Várias ocorrências policiais envolvendo pessoas em situação de rua, em Balneário Camboriú, chamaram atenção nos últimos dias. Na mais grave delas o gerente de um restaurante da Avenida Atlântica foi esfaqueado porque se negou a dar comida para um andarilho, que foi preso (saiba mais aqui) e liberado.
O secretário de Segurança da cidade, Antônio Gabriel Castanheira Junior, disse que a situação não o surpreende e afirmou que estão com as ‘mãos atadas’, por causa de leis que protegem pessoas em situação de rua.
Secretário alertou sobre possível aumento de crimes
O jornal recebeu muitos questionamentos de moradores, preocupados com a segurança, inclusive um homem em situação de rua furtou cinco bicicletas em uma noite (leia aqui).
“Em julho, eu disse em entrevista para o Página 3 que a situação ia piorar muito (relembre aqui). Na ocasião, a cidade estava com poucas ocorrências, havíamos reduzido todos os indicadores e crimes como furto e roubo, mas veio a decisão de não podermos mais atuar junto aos dependentes químicos que se encontram em situação de rua, eu preveni que ia acontecer o aumento nos crimes, e agora aconteceu”, comentou.
‘Mãos amarradas’

“O Ministério Público praticamente disse que moradores de rua tem que ficar na rua. Aproveito para citar um vídeo (https://www.instagram.com/p/
“Não sabem a realidade”

Castanheira comentou que já disse em entrevistas o que acreditava que iria acontecer na cidade: as pessoas em situação de rua iam se matar entre elas e depois iam tentar matar outras pessoas, como aconteceu nesta semana.
“Desde os meus 23 anos combato a violência nos diferentes níveis, eu sei o que acontece. Se a Juliana Pavan quiser fazer curso, eu dou aulas, explico. O CRAS, por exemplo, pode funcionar com maconha e cocaína, mas com crack não. A pessoa viciada em crack tem síndrome de abstinência violentíssima, não vai conseguir ter vontade de se tratar se não for através de internação compulsória, porque precisa de medicamentos. Falo isso de maneira incansável há mais de um ano. Tem que internar essas pessoas para que consigam se tratar e voltar a ter vida social. Quem fala ‘direito de ir e vir’, é pessoa de gabinete, e são todos – políticos, membros do Ministério Público, que não foram para rua e não sabem o que as pessoas vivem na rua, não sabem a realidade”, pontuou.
O secretário acentuou que o governo do prefeito Fabrício Oliveira estudou a situação por um ano até lançar a Clínica Social, que precisou ser fechada, porque ‘perdeu o sentido’ ao não poderem levar todas as pessoas em situação de rua para lá, somente as que aceitassem ajuda – uma minoria.
Pessoas em situação de rua estão violentas
O secretário aproveitou para detalhar o perfil de muitas pessoas em situação de rua de Balneário – que são violentas e que, se o morador negar a esmola, acaba tendo como resposta uma reação negativa.
“No caso do gerente esfaqueado, o homem em situação de rua ‘explodiu’ de raiva. E, infelizmente, isso era esperado. Ele [o mendigo] é um doente, não estava dentro de suas faculdades mentais, é dependente químico. Isso [o esfaqueamento] não me espanta, o que me espanta é defenderem que eles [pessoas em situação de rua] não podem ser tratados. Políticas públicas precisam ser planejadas para terem resultado, tem que atacar a causa [dependência química] e não o efeito, se não, mesmo não gostando dessa expressão, vai estar enxugando gelo”, destacou.
Problema de saúde pública, que se torna de segurança
Castanheira completou a sua fala afirmando o que já disse em muitas entrevistas a este jornal – a situação de andarilhos em Balneário Camboriú não é questão policial e sim de saúde pública, porque diferente de grandes capitais, onde famílias inteiras estão na rua, em Balneário quem está nessa situação são dependentes químicos, que cometem crimes para conseguir comprar a droga.
“Eu não consigo entender como acham que é absurdo levarmos na Clínica Social e não é absurdo fazerem necessidades na rua, esfaquear um morador da cidade… a forma de proteger o morador de rua é dando tratamento de saúde, que é o que tentamos fazer e fomos impedidos, por isso agora está aumentando o número de pessoas nas ruas e os crimes. Conhecemos boa parte deles [das pessoas em situação de rua], atuantes nós da Guarda Municipal e da PM somos, tanto que o homem que esfaqueou o gerente do restaurante foi preso logo em seguida. Prendendo, nós estamos, mas prender não resolve problema. Essas pessoas não têm consciência, só pensam na próxima pedra de crack que vão usar, não vai afetar pensar que podem ser presos”, finalizou.
O que diz a vereadora Juliana Pavan

A vereadora Juliana disse que, em seu vídeo (https://www.instagram.com/p/
“Eu disse que os serviços precisam ser ampliados e integrados, que servidores fazem tudo o que podem, mas que precisa de algo mais amplo. Eu disse ‘não estou criticando a segurança’, falei isso no vídeo. O vereador, que é eleito pelo povo e não escolhido pelo prefeito, tem a obrigação de atender anseios da comunidade, ou seja, recebemos mensagens, chamados dos moradores, questionamentos, e nos últimos dias novamente fui questionada pelas situações que estão acontecendo. Tenho conhecimento que não acontece só aqui, mas enquanto vereadora de Balneário, vou defender a minha cidade. Fiz o vídeo como manifestação, sendo porta voz do povo, para informar quais são as diversas políticas públicas que o município dispõe, para divulgar o que existe”, informou.
Críticas viriam de pessoas ligadas ao secretariado
Juliana disse que está questionando o que o poder público está fazendo para melhorar e ampliar as diversas políticas públicas existentes na cidade e que parabeniza os funcionários desses programas, porque ‘com tanta limitação’ fazem o que podem e não podem para desempenhar o trabalho deles.
“O que me traz preocupação é que muitos dos que me criticam, são pessoas ligadas aos secretários, sendo que estou divulgando as políticas públicas, falando que quero que executem políticas públicas da forma que devem ser. Vejo que as ruas da nossa cidade não podem servir de acolhida para dependentes químicos e andarilhos. Onde estão campanhas para evitar esmola? Informações para o que fazer quando encontrar situações envolvendo andarilhos? Estou cobrando ação efetiva do poder executivo, que a prefeitura faça sua parte, exercendo autoridade para que as ruas não sejam morada dessas pessoas”, acrescentou.
“Parar de dar desculpa”
Segundo Juliana, o governo municipal precisa ‘parar de dar desculpa’ e que há diversas ações que podem ser feitas porque há leis municipais que permitem, como o combate ao uso de carrinhos de mercado por pessoas em situação de rua, combate aos ‘falsos catadores de recicláveis’, combate à esmola, conscientização de comerciantes sobre não dar comida para pessoas em situação de rua e o combate ao comércio ilegal de recicláveis.
“A prefeitura não pode divulgar que tem cama e comida na Casa de Passagem para evitar a esmola? A prefeitura não pode usar o MP e o STF como desculpa, tem que cumprir a lei e trabalhar. As políticas públicas precisam estar interligadas. A falta de divulgação dos serviços é evidente em Balneário. Digo e repito o que falei no vídeo: é necessário ampliar e melhorar políticas públicas que já existem, queremos que o poder público exerça e atue com essas políticas. A prefeitura tem que exercer autoridade e parar de dar desculpa, cumprir a lei e trabalhar. É difícil, mas não é impossível”, completou.