Waldemar Cezar Neto*
A contratação de Jaime Lerner pela prefeitura, para apresentar um plano que valorize os bairros da cidade, pode marcar uma revolução no desenvolvimento econômico e no mercado imobiliário de Balneário Camboriú.
A decisão de contratar Lerner partiu de perguntas sem resposta que o prefeito Fabrício Oliveira foi acumulando em seus três anos de mandato:
– Por que de um lado do rio Camboriú é permitido construir prédios com mais de 80 pavimentos, com mais de 250 metros de altura e do outro lado, na Barra por exemplo, o limite é inferior a 40 metros?
– Por que no Centro é permitido construir edifícios comerciais, para abrigar indústrias limpas, escritórios e hotéis, praticamente sem limite de altura, e no Parque Bandeirantes ou Nova Esperança, por exemplo, nada disso é permitido.
– Se um terreno vale pelo que é possível construir em cima dele, por que nunca foi dado aos bairros o mesmo direito de construção e consequente valorização que deram ao Centro?
– Como resolver essa desigualdade de maneira planejada sem provocar um caótico adensamento populacional?
– Como criar uma estrutura de serviços em torno do Centro de Eventos que em breve estará funcionando e justamente localizado nos bairros a Oeste da BR-101?
– Por qual motivo não utilizar a grande área pertencente à Emasa naquela região para oferecer à pessoas espaço para lazer ao ar-livre e educação ambiental?
A resposta era contratar alguém que soubesse como fazer, e dentre os possibilidades uma óbvia era Jaime Lerner -e seu escritório de especialistas- considerado por muitos o maior urbanista do Brasil -e um dos mais importantes do mundo.
Lerner, como urbanista, está acima de discussões, trata-se de um sonho para qualquer cidade contratar seus serviços e mais ainda quando o foco principal dessa contratação não é dedicar seu talento para deixar os ricos mais ricos e sim beneficiar camadas mais humildes da população através da valorização imobiliária da periferia.
Há anos, desde o primeiro governo do Leonel Pavan, escuto que Jaime Lerner será contratado.
Ele e Pavan pertenciam ao mesmo partido (PDT) e em alguns momentos pareceu que a coisa iria acontecer, mas nunca deu certo.
Como uma espécie de premonição, quase exatos nove anos atrás, no dia 22 de janeiro de 2011, o ex-prefeito Edson Piriquito publicou em seu blog uma informação que pela importância reproduzo para ser relembrada:
Lerner costuma dizer que as três questões principais nas cidades são mobilidade, sustentabilidade e tolerância.
Sua obsessão pelas áreas verdes; pelas soluções simples e econômicas a partir do que as cidades já possuem e a visão inovadora em tudo que se relaciona a mobilidade o tornaram uma celebridade em planejamento urbano.
Na sexta-feira, após o Página 3 publicar a notícia da contratação de Lerner pela prefeitura, dois ou três leitores questionaram se havia necessidade de buscar alguém de fora, se na região não existe alguém qualificado para o trabalho.
A resposta simples e exata é não, Lerner está no nível dos grandes, qualquer solução projetada por ele imediatamente agrega valor.
A Time Magazine o apontou como um dos 25 pensadores mais influentes do mundo; a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico lhe conferiu o prêmio de liderança em transporte e a votação dos leitores de uma publicação especializada norteamericana (Planetizen) o colocou como segundo urbanista mais influente da história.
É isso que os moradores dos bairros de Balneário Camboriú terão trabalhando por eles a partir da semana que vem, um gênio da nossa época.
(*Waldemar Cezar Neto é editor do Página 3)