A Operação Liberdade está acontecendo desde o início do mês de maio, no centro de Balneário Camboriú, através da Guarda Municipal.
Na sexta-feira (13) chegou ao Página 3 uma denúncia de moradores da Rua 1.200 sobre o tráfico e uso de drogas no local (relembre aqui), o que de fato acontecia, mas desde que a operação começou esse cenário mudou. A reportagem do jornal foi convidada a fazer rondas com o setor de Inteligência da GM. Acompanhe.
Caso da 1.200 motivou Operação Liberdade
O jornal Página 3 foi informado que a denúncia da Rua 1.200 de fato procede, mas que chegou com duas semanas de atraso – o cartaz de fato foi colado em uma placa na sexta-feira, mas a situação já não é a ‘denunciada’.
Há na Rua 1.200 um ponto cego que traficantes e usuários de drogas utilizavam, mas que está sendo monitorado constantemente pela Guarda. Isso foi inclusive uma das ‘motivações’ para a Liberdade acontecer no centro (a primeira fase aconteceu no Bairro dos Municípios, onde agora uma viatura faz rondas 24h, para que o crime não volte a se estabelecer no local).
Atualmente, há guardas responsáveis apenas pela Operação Liberdade, que ficam 24h no centro da cidade – principalmente na área onde acontecia de forma mais frequente o tráfico de drogas, entre a praça Almirante Tamandaré e a Rua 2.000.
Há inclusive uma ‘base’ no calçadão em frente à Rua 1.400, além de motocicletas.
Como acontece a operação em Balneário Camboriú
O secretário de Segurança de Balneário Camboriú, Antônio Gabriel Castanheira Junior, explica que o setor de Inteligência é fundamental.
Os guardas que nele atuam são responsáveis por monitorar toda a cidade e coletar dados para futuras operações, como é o caso da Liberdade.
As ações que estão sendo desenvolvidas no centro da cidade foram coletadas há meses – a exemplo de como acontecia o tráfico de drogas na Praia Central, pontos cegos para consumo (a exemplo da Rua 1.200) e pessoas envolvidas.
Um exemplo é ‘Batata’, o principal traficante que atuava no centro de Balneário, que foi preso na noite de quinta-feira (12), no mesmo dia em que seu mandado de prisão foi emitido pela Justiça de Itajaí.
Ele cumprirá uma sentença de 20 anos de prisão por crimes como tráfico de drogas, furto, roubo e porte de armas. Batata também é suspeito de ter envolvimento com um homicídio ocorrido no Carnaval, em Balneário.
“Ele era o maior traficante do centro, coordenava todas as ações e possui envolvimento com crimes grandes. Ele era o cara que aplicava as disciplinas criminosas no centro, cobrava as contas do tráfico. Representou muito a prisão dele. Temos que estar atentos, porque o poder não admite um vácuo, alguém vai começar a ‘galgar’ o lugar dele e temos que ‘quebrar’ esse novo ocupante, não deixar que se instale. Entender a estrutura é muito importante para trabalhar nas soluções”, diz.
“Estava um caos”
O secretário diz que a Rua 1.200 de fato estava ‘um caos’, e que a Guarda era chamada constantemente para ir até lá – inclusive o próprio Castanheira participou de reuniões com moradores da localidade.
“Por isso, demandamos a operação. Monitoramos o tempo todo esses pontos negativos, quebradas de prédios onde conseguem se esconder, porém sabemos que há um modus operandi e que se descuidarmos, o crime pode voltar, porque é isso que acontece”, comenta.
Segundo Castanheira, há um grupo específico que discute as ações da Liberdade 24h, para definir quais são as melhores ações para certos acontecimentos.
“Vamos reportando e definindo de qual forma agir. A situação ainda não está do jeito que eu quero, mas havia um caos e não está mais como estava antes. A operação está sendo um sucesso, mas sabemos que se sairmos eles vão voltar. É um drama que vivemos, porque estamos estancando um problema que só vai ser solucionado na hora que a Lei Antidrogas mudar”, acrescenta.
‘Aluguel’ da Atlântica para o tráfico
Na Avenida Atlântica e em outros lugares da cidade, como no Bairro dos Municípios, os traficantes ‘alugam’ pontos para que o tráfico aconteça.
Por exemplo, para traficar na Praia Central de Balneário Camboriú, o traficante precisa pagar para um ‘superior’ um valor por dia.
“Tem um ‘dