BRUNO RIBEIRO, SP (FOLHAPRESS) – Bolsonaristas acomodados por Tarcísio de Freitas (Republicanos) em gabinetes no Palácio dos Bandeirantes interditavam, até algumas semanas atrás, qualquer conversa sobre a eleição de 2026 que não passasse pelo fim da inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL).
Agora, nos bastidores, eles admitem a possibilidade de candidatura do governador à Presidência, com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como vice.
Para auxiliares do governador ouvidos pela Folha de S.Paulo, a postura desses aliados é o termômetro mais claro do avanço no trabalho de convencimento de Bolsonaro para apoiar Tarcísio na eleição -embora o grupo avalie que a disputa não esteja encerrada e que um movimento mais brusco pode colocar tudo a perder.
Tarcísio não admite ser pré-candidato ao Palácio do Planalto e afirma que tentará a reeleição em São Paulo. Contudo, há algumas semanas, ele iniciou um trabalho para diminuir a resistência do ex-presidente em indicá-lo ao cargo.
Paralelamente, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, Michelle e membros do partido próximos à ex-primeira-dama têm advogado a favor do governador na conversas com Bolsonaro, segundo aliados.
Para eles, além de reiterar a fidelidade a Bolsonaro –como quando testemunhou a favor do aliado no Supremo Tribunal Federal–, Tarcísio conta com as pesquisas de intenção de voto a seu favor. Ele apareceu empatado com Lula (PT) na simulação de segundo turno no último Datafolha.
Além disso, o governador tem bom trânsito no STF, fator considerado vital para a conquista do maior objetivo de Bolsonaro no momento, obter um indulto para a condenação como líder da trama golpista –que, segundo aliados, já é considerada certa.
Por fim, Tarcísio busca se apresentar a eleitores fora de São Paulo, mirando especialmente o público evangélico.
Na semana passada, em um movimento nesse sentido, ele fez um discurso recheado de termos bíblicos durante um culto em homenagem a pastores da Assembleia de Deus, no Brás, centro da capital paulista, e postou o conteúdo em suas redes sociais.
No governo paulista, a expectativa é que Bolsonaro mantenha o suspense sobre seu movimento no cenário eleitoral ao menos até o fim do ano, a depender de uma eventual sentença que inclua prisão em regime fechado.
Com o avanço das tratativas, os partidos aliados do governador em São Paulo se movimentam para reforçar os laços públicos com Tarcísio, mirando vantagens em outra disputa: pelo governo do estado.
No fim do mês passado, Tarcísio concordou em gravar propaganda gratuita para o PL, dando apoio ao presidente da Alesp (Assembleia Legislativa), André do Prado, cotado para disputar o governo no ano que vem.
Nesta semana, o PSD, de Gilberto Kassab, usou mais da metade de suas 40 inserções gratuitas para se vincular ao governo. Kassab já externou a aliados o desejo de disputar a eleição –e o atual vice-governador, Felício Ramuth, é de seu partido.
Oficialmente, Tarcísio pretende manter suas agendas em São Paulo e se afastará de qualquer projeção nacional que possa indicar um voo solo à revelia do padrinho político. Ele tem intensificado compromissos no interior, em movimento semelhante ao dos antecessores que tentaram a reeleição.
Nesta terça (17), Tarcísio estará junto com Bolsonaro na Feicorte (Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne), em Presidente Prudente, no primeiro evento juntos depois do interrogatório do ex-presidente no processo do STF sobre a trama golpista.
O governador encaixou ao compromisso uma caravana pela região, onde visitará obras e anunciará investimentos. Há outra caravana prevista ainda para este mês.
No mês passado, ele enviaria seu vice ao Paraná para a reunião do Cosud (Consórcio de Integração Sul e Sudeste), entidade que reúne os governadores de oposição a Lula, mas que foi cancelado.
O receio se justifica, segundo auxiliares, pelo fato de haver outros grupos que influenciam Bolsonaro, além de disputas internas no bolsonarismo, com alas descontentes com o governador.
Para esses aliados, Tarcísio é um nome apoiado pelo mercado financeiro, pelo centrão e pela imprensa — e simbolizaria a candidatura do “establishment”.
Na visão dessa ala, que não aceita a inelegibilidade do ex-presidente, a alternativa seria seu filho Eduardo, deputado federal licenciado que se auto-exilou nos Estados Unidos em março para buscar sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF.
A avaliação entre aliados de Tarcísio é que o ex-presidente ainda pode pender para o lado do filho.
No domingo, em uma live para o canal de direita do YouTube Estúdio 5º Elemento, Eduardo criticou a escolha de uma “direita permitida”, em uma indireta a Tarcísio.
“Eu não sei ainda se no Brasil as pessoas entenderam. Sem Bolsonaro, com Bolsonaro condenado, a gente não vai ter uma eleição normal no Brasil. A gente vai ter uma eleição onde, no máximo, poderá ser eleita uma ‘direita permitida’, o que fica longe de atender aos anseios populares, o que significa dizer que o establishment ainda seguirá dando as cartas no Brasil”, disse Eduardo.
No programa, que durou cerca de uma hora e 30 minutos, um dos convidados questionou Eduardo sobre os “governadores democráticos” que seriam “aceitos pelo mercado financeiro”, perguntando se era necessário “desconfiar” de quem o mercado “anda elogiando demais”.
“Eu desconfiaria, né?”, respondeu o deputado licenciado. “Acho que, quando você entra na vida pública, tem que priorizar o interesse público, e não deste ou daquele segmento. Ainda mais quando você assume certas posições”, completou.