeia, para conquistar o primeiro ouro do Brasil nos Jogos de Paris-2024.

Foi o terceiro pódio do judô na capital francesa. William Lima e Larissa Pimenta já haviam conquistado uma prata e um bronze, respectivamente. O esporte acumula agora 27 premiações e é, até aqui, o principal motor de desempenho do Time Brasil em Paris.

Natural de Peruíbe (SP) e atleta do clube Pinheiros, Bia venceu na semifinal Romane Dicko, atual líder do ranking mundial da categoria pesado (+ 78 kg), bronze em Tóquio-2020 e ouro na disputa mista, junto com Riner. E uma barulhenta torcida francesa, que estava no estádio por causa dela, mas principalmente devido à presença de Riner na semifinal masculina.

Dicko entrou no combate buscando uma definição rápida, mas foi ignorada pela brasileira. Pragmática, Bia levou o combate para o golden score e, num vacilo da francesa, conseguiu enlaçar sua cabeça até a imobilização, um kesa-gatame.

Na final, foi a vez da campeã europeia, a israelense Raz Hershko, ser vencida com ainda mais dominância. Um waza-ari foi aplicado logo no começo da luta. Depois, fez seu jogo, segurando firme a oponente, impedindo os ataques da rival e administrando com firmeza até o final.

O caminho até o ouro teve ainda um momento de tensão e reviravolta. Contra a coreana Kim Hayun, o árbitro marcou um ippon para a adversária. Após revisão do árbitro de vídeo, porém, a decisão foi invertida, e foi considerado que a brasileira é quem aplicou um golpe. Assim, foi declarada vencedora.

Bia é a terceira brasileira a conquistar o ouro olímpico, depois de Sarah Menezes, em Londres-2012, e Rafaela Silva na Rio-2016.

Caminho até o ouro

– x Izayana Marenco (NCA) – vitória por ippon

– x Kim Hayun (COR) – vitória por waza-ari

– x Romane Dicko (FRA) – vitória por ippon

– x Raz Hershko (ISR) – vitória por waza-ari

Fora do radar do grande público, Bia Souza enfileirou conquistas em 2023 até o ouro em Paris

A judoca brasileira Bia Souza ainda era pouco conhecida pelo grande público, até esta sexta-feira (2), quando ganhou a medalha de ouro. Por isso, não inspirava grandes esperanças de pódio em Paris-2024. Na equipe, as companheiras Rafaela Silva e Mayra Aguiar despontavam como as maiores apostas de pódio.

No entanto, a medalha de ouro na França da atleta de 26 anos, da categoria peso-pesado (+78 kg), natural de Peruíbe (litoral de São Paulo), está longe de ser uma surpresa.

Em 2023, Souza foi eleita a melhor judoca do ano pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil). Conquistou o bronze no Mundial disputado em Doha, no Qatar -já havia ficado com a prata em 2022-, e nos Jogos Pan-Americanos de Santiago e conquistou o título do Grand Slam de Baku, no Azerbaijão.

Sem perder o embalo, começou 2024 com vitória no Grand Prix de Linz, na Áustria, e também o Campeonato Pan-Americano e Oceania de Judô deste ano.

Desde então, a atual quinta colocada no ranking mundial voltou seu foco para a disputa de sua primeira edição dos Jogos Olímpicos, na capital francesa.

“A competição é o meu momento, é o meu ambiente de tranquilidade. Onde me divirto. O melhor lugar do mundo para mim. Os treinos estão sendo bem encaminhados e os resultados que eu venho tendo durante esses últimos anos mostram que eu estou no caminho certo e que preciso continuar firme”, afirmou a atleta do Pinheiros, de São Paulo, em entrevista ao Olympic Channel em março deste ano.

A agora campeã olímpica começou no esporte em sua cidade natal aos 7 anos, seguindo os passos do pai, Poseidonio José de Souza Neto, que também foi atleta da modalidade. Aos 15, mudou-se para São Paulo para aprimorar as técnicas de luta e participar de grandes competições.

Logo passou a fazer parte da seleção brasileira, conquistando a prata por equipes mistas no Mundial de Budapeste, na Hungria, em 2017, e o bronze no individual nos Jogos Pan-Americanos de Lima-2019.

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Nos Jogos de Tóquio-2020, realizados em 2021 por causa da pandemia de Covid-19, Souza esteve perto de fazer sua estreia nas Olimpíadas.

Ela disputava a vaga na categoria peso-pesado com Maria Suelen Altheman, atleta então com mais experiência que foi bronze nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara-2011 e Toronto-2016.

Ambas conquistaram o bronze no Mundial disputado em Budapeste, na Hungria, um mês antes do início dos Jogos na capital japonesa, e estavam bem cotadas para ser a representante brasileira na categoria mais pesada do judô.

No fim, a experiência falou mais alto, e Maria Suelen acabou sendo a selecionada —na ocasião, sofreu uma das lesões mais graves da carreira, uma ruptura do tendão patelar do joelho esquerdo durante o combate contra a francesa Romane Dicko, encerrando sua terceira participação olímpica nas quartas de final.

“Falei para mim mesma que eu não ia sentir aquilo que eu senti de novo, de não ir para uma Olimpíada. Foi uma chave muito importante para mim que eu virei. Desde o momento em que a chave virou, as coisas só foram sendo encaminhadas”, afirmou Souza.

No ciclo para Paris-2024, a judoca peruibense teve como treinadora justamente Maria Suelen, que se aposentou dos tatames como atleta no início de 2023.


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