Moradores que passaram pela Marginal Oeste nesta terça-feira (26), viram várias árvores cortadas, inclusive algumas de grande porte e procuraram a redação do Página 3, para saber o motivo. A secretária do Meio Ambiente, Maria Heloísa Lenzi, disse que o corte é feito pela concessionária Arteris Litoral Sul e que não precisa solicitar autorização para a Secretaria do Meio Ambiente, pois a área é de domínio federal.
Nativas inclusive
Um morador afirmou que entre as árvores derrubadas tinha ‘um Jambolão gigante’, além de picus-havaiana e Guapuruvus, espécies nativas e que os cortes começaram semana passada.
Ele lembrou que foram feitos levantamentos sobre as árvores da cidade, incluindo essas da Marginal Oeste, que foram derrubadas.
Diminuição do bem-estar na cidade
O urbanista Gabriel Gallarza, que mapeou as árvores de Balneário, em um amplo estudo, analisa que elas são seres essenciais para que tenhamos um ambiente urbano agradável e saudável.
“Por isso, a ideia central está em cuidar ao máximo daquelas que restam, ao mesmo tempo que devemos plantar ainda mais. Quando nos deparamos com uma cena de supressão vegetal tão intensa, como a que aconteceu hoje na via Marginal da BR-101, temos uma sensação de diminuição do bem-estar na cidade”, diz.
Exige planejamento e gestão eficiente
Gallarza questiona se haveria uma forma da ação ter sido ‘menos agressiva’ e ao menos ter sido comunicada à população.
“É preciso lembrar que uma arborização urbana equilibrada exige planejamento e gestão eficiente, e que muitas vezes é preciso corrigir incompatibilidades no espaço público. Uma queda de árvore, acidente viário ou queda sobre fiação elétrica pode causar sérios danos. O que também vale destacar, é a importância de uma comunicação eficiente entre gestores e comunidade para que, enquanto cidadãos, possamos entender e acompanhar as transformações que são promovidas na paisagem”, acrescenta.
Ele disse que agora fica na torcida para que surja no local ‘um lindo corredor ecológico’ ligando nossas áreas verdes remanescentes, com espaços que promovam uma melhor relação do trânsito pesado com as pessoas.
Se aprovada legislação nacional, BC pode destinar valores de multas para arborização
O vereador Eduardo Zanatta foi procurado por Gabriel Gallarza, para saber se a Arteris tinha ou não autorização para o corte das árvores.
“Eu liguei para a Secretaria do Meio Ambiente e repassaram que sim, que há autorização através do Ibama. Porém, expliquei ao Gallarza que há uma lei federal, de 2018, que está pendente de regulamentação, que trata de mecanismos para financiamento para arborização urbana e recuperação de áreas degradadas. Essa legislação permite que um décimo dos valores de multas lesivas ao meio ambiente seja destinado a arborização do município. Hoje não é utilizado esse valor porque não tem regulamentação aqui, depende de ser regulamentado nacionalmente ou no Estado para Balneário poder aplicar”, afirma.
Zanatta aponta que Balneário possui poucas árvores e que faltam áreas verdes.
“Toda vez que moradores veem corte de árvores, como o ocorrido hoje, se preocupam. Precisamos garantir mobilidade dos passeios públicos, recebo às vezes chamadas de moradores reclamando de raízes, mas tem forma de reestruturar passeio para que a árvore continue ali, como neste caso da Marginal também”, opina.
O que diz a Secretaria do Meio Ambiente
O Página 3 procurou a secretária do Meio Ambiente de Balneário Camboriú, Maria Heloísa Lenzi, e ela explicou que, ‘a rigor’ a concessionária Arteris Litoral Sul não precisa solicitar autorização para a Secretaria do Meio Ambiente, pois a área é de domínio federal e eles [Arteris] já possuem licença do Ibama para esse tipo de corte.
“Ainda assim, foi solicitado parecer da SEMAM que indicou que o corte fosse apenas das árvores que possuem risco de queda, pois seu porte e estrutura não são compatíveis com o solo. Foi solicitado a reposição com espécies nativas. Eles vão nos apresentar um projeto. A solicitação de corte foi encaminhada com o laudo técnico e a análise do pedido foi feita pela equipe técnica da SEMAM”, disse.