A Escola do Legislativo de Balneário Camboriú Félix Eugênio Reichert realizou nesta semana (18) a aula online “Entendendo a automutilação e a autolesão”, no Facebook, Youtube e site da Câmara Municipal.
O tema vem sendo mais discutido, com aumento dos casos durante e após a pandemia de Covid-19, já que os pré-adolescentes e adolescentes se sentem mais ansiosos.
O Página 3 também ouviu a psicóloga Laura Colau, que desenvolveu em parceria com outras profissionais um livro e um jogo que aborda comportamentos de risco neste público.
PAIS leva tema à Câmara e também nas escolas
A psicóloga Josiane Hoepers, da Associação de Proteção, Acolhimento e Inclusão Social – PAIS de Balneário Camboriú, foi uma das responsáveis pela aula realizada pela Escola do Legislativo.
Ela explica que houve um aumento perceptível no número de casos de automutilação/autolesão em crianças e adolescentes – observado nas escolas de Balneário Camboriú durante e após a pandemia de Covid-19.
“Recebemos encaminhamentos através das escolas da rede pública, tanto municipal quanto estadual, mas principalmente as estaduais por se tratarem de adolescentes. Às vezes os pacientes não chegam com a demanda de autolesão/automutilação e sim com quadro de ansiedade, depressão, baixa autoestima, com questões emocionais relevantes, e na hora da entrevista/psicoterapia, vem o relato da lesão”, conta.
Autolesão é procurada para aliviar dor interna
Josi explica que há o senso comum que a autolesão é para chamar a atenção, quando, na verdade, é um sofrimento, funcionando como ‘alívio’ no entendimento do adolescente, que está passando por um momento de dor, que não sabe lidar, e quando se lesiona passa a dor para a pele.
“Eu me machuco e aciono uma química no meu corpo. O cérebro associa que alivia, e coloca a tensão em outra dor. Aquele sofrimento está exposto ali, sempre temos que levar a sério, porque pode vir a ocorrer algo mais sério, até tentativa de tirar a própria vida, se lesionou de forma mais grave, pode realmente ferir gravemente e chegar em uma situação pior”, destaca.
Sinais que precisam ser levados a sério
Por isso, a psicóloga orienta que os pais precisam ficar de olho e não demorar muito para procurar ajuda profissional – um psicólogo ou, em alguns casos, psiquiatra (mas primeiramente é adequado optar pelo psicólogo).
“Pode se tornar um ciclo vicioso, sofro e me lesiono. Os pais devem ficar atentos e o quanto antes buscar ajuda profissional. Não devem se desesperar ou brigar e sim sentar, conversar, perguntar o que está acontecendo e procurar ajuda profissional. Há casos de crianças também que batem a cabeça na parede, batem com as mãos na cabeça, arrancam cabelos, se mordem, a autolesão não é só o corte ou arranhão na pele, vai muito além. Exige diagnóstico, porque pode haver outra questão envolvida, como um autismo mais severo”, pontua.
Importância da escola: PAIS tem grupos com adolescentes e pais
Josi aponta que os professores têm papel fundamental nesse processo, já que por estarem muito tempo com as crianças e adolescentes, podem ter um acesso mais fácil, passando confiança ao aluno.
“Temos o projeto ‘Papo reto’, onde abordamos esse tema diretamente nas escolas, e sempre surge demanda. O adolescente sabe onde buscar ajuda. Quanto mais dispositivos tivermos, melhor. Temos ainda o ‘Papo tá on’ – que é só para adolescentes, é online e acontece todas as quintas-feiras a partir das 19h e ainda temos o grupo para os pais, com diversos assuntos e demandas, incluindo automutilação”, acrescenta.
PAIS atende gratuitamente
O PAIS fornece apoio psicológico para crianças e adolescentes de forma gratuita em Balneário Camboriú, atendendo demanda espontânea (basta ir até lá) e também por encaminhamento. Mais informações: https://paisbc.org/ ou (47) 3398-4949.
Livro e jogo também abordam o tema e ajudam adolescentes, pais, psicólogos e educadores
A psicóloga Laura de Souza Colau é coautora do livro ‘Autolesão infantojuvenil – A menina Vic’, junto com Talitta Pereira, Juliana Vieira Almeida Silva e Natanna Taynara Schutz e também é responsável pelo jogo que funciona como recurso terapêutico ‘Armadilhas’, desenvolvido com Talitta Pereira, Juliana Vieira Almeida Silva e Jamir João Sardá Júnior.
“Tanto o livro quanto o jogo tem ligação com o meu TCC. Eu e meus colegas começamos a perceber, ainda na época do estágio na Univali, onde nos formamos, a necessidade de materiais para lidar com essa temática (a autolesão) porque é um tema muito recorrente em escolas e consultórios. O pré-adolescente ou adolescente está em uma fase de desenvolvimento que só a psicoterapia verbal é difícil de acessar, às vezes não conseguem explicar como se sentem, mas as autolesões estão acontecendo”, explica.
Diante disso, Laura e os demais coautores sentiram a necessidade de ter conteúdos que fossem utilizados para a prática, tanto para o psicólogo, pacientes ou seus pais entenderem como surge a autolesão e responder questionamentos, como também acessar o paciente, facilitando expressar sentimentos.
“Tanto o livro quanto o jogo são voltados para o adolescente e pré-adolescente, com conteúdo acessível e de fácil entendimento e também para pais, educadores e psicólogos. O livro conta sobre Vic, que se autolesionava por passar por momentos delicados e com auxílio de psicoterapia e pessoas importantes, conseguiu superar. Procuramos mostrar que existem outras maneiras de aliviar o sofrimento. No livro, há nota para pais e responsáveis que explica o que é autolesão, como fazer. Se o adolescente ler o livro vai se identificar e vai abrir a mente para outras possibilidades”, destaca.
O jogo ‘Armadilhas’ foca também em outros comportamentos de risco, como autolesão, bullying, ideação suicida, sexualidade (abusos, por exemplo) e ainda álcool e drogas.
“O jogo teve a mesma origem do livro, era uma necessidade tê-lo para a prática direta com o paciente. São cartas, é um baralho para trabalhar na psicoterapia ou por educadores”, completa.
Tanto o livro como o jogo podem ser adquiridos com a psicóloga Laura via (47) 99688-5665, por R$ 29,90 e R$ 80,00 respectivamente.