Após a tentativa de terceirização do Resgate Social, departamento da Secretaria de Inclusão e Desenvolvimento Social especializado na abordagem e acolhimento de pessoas em situação de rua, por parte da prefeitura de Balneário Camboriú (relembre aqui), a Clínica Social, projeto que assiste moradores de rua com equipe formada por psicólogos, médicos, guardas municipais e assistentes sociais, voltou com os atendimentos.
A atuação da Clínica havia sido paralisada até que a terceirização em andamento fosse concluída, mas acabou sendo suspensa, retornando então o serviço na sede do projeto, localizada na Rua Itália, no Bairro das Nações, na última segunda-feira (3).
A Clínica Social, é mais uma oportunidade que a prefeitura, através de três secretarias – Inclusão Social, Saúde e Segurança, oferece para pessoas em situação de rua, que querem ‘mudar de vida’ e aceitar tratar a dependência química.
O secretário de Segurança da cidade, Antônio Gabriel Castanheira Junior, foi o idealizador da Clínica, em 2022 e informou que o serviço retornou na segunda-feira (3) e que havia muitas pessoas em situação de rua para serem atendidas.
“Teve fila de atendimentos, pois ficamos 20 dias parados. Um absurdo o número de novos moradores de rua, pessoas que nunca havíamos visto. Pedi para cadastrarem todos. Havia caras violentos, e todos dependentes químicos, usuários de droga e/ou álcool. Havia inclusive um foragido da Justiça”, conta.
A Clínica voltou a funcionar todos os dias, sempre das 19h às 7h. O objetivo agora é conseguir uniformes diferentes para os servidores que atuam na Clínica, além de um carro com plotagem especial também.
“Assim não serão confundidos com o Resgate Social, pois apesar de serem serviços que se complementam, são diferentes. Quero criar um profissionalismo absurdo, colocar câmeras por todo lugar da Clínica, para mostrarmos transparência. Normalmente, as pessoas em situação de rua reagem mal às abordagens, depois que estão na clínica têm rompante, mas é positivo porque o médico identifica que não têm condição da pessoa estar na rua, porque está doente e precisa tratar a dependência química. Não sou eu que avalio, e sim um médico”, acrescenta, citando que muitas pessoas em situação de rua têm ainda doenças de pele e problemas respiratórios.
“Se não fizéssemos nada, eles iriam começar a se matar entre eles”
O nível de dependência química das pessoas em situação de rua também é avaliado, já que muitas se tornam violentas durante o atendimento, porque precisam ficar na Clínica Social das 19h às 7h.
“É por isso que a Clínica funciona por todas essas horas, porque precisamos que a abstinência apareça, assim o médico consegue constatar isso e avaliar. Por exemplo, o jovem que matou a pedradas o outro morador de rua (relembre aqui), havíamos visto ele e percebemos que ele estava em surto, e alguns dias depois, aconteceu o crime. Eu disse, até mesmo na Promotoria de Justiça, que se não fizéssemos nada, eles [os moradores de rua] iriam começar a se matar entre eles, e já tivemos dois ou três homicídios nesse sentido”, pontua, lembrando que as pessoas em situação de rua ‘vivem pela droga’ e até mesmo brigam entre si para sustentar o vício, além de cometerem furtos e roubos e pedirem esmola – por isso a ajuda da comunidade é tão importante, deixando de dar dinheiro.
“É a maior discriminação falar de respeitar direito de ir e vir, pois se deixamos eles como estão, na rua, torna-se um suicídio assistido. Tem muita análise de gabinete, pessoas que não conhecem a realidade opinando, sem estarem vivendo o que está acontecendo e sem ter contato”, completa.