Por Guilherme Queiroz de Macedo (**)
Recebi, em 05 de janeiro de 2022, o livro tão aguardado acerca da vida e obra do linguista, escritor, diplomata, dicionarista e tradutor William Agel de Melo, de autoria de Enéas Athanázio (*), contendo dez artigos e ensaios que perpassam a trajetória literária e cultural de uma extraordinária personalidade brasileira, infelizmente tão pouco conhecida da maioria do público brasileiro.
William Agel de Mello merece todo o reconhecimento que a obra, recém lançada por Enéas Athanázio, de forma oportuna e pertinente, vem nos proporcionar, realçando a importância do escritor goiano na cena literária e cultural brasileira.
Os números das obras publicadas por William Agel de Mello são impressionantes. As suas Obras Completas reúnem 54 livros, 17 volumes, 11 mil páginas, na qual está incluída a maior obra de dicionários bilíngues do mundo, composta por 22 dicionários de todas as línguas neolatinas.
Nesta perspectiva, a publicação da obra de Athanázio, na qual delineia, em algumas notas, os multifacetários perfis das obras de Agel de Mello, apresenta uma importante e oportuna contribuição no sentido de divulgar e tornar mais conhecida do público, uma personalidade brasileira notável, conferindo-lhe o merecido reconhecimento, que os pesquisadores e estudiosos especializados já conferiram às suas obras.
Os dez artigos e ensaios enfeixados no volume de 52 páginas por Enéas Athanázio traduzem a multifacetária trajetória e percurso literário e cultural da vida e obra de William Agel de Mello, sobre os quais faremos algumas breves considerações.
Em “Uma ficção sofisticada” contém comentários e impressões acerca das obras de ficção de Agel de Mello, particularmente sobre o livro “A Epopeia dos Sertões”, considerada a obra prima do escritor goiano, de acordo com estudiosos e pesquisadores.
Em seguida, Athanázio destaca dois trabalhos publicados por Agel de Mello sobre a África – “Quem conhece a Tanzânia?” e “A dolorosa luta pela independência da Namíbia” – decorrentes das suas atividades diplomáticas. O breve artigo – “ Fortuna Crítica” – destaca um dos mais interessantes volumes das Obras Completas de Agel de Mello, dedicado a reunir a sua fortuna crítica, sendo importante fonte de consulta para pesquisadores e estudiosos do autor goiano.
Em “As obras completas de Wiliam Agel de Mello”, Enéas retoma os seus comentários e impressões sobre a multifacetária trajetória do autor goiano, tradutor da obra completa do poeta espanhol Federico Garcia Lorca, responsável pela elaboração de vinte e oito dicionários, além de obras de ficção e sobre o continente africano.
O ensaio sobre uma tese “sui-generis” de linguística – “O Idioma Panlatino” – é um dos destaques do livro, nos revelando as singularidades e particularidades da super-língua síntese, criada por Agel de Mello, após anos de pesquisas, dedicação e trabalho árduo.
Em “A Palavra Absoluta”, Athanázio destacou a convivência de Agel de Mello com dois célebres diplomatas e escritores brasileiros – João de Guimarães Rosa e João Cabral de Mello Neto, salientando que a convivência com o autor de “Grande Sertão Veredas”, originou a publicação do livro “João Guimarães Rosa – Cartas a William Agel de Mello”, obra indispensável aos estudiosos e pesquisadores da literatura brasileira.
Em seguida, Athanázio retoma o monumental trabalho de Agel de Mello na tradução da obra completa do poeta espanhol Federico Garcia Lorca (1898 – 1936) em “A obra poética de Garcia Lorca” e “Garcia Lorca”. Em “Uma publicação modelar”, destaca o trabalho do pesquisador Adovaldo Fernandes Sampaio, um dos maiores estudiosos da obra de Agel de Mello, juntamente com Junito de Souza Brandão.
A obra de Athanázio contém um prefácio escrito pelo advogado e escritor catarinense Christian Luís Hruschka. Salientando que “a maior virtude de um escritor é ter vivido”, destacou que “o autor goiano escreveu mais de vinte dicionários bilíngues, trazendo à vida idiomas latinos carregados de história e valor”, tornando Agel de Mello “autor da maior obra de dicionários bilíngues do mundo e a criar uma língua própria – o Panlatino”.
Além disso, Hruschka ressalta que Agel de Mello “conviveu com dois grandes nomes da literatura brasileira – João Guimarães Rosa e João Cabral de Mello Neto, ambos diplomatas como ele, o que certamente o influenciou a seguir os áridos caminhos da trajetória literária”. Christian conclui enfatizando que a personalidade de Agel de Mello “é incansável e continua vivendo e acumulando mais experiência pelos caminhos que percorre”.
