Renata Rutes
O Festival Internacional de Cinema em Balneário Camboriú chegou neste ano em sua 10ª edição – que encerrou no último domingo (6), após 11 dias de exibições de 70 obras de longa, média e curta-metragem. Com diversos filmes premiados e que continuam disponíveis para o público assistir online até este domingo (13) via festivalbc.com, foi marcado pela pandemia de Covid-19, e por isso precisou acontecer totalmente online.
O organizador do FICBC, o cineasta André Gevaerd, fez uma análise sobre essa edição especial, além de apresentar os filmes vencedores, que foram escolhidos pelo júri, formado por profissionais como Friederike Jehn, Hsu Chien Hsin e Marilha Naccari que fizeram parte do júri internacional, Alceu Bett que cuidou da Vivo, Altamiro Pereira da Catarina e Monique Neves e Bruna Pierami da Corujinha.
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“Seria a primeira vez que o festival estava com alguma garantia de realização”
André salienta que este ano o Festival Internacional de Cinema em Balneário Camboriú – a edição do 10o., seria a primeira vez que o festival estava com alguma garantia de realização.
“Mesmo que reduzida, pois recebeu recurso do edital LIC-BC (Lei de Incentivo à Cultura de Balneário Camboriú). Seria o primeiro ano que tínhamos um patrocínio antecipado. Isso foi em janeiro, fevereiro. E o que veio depois não era esperado por ninguém… O Coronavírus se disseminou como uma pandemia. A Arthousebc se viu obrigada a fechar as portas e enfrentei sérias dificuldades financeiras desde então. Tudo está em risco!”, diz.]
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“Um verdadeiro pingue-pongue”
Mesmo assim, André e sua equipe seguiram com o processo de curadoria e organização como fazem todos os anos, sem saber como seria o evento – se presencial ou online – salientando que foi um verdadeiro ‘pingue-pongue’, já que em um momento as autoridades falavam na liberação de eventos e salas de cinema (como chegou a acontecer, por menos de uma semana), e no outro estava tudo proibido.
“Uma montanha-russa para a produção de um evento como o FICBC que precisa de meses de antecedência para alinhar sua produção. A equipe toda ficou alerta. Decidimos tentar realizar o 10º FICBC de forma presencial, mas a cada dia que passava, ficava cada vez mais distante essa possibilidade”, salienta.
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Festival online foi um desafio
Filme Copi, de André, selecionado para importantes festivais de cinema
Até que duas semanas antes do evento, que iniciou em 26 de novembro, a organização optou por realizá-lo de maneira online.
“Foi um novo aprendizado. Quase que como fazer o evento do zero. Reiniciar o FICBC. Embora não pareça, realizar um festival online é totalmente diferente de realizar um festival presencial. O trabalho é tão grande quanto e os desafios são diversos”, analisa.
Com os filmes selecionados, traduzidos, legendados e preparados para o presencial, foi iniciado o processo para torná-lo online.
“E felizmente conseguimos entregar um material de qualidade na versão online. Confesso que eu mesmo participei de alguns festivais online com o curta-metragem “Copi”, que foi selecionado para importantes festivais de cinema como 24º FAM e 22º Kinoarte no Brasil, 15º Fesaalp na Argentina, o que me permitiu testar e entender diferentes formatos e adotar as melhores práticas para o FICBC. Copi segue para mais um exclusivo festival, o 15º Festival Internacional de Cinema de Cuenca, no Equador”, conta.
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120 mil acessos e mais de cinco mil exibições

André confessa que o começo do 10º FICBC foi ‘um tanto desanimador’, primeiramente pela ausência de calor humano e então pela pequena quantidade de acesso a programação.
“Notei o fato que o audiovisual na internet está muito codificado para o consumo de streaming, no modelo Netflix, Amazon, e outros, e o público ainda fica um pouco confuso com agendamento por dia e horário tradicional que segue o mesmo formato de estreias de festivais e das salas de cinema”, explica. Por isso, a organização acabou optando, a partir do terceiro dia do Festival, que o melhor seria adotar o mesmo modelo de streaming liberado pela duração total do evento. “E tenho alegria de informar que segue disponível no site festivalbc.com até este domingo (13). E a coisa fluiu muito melhor dessa maneira, aumentou-se consideravelmente o acesso às sessões do Festival que atingiu um grande público já nesta primeira edição, tendo somado mais de 120 mil acessos e mais de cinco mil sessões exibidas”, comemora.
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Evento de 2021 já está sendo planejado
O cineasta antecipa que a 11ª edição já começou a ser planejada, e que estão pensando em como melhorar o formato online, buscando encontrar maneiras de criar um ambiente virtual ‘onde seja possível a interação e a troca de ideias livre e anárquica’.
“É certo que o online irá continuar disponível, mas cinema é na tela grande, na sala escura e debaixo das estrelas em ocasião festiva e calorosa. E é para isto que trabalhamos. Estou longe de idealizar um mundo onde as pessoas estejam trancadas em seus apartamentos, recebendo comida pela caixa de correio e calor através da tela de sua smart tv, tablet ou celular”, opina.
Uma das principais conquistas da 10ª edição foi, segundo o cineasta, o reconhecimento pelo Prêmio Catarinense de Cinema que agraciou o FICBC com recursos para a produção da 11ª edição.
“Nossa empolgação está a milhão, tanto que já abrimos inscrições no nosso site festivalbc.com. Começamos a trabalhar para um evento inesquecível e caloroso em 2021. Espero que até lá, todos possam voltar para dentro das salas de cinema”, completa.
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Confira os filmes premiados – com comentários do júri
A categoria Internacional premia as melhores obras com a Coruja de Ouro nas categorias: Longa-metragem – Filme, Roteiro, Diretor, Fotografia, Arte, Montagem e Atuação / Média-metragem – Filme, Estética e Atuação / Curta-metragem – Filme, Estética e Atuação. A Coruja de Ouro foi concebida pela artista plástica Clélia Pacetta.
A Vivo premia com o Prêmio Vivo – Obra, Inovação e Linguagem.
Na competição Catarina, com o prêmio Bilo do Cinema, em uma única categoria que une longa, média e curta-metragem – Filme, Estética e Atuação. O Bilo do Cinema foi concebido pela designer Laila Gebhard.
O Festival poderá contemplar uma produção de longa-metragem com o Prêmio de Distribuição que garantirá a distribuição do filme no circuito comercial brasileiro de cinema. As produções também serão premiadas pelo Prêmio do Público e pelo Prêmio da Crítica. O prêmio foi concebido pelo artista plástico Reiner Wolf.
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Internacional Longa
Obra de Longa-metragem – “Colômbia Era Nossa”, de Jenni Kivistö e Jussi Rastas

“A melhor obra foi uma grande surpresa pela profundidade de reflexão e seriedade ao tratar de um tema urgente. Colômbia Era Nossa é uma obra que eleva a grandeza do cinema documentário.”
Diretor – “Cidade Pequena Wisconsin”, de Niels Mueller
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Roteiro – “Cidade Pequena Wisconsin”, de Niels Mueller – roteiro por Jason Naczek
“Uma jóia rara em sensibilidade e humanidade, “Cidade Pequena Wisconsin” é gigante em sua simplicidade e nos mostra que o cinema norte-americano também é capaz de produzir obras únicas e com verdadeira assinatura autoral.”
Atuação – “Um Crime Comum”, de Francisco Marquez – atuação de Elisa Carricajo
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“Simplesmente brilhante a atuação que não nos deixa desgrudar os olhos da tela durante os 96 minutos dessa coprodução Argentina/Brasil.”
Fotografia– “De Olhos Fechados”, de Taras Dron – fotografia por Oleksandr Pozdnyakov
““De Olhos Fechados” nos presenteia com uma obra de forte atmosfera e de riqueza em detalhes que contribui para entregar uma história potente.”
Arte – “As Fúrias”, de Tamae Garateguy – direção de arte por Andrea Benítez

“O impacto visual de “As Fúrias” é um certificado de uma cinematografia madura. Uma obra latina fora da curva que mostra um caminho possível para o cinema Argentino no mundo.”
Montagem – “Um Burro Chamado Geronimo”, de Arjun Talwar e Bigna Tomschin

“A montagem da obra “Um Burro Chamado Geronimo” nos mostra um filme que sabe o que e como contar uma história.”
Especial do Júri – “Desaparecer”, de Gwai Lou, Roberto Egea

“Obra impar e merecedora de destaque em clima indie e livre. Cinema que pouco se vê nas telas comerciais, mas que deveria ser cada vez mais exibido e notado pelo público e pela crítica.”
Internacional Média
Obra de Média-metragem – “Mulheres de Terra”, de Isadora Carneiro, Katia Lund, Mayara Boaretto

“É muito comovente e impressionante como uma jovem metropolitana – que quer se tornar parteira – aborda parteiras experientes em áreas rurais do Brasil. Lentamente, o filme vai desenvolvendo sua compreensão de que isso precisa ser muito mais do que uma profissão – é uma devoção às mulheres e a toda a comunidade.”
Elenco – “Cortejo”, de Yohann Gloaguen – pela atuação de Antoine Grenier

“Embora esteja inserido em um grupo de amigos, Leo parece estar perdido. Ele está vívido e triste ao mesmo tempo, ansiando pela vida e não sendo capaz de suportar sua dor. O jovem, personificado por Antoine Grenier, é misterioso e pensativo ao mesmo tempo. Parabéns pela atuação!”
Estética– “Fabiu”, de Stefan Langthaler

“Nesta peça intimista a câmera de Georg Weiss encontra uma forma carinhosa de mostrar a aproximação lenta de seus dois personagens principais. O mundo de Arthur parece ser muito restrito para dar a Fabiu a chance de fazer seu trabalho. Mas a câmera sabe melhor e fica perto e percebe a cada piscar de olhos. Trabalho atmosférico forte com grande senso de composição.”
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Internacional Curta
Obra de Curta-metragem – “Acabarei na Prisão”, de Alexandre Dostie
Elenco – “Acabarei na prisão”, de Alexandre Dostie – pela atuação de Martine Francke

“Uma surpreendente produção canadense, “Acabarei na prisão” acerta em todos os quesitos: direção criativa do diretor Alexandre Dostie, também autor do roteiro, uma afiadíssima performance da atriz Martine Francke, repleta de camadas emocionais e fotografia e trilha sonora que dão um tom de thriller que lembra os melhores trabalhos dos irmãos Coen.”
Estética – “Gilson”, de Vitoria Di Bonesso
“Um filme que impacta do começo ao fim com sua linguagem e escolha estética. Uma obra original com uma mensagem urgente.”
Especial do Júri – “Cléo”, de Artur Ianckievicz

“Uma mais que bem vinda produção de Londrina, Paraná, dirigida e escrita pelo cineasta Artur ianckievicz, “Cleo” chega em um momento oportuno: através da história da primeira modelo negra de Londrina, Edimara Alves, que por preconceito abandonou a carreira de modelo nos anos 80 e 90, é colocada em pauta a questão da inclusão racial e do racismo que até hoje, permeia o mundo da moda.”
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Prêmio Vivo
Obra– “Leite Selecionado – Adicionado de Pó Reconstituído de Leite Totalmente Pasteurizado e Homogeneizado”, de Jose Luis Ducid
“Leite Selecionado* nos arrebata com um texto cortante e de uma frontalidade extrema e dura, diversão/tensão maravilhosamente todo o tempo.”
Linguagem – “Haiku”, de Martin Gerigk
“A própria etmologia já define, uma ODE a arte japonesa na contrição, precisão e aquilo que na arte japonesa é essencial, o “corte” como no Haicai, forçosamente “aportuguesado” define se em si.”
Inovação – “Rebocando o Pavilhão Philips”, de Filipe Maliska e Kauê Werner
“É sensacional; uma imersão na experimentação didática à prática destes artistas é realmente algo único.”
Especial do Júri – “O velho homem sonhava sobre os leões – volume I”, de Moojin Brothers
“Surpreende pela “tessitura fina” na fotografia, cortes precisos e delineados com certezas absolutas na autoralidade, tomadas “estendidas” ao melhor lugar, celebrando o cinema de autor com maioridade.”
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Catarina
Bilo do Cinema – “A Travessia”, de Décio Gorini e Sander Hahn
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“Pelo enredo e produção, é uma obra que com certeza será aplaudida pelo público em diversos festivais de cinema.”
Estética– “Chave Paraíso”, de Marcos Pacheco
Elenco – “Estilhaços”, de Julie de Oliveira – pela atuação de Djulia Marc, Neusa Borges

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Corujinha
Obra Infantil– “Nano”, de Christian Pincheira
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Obra Juvenil– “Um Homem, Uma Verdade”, de Aurélian Mathieu

“Ficamos encantadas com as obras da Corujinha, são realmente obras de arte incríveis e muito difícil de selecionar, mas por fim chegamos a conclusão que estas duas merecem a premiação pela originalidade, enredos, atuação, produção e mensagens das obras.”
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