O surfista Figue Diel, 47 anos, da Praia Brava, foi convocado pela quinto ano consecutivo para integrar a seleção brasileira que disputará o Campeonato Mundial de Para-surf, de 6 a 11 de novembro, em Pismo Beach, na Califórnia (EUA).
A convocação foi divulgada pela Confederação Brasileira de Surf (CBS) essa semana.
A competição realizada pela Associação Internacional de Surf (ISA) e organizada pela AmpSurf, reúne atletas do surf adaptado do mundo todo.
Figue vai representar o Brasil na categoria Para Surf VI 1. No ano passado ficou vice-campeão.
“É com muita alegria que recebo o convite da CBS para novamente integrar a equipe brasileira no mundial. O surf é um esporte olímpico e o campeonato é uma oportunidade para reforçar a importância da modalidade para todos os públicos”, comenta.
A competição
No ano passado, mais de 20 países participaram da competição.
O Campeonato Mundial de Para-surf funciona por equipes: os surfistas competem em categorias individuais e somam pontos para seu país. A federação que somar mais pontos no conjunto de atletas será a vencedora.
Os surfistas são reunidos em categorias de acordo com as deficiências semelhantes. O júri avalia tanto as manobras como a força, a flexibilidade, o equilíbrio e a coordenação dos atletas.
Figue representa o Brasil na categoria dos surfistas com deficiência visual total.
As baterias são transmitidas ao vivo pela ISA, no site oficial da associação: www.isasurf.org
Treinos diários
O treinamento para fortalecimento e melhor rendimento no esporte envolve práticas de yoga, sessões de escalada, aulas de pilates, acompanhamento fisioterapêutico, alimentação saudável, entre outras práticas para um estilo de vida equilibrado.
O surf e o yoga compõem o estilo de vida do atleta.
“Cumpro as minhas disciplinas com gosto e com esforço. É uma honra representar o Brasil em um campeonato mundial, mas mantenho a alma do surfista, que é se divertir independentemente do resultado”.
Figue tem patrocínio de grandes marcas da região que apoiam o desenvolvimento do surf paralímpico, como Portonave, Santacosta, Lora Surfboards, Chiclete Trunk e Ashvatta Yoga.
Inspiração dentro e fora da água
Figue perdeu a visão aos 16 anos após um acidente de carro. As lesões nos olhos, causadas pelos fragmentos do vidro do pára-brisa, levaram à cegueira total. O jovem gaúcho que surfava em Torres (RS) desde moleque sofreu ao deixar de ver as ondas.
Procurou nos esportes uma maneira de seguir acreditando que a vida é o maior presente.
Figue é faixa preta em jiu-jitsu e escalador de rochas, considerado como o primeiro deficiente visual a escalar no Yosemite National Park, na Califórnia.
Descobriu o yoga em 1998, quando começou a praticar Hatha Yoga. Hoje é professor e ministrante de palestras sobre a importância da prática na busca do equilíbrio pessoal.
“A felicidade pode ser vivida e experienciada por cada um de nós, agora. Porque é exatamente o que todos nós somos: felicidade”.
Junto ao pai, João Nirto Diel, reativou a escola de cães guia Helen Keller, em Balneário Camboriú, na intenção de proporcionar a outros cegos a oportunidade de ter um cão guia. Foi o primeiro morador da região a utilizar um cão-guia.
A maturidade e o autoconhecimento físico, mental e intelectual proporcionaram algo que antes parecia impossível: voltou a surfar sem a visão, a sentir a onda. Reencontrou no surf a fonte da juventude e de inspiração para continuar com o sorriso no rosto. Viajou para o Chile, Peru, Califórnia, El Salvador, Costa Rica, Cabo Verde e Indonésia em busca das ondas perfeitas.
Participou em 2016, 2017, 2018 e 2020 do Mundial ISA de Surf Adaptado conquistando três vezes o vice-campeonato.
Fonte: Fernanda Vieira de Maria