Na orelha da primeira capa, Agel de Mello faz alguns comentários sobre as obras de Enéas Athanázio, destacando que “sua obra é fecunda e variada”, caracterizando-se por ser “dono de um estilo invulgar, manejando com maestria o idioma”, ressaltando a sua produção como crítico literário “divulgando a obra de escritores nacionais e estrangeiros”. Neste sentido, Agel de Mello considera que Athanázio “ocupa um lugar importante nas letras brasileiras, e sua obra tem durabilidade assegurada”. Na orelha da segunda capa, contém comentários, redigidas por Márcia Ribas Athanázio, sobre as obras do autor catarinense: “ao nos depararmos com um bom livro, vem-nos à memória nossas próprias histórias, aquelas que, bem escritas, poderiam render uma crônica ou um conto interessante”, ressaltando que Enéas “está sempre às voltas com tais ideias e as transpõe para os livros com maestria singular” sempre nos revelando algo mais, uma vez que “colore o cotidiano prosaico de seus personagens, trazendo a vida do campo aos leitores urbanos que se sentem ávidos pela novidade e curiosos pelas próximas páginas”, sendo, por essa razão, considerado “referência na literatura brasileira”.
A contracapa da obra nos traz as impressões do escritor e crítico literário Fábio Lucas acerca da obra athanaziana e sobre o autor: “tenho-o como um dos mais legítimos intérpretes dos Campos Gerais catarinenses, pois é pela literatura que a voz da terra mais se comunica”, salientando que “o leitor haverá de distinguir nas suas ficções a melodia local, o lirismo de uma região”, que Athanázio “incorporou à literatura nacional.
A contribuição de Enéas Athanázio, reunindo em volume dez artigos e ensaios pertinentes sobre a obra de Agel de Mello, é mais do que oportuna, é de importância e interesse permanentes, tendo em vista a dimensão multifacetária das obras do escritor goiano. Athanázio percorreu a diversidade das múltiplas facetas da obra do escritor goiano em dez ensaios, denominados de algumas notas que, no entanto, engradecem o livro, nos revelando os percursos do linguista, escritor e diplomata, sempre salientando a importância de que a sua vida e obra seja conhecida por um número cada vez maior de leitores, sobretudo pela extraordinária personalidade do brasileiro e cidadão do mundo William Agel de Mello.
Para um maior e mais aprofundado conhecimento acerca da vida e obra de William Agel de Mello, além da obra de Enéas Athanázio objeto da resenha acima, indicamos abaixo mais algumas referências bibliográficas:
01 – Entrevista Enéas Athanázio. O Escrever faz parte da minha natureza. Jornal Pagina 3. Balneário Camboriú – SC – 03.02.2022. https://pagina3.com.br/entrevista/o-escrever-faz-parte-da-minha-natureza-eneas-athanazio-60-livros-publicados/
02 – A obra e a vida superlativas de William Agel de Mello. O Popular. Goiânia – GO – 02.11.2020.
https://www.fetracom.org.br/noticias-fetracom/a-obra-e-a-vida-superlativas-de-william-agel-de-mello
03 – Recordo Hata Hoi. O diplomata Goiano que criou um novo Idioma.
Ana Saggese. Revista Piaui. Edição 169, Outubro 2020.
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/recordo-hata-hoi/
04 – William Agel de Mello. Verbete Wikipedia
https://pt.wikipedia.org/wiki/William_Agel_de_Mello
05 – Site Oficial. William Agel de Mello
http://www.williamageldemello.com/
Introdução Geral (Junito de Souza Brandão) – De acordo com o Professor Junito de Souza Brandão, pesquisador e estudioso de sua obra, Agel de Mello é “um dos maiores africanólogos brasileiros” e “suas obras compõem-se de títulos nas áreas de ficção, tradução, lexicografia e ensaios. Além disso, Brandão destaca a sua contribuição extremamente original por sua tese sobre linguística na qual partindo do latim, que deu origem a dez línguas neolatinas, elaborou uma super-língua síntese – o Panlatino, salientando que o mesmo procedimento poderia ser feito para as demais famílias linguísticas do planeta. A contribuição do Panlatino para a integração da humanidade poderia valer a indicação de Agel de Melo para o Prêmio Nobel.
06 – Os mitos de William. Jornal O Nheçuano. No 47 – Janeiro/Fevereiro 2021, p. 11. Antônio Olinto (Prefácio da obra: A Epopéia dos Sertões).
Obras Completas de William Agel de Mello
Primeiro Box
Volume I – Ficção (04 livros)
Volume II – Tradução (de 16 livros, sobretudo do poeta espanhol Federico Garcia Lorca)
Volume III – Ensaios (04 livros)
Volume IV – Monografias e Artigos (07 livros)
Volume V – Fortuna Crítica (01 livro)
Volume VI – Dicionários (22 livros)
Segundo Box – Dicionário Geral das Línguas Românicas – 4 volumes de mil páginas cada
Terceiro Box – Dicionário Geral das Línguas Românicas da Península Ibérica – 2 volumes de mil páginas cada
(*) ATHANÁZIO, Enéas. A obra de William Agel de Melo – Algumas Notas. Goiânia: Kelps, 2021, 51 p.
(**) Licenciado em História e Pedagogia – Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG