Um guia para viajantes em meio à pandemia
Por João Ker
Férias, verão e festas de Natal e ano-novo estão chegando e, mesmo com o número crescente de casos e óbitos pela covid-19, a previsão é de que os brasileiros continuem viajando no fim do ano. As principais capitais do País já apresentam um aumento na busca por aluguel de carro, ao mesmo tempo em que as maiores companhias aéreas já anunciaram voos extras para o circuito doméstico na alta temporada.
“A pessoa que for viajar durante a pandemia vai se expor ao risco de se contaminar e contaminar outras pessoas. Isso inclui família, amigos e quem mais cruzar o caminho”, afirma Adriano Andricopulo, professor de Química Medicinal e Planejamento de Fármacos da Universidade de São Paulo (USP). “O vírus segue circulando, então a recomendação é que a viagem se restrinja ao núcleo familiar pequeno, de pai, mãe e filhos”, diz Eduardo Flores, virologista da Universidade Federal de Santa Maria.
Andricopulo recomenda que quem for se deslocar no período deve fazer um teste de covid-19 antes de embarcar. O exame mais indicado nesses casos é o RT-PCR (molecular), que identifica o vírus no organismo de 2 a 12 dias após o início dos sintomas e apresenta o resultado em até 72 horas. O preço médio é de R$ 280 e ele é feito mediante agendamento prévio em clínicas ou laboratórios privados, ou pela coleta de material genético em domicílio, mas para isso é necessário ter pedido médico.
Na terça-feira, o Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) emitiu um alerta para pessoas que pretendem viajar no fim de ano, afirmando que o deslocamento pode aumentar as chances de contrair ou de disseminar o vírus. “Adiar as viagens e ficar em casa é a melhor forma de proteger você e outros da covid-19”, diz a nota.
O aviso é reforçado pela infectologista Raquel Stucchi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que alerta ainda para as chances de a viagem não sair tão bem como planejada. “Lugares fechados, com muita gente e pouca circulação de ar, como aeroportos e aviões, aumentam o risco de contágio. A pessoa pode adoecer no destino em que ela está, o que pode causar complicações mesmo que ela tenha convênio de saúde.”
Automóvel
Especialistas ouvidos pelo Estadão afirmam que viajar de carro é a opção que apresenta menos risco de contágio, mesmo que ainda não seja completamente segura. O problema é que, de acordo com dados da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA), a busca por veículos já está alta desde outubro e há grandes chances de não haver oferta para quem procurar em cima da hora.
“Temos uma demanda mais elevada do que nos anos anteriores, porque a malha aérea ainda não está recuperada, o preço das passagens está caro e algumas pessoas estão optando por viajar de carro para evitar compartilhamento e aglomeração”, afirma Paulo Miguel Junior, presidente da ABLA. Miguel Junior diz que há uma tendência “para o Brasil todo ficar sem carro”, e aconselha as pessoas a fazerem sua reserva o quanto antes. “Quanto mais para frente deixar, mais risco terá de não conseguir carro.”
Avião
No setor aéreo, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) afirma que a média diária de voos domésticos deve chegar a 1.620 em dezembro, apenas 67,5% do total previsto em março, antes de a pandemia começar. Em nota, a organização afirma que a tecnologia de filtragem do ar a cada três minutos remove 99% dos vírus e bactérias, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o risco de contaminação em aviões como “muito baixo” Medidas de higienização, entretanto, são de responsabilidade das próprias companhias aéreas.
Em nota enviada à reportagem, a Latam afirma que é obrigatório o uso de máscara durante todas as viagens da companhia e oferece álcool em gel na cabine, além de um serviço de bordo com menos interação entre tripulação e passageiros. A empresa também explica que desenvolveu um robô autônomo para a limpeza das aeronaves com raios ultravioleta, e implementou o uso da videoconferência para um check-in sem contato físico nos aeroportos de Congonhas, Santos Dumont, Vitória e Florianópolis
A Azul explica que adotou uma série de medidas de higiene durante a pandemia, como check-in pelo aplicativo, despacho de bagagem por bancadas digitais de autoatendimento, além de desenvolver uma tecnologia que diminui em 25% o tempo de embarque e garante o distanciamento social. A empresa também diz ofertar lenços umedecidos e sachês de álcool em gel aos clientes, utilizar bactericidas que eliminam vírus e bactérias em 99,99% dos casos e adotar um sistema de raio ultravioleta para a limpeza das aeronaves.
Já a Gol afirma que todas as etapas da viagem podem ser concluídas por celular ou tablet e “todas as medidas de segurança foram tomadas também para o atendimento presencial”. A empresa também diz que adotou medidas extraordinárias, como distanciamento nas filas, incorporação de proteções de acrílico no check-in, desligamento de totens e uso de adesivos para demarcar a distância mínima durante o processo de embarque e também a bordo, além do fechamento da sala VIP dos aeroportos.
Ônibus
De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros no Estado de São Paulo (Setpesp), todas as empresas adotaram medidas adicionais em função da pandemia. Funcionários orientam os passageiros sobre distanciamento entre as pessoas nos guichês e em áreas de embarque e uso de máscaras. Antes de cada viagem, os ônibus também passam por um “rigoroso” processo de limpeza e higienização interna.
A Buser, plataforma online de fretamento colaborativo para viagens, afirma, em nota, que diminuiu a ocupação de assentos por ônibus quando as regulações assim determinam. Também realiza medição de temperatura no embarque, marcação nas filas e distribuição de álcool em gel para os usuários e motoristas das empresas parceiras.
Já a Associação Nacional das Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiro (Anatrip) não informou quais medidas adicionais estão sendo tomadas para evitar o contágio de passageiros dentro dos ônibus.
Avião
Vantagens: Filtragem de ar; menos tempo de viagem;
Desvantagens: exposição ao vírus em aeroportos, filas de check-in e/ou segurança; Exposição ao vírus entre os passageiros;
Recomendações: usar a máscara durante todo o trajeto; renovar máscara em voos mais longos que três horas; higienização constante com álcool em gel sempre que encostar em alguém ou alguma superfície; Nas filas, manter distância das outras pessoas.
Ônibus
Desvantagens: Maior tempo de exposição e trajeto; exposição ao vírus nas filas para compras de passagem, embarque, desembarque; exposição ao vírus entre os passageiros;
Recomendações: usar máscara durante todo o trajeto; se possível, usar também protetor facial de acrílico ou óculos; renovar a máscara em viagens mais longas que três horas; levar o próprio frasco com álcool em gel e manter a higienização das mãos; nas filas, manter distância das outras pessoas; evitar tocar objetos compartilhados; quando tocá-los, rapidamente higienizar as mãos com álcool em gel.
Carro
Vantagens: controle de exposição ao vírus no interior do veículo; se a viagem for com o núcleo familiar (mesmo do isolamento), não é necessário usar máscara.
Desvantagens: grande probabilidade de encontrar engarrafamento nos trajetos de ida e volta; exposição ao vírus nas paradas para lanches, abastecimento e banheiro; sobrecarga do setor de locação e possibilidade de não conseguir alugar automóvel; para viagens longas, pode haver necessidade de hospedagem;
Recomendações: usar máscara sempre que sair do carro e entrar em algum estabelecimento; higienização das mãos com álcool em gel sempre que sair do carro; evitar muitas paradas na estrada; se a viagem for feita com pessoas fora do núcleo de isolamento, usar máscara e deixar as janelas abertas; evitar aplicativos de caronas compartilhadas. Manter distanciamento das pessoas nas filas (banheiro, caixa, lanchonete, check-in de hotel etc.)
Cuidados gerais
Fique atento às regras adotadas no local para onde você vai: pode haver proibição de banho de mar ou mesmo bloqueio de praias; atenção quanto aos horários de funcionamento dos serviços; há novas restrições em São Paulo, por exemplo, com bares funcionando até mais cedo.