SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente da Argentina, Javier Milei, ressuscitou nesta segunda-feira (27) a polêmica estimulada em 2017 pelo MBL (Movimento Brasil Livre) a respeito de uma exposição de arte no Brasil em uma tentativa de se defender de acusações de homofobia.
Milei republicou na rede social X o vídeo que se tornou famoso e causou celeuma no Brasil há quase uma década: uma criança, acompanhada da mãe, toca nos pés de um homem nu, o artista Wagner Schwartz, que faz uma performance no MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo.
O caso aconteceu em setembro de 2017 e foi utilizado por grupos de direita na internet, em especial o MBL, para atacar a esquerda por uma suposta “erotização infantil”. Na época, o então deputado federal e futuro presidente Jair Bolsonaro também republicou o vídeo.
O presidente argentino republicou o vídeo duas vezes, escrevendo em maiúsculas: “isso é ideologia de gênero”. As postagens citadas por Milei insinuam que o caso é recente, dizendo que “no Brasil, criança é forçada a massagear um artista LGBT nu em uma galeria de arte”, e “no Brasil, a cultura woke permitiu que uma menor de idade toque um homem nu”.
As publicações se encaixam em uma série de outras sobre “ideologia de gênero”, “cultura woke” e pessoas trans feitas nesta segunda por Milei. Elas fazem parte de um esforço do presidente de se defender das acusações de homofobia que recebe desde o último dia 23 e de justificar a associação que fez entre pessoas LGBTQIA+ e pedofilia em seu discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
Na ocasião, o presidente argentino falou em “nefasta ideologia de gênero” e relembrou o caso de um casal homossexual nos Estados Unidos presos por abusar dos filhos adotivos -uma história amplamente explorada por grupos contrários à adoção de crianças por pessoas LGBT.
“Erguendo a bandeira da diversidade sexual, eles foram condenados a cem anos de prisão por filmar e abusar de seus filhos por mais de dois anos”, disse Milei em Davos. “Quero ser claro: quando falo em abusos, não se trata de eufemismo, porque em suas versões mais extremas a ideologia de gênero constitui simplesmente abuso infantil. São pedófilos.”
As falas geraram duras críticas de opositores de Milei e até mesmo de aliados, como o chefe de governo de Buenos Aires Jorge Macri, primo do ex-presidente Mauricio Macri. Em entrevista a uma emissora de rádio argentina, Jorge disse que “pegar um caso e daí fazer de conta que todos são iguais me parece uma injustiça brutal”.