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19.8 C
Balneário Camboriú
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“A conta do telefone”, por Hélvion Ribeiro

Houve um tempo que a conta do telefone era uma tortura.

Conto um fato real.

Uns anos trabalhei como Ortodontista, tanto em Blumenau como em Balneário Camboriú. 

Minha mulher era a secretária. Tinha também um sistema de secretária eletrônica que gravava as mensagens dos pacientes e quando a gente chegava na clínica, ouvia e respondia as mensagens. O normal era ter 5 ou 6 mensagens. Quem pagava por estas chamadas era o dono do telefone.

Muitos ainda lembram como era.

Pois é… em determinado mês a conta disparou.

Se era de R$ 250,00 passou para R$ 800,00 sendo que a grande maioria foi devido à chamadas na secretária eletrônica.  

No outro mês, a conta chegou em quase R$ 4.000,00. As chamadas eram sempre da mesma pessoa, uma voz um pouco infantil. Primeiro só conversava. Depois cantava hinos religiosos. Contava histórias.  O interessante é que chamava a qualquer hora do dia, da noite, da madrugada.

Eu estava muito intrigado e passei a pesquisar para descobrir de quem era o telefone. Havia uma questão de sigilo, mas mostrando aquele enorme número de chamadas, 300/400, acabaram me dizendo de quem era o telefone. Era de uma pessoa de Itajaí – um senhor.

Depois de várias tentativas identifiquei a pessoa, e disse que precisava resolver aquilo porque o prejuízo estava muito grande e que já havia ido na Delegacia para que fossem tomadas providências. 

Veio mais uma conta com quase 800 chamadas. Aí as mensagens começaram a ficar agressivas. Distratava a minha secretaria eletrônica, falava palavrão. Também havia mensagens pornográficas, ameaças…

Coisa vai coisa vem, decidimos fazer um encontro para resolver a questão. Aquilo tinha que parar.

Foi marcado o encontro, na Delegacia da Rua Inglaterra, aqui em Balneário Camboriú. 

Fui lá e mostrei para o Delegado as faturas gigantescas. 

– Preciso ser ressarcido disto, e isto tem que parar.

Ele falou: 

– Vou conversar agora com o dono do telefone. Depois vamos ver o que se faz.

Saí da sala do Delegado e na entrada tinha uma Sala de Recepção e o tal senhor veio falar comigo.

– Sou o dono do telefone. Queria que o Sr. conhecesse minha filha. Ela tá ali fora.

Respondi:

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– Olha, não pretendo conhecer sua filha. Agora tem o seguinte, o senhor tira este telefone dela. Isto não é possível. Vamos ter que ter uma solução.

Ele entrou na sala do Delegado. Eu fui saindo e vi uma mocinha magrinha de uns 13 anos sentada sozinha num banco, cabeça meio baixa.

Passei na frente dela e tomei um grande susto. Ela não tinha olhos, somente as cavidades. Aquelas cavidades profundas recobertas só de pele.

Engasguei. E saí atordoado.

Depois, de noite, liguei para o pai dela.

Ele chorou. Disse que tinha comprado um telefone especial para ela, que ela raramente saía de casa. A vida dela era muito triste. Uma das poucas alegrias era o telefone. E ela não tinha noção do tempo, se era de dia ou de madrugada. 

Por isto as chamadas aconteciam a qualquer hora. Ele achava que ela tinha descoberto por acaso o meu número, e como alguém respondia (a secretárias eletrônica) ela passou a conversar com ela e deu no que deu. Falou que ia tirar o telefone dela e ia achar um jeito de pagar, só queria um prazo.

Com todo cuidado falei para ele esquecer das contas e dos pagamentos.

– O Senhor esquece isto. Não tira o telefone dela. Só veja como encontrar um jeito de ela não ligar mais para este número.

Assim,                            

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…segue a saga …

Hélvion Ribeiro é cirurgião dentista aposentado, reside em Balneário Camboriú e veraneia em Urubici


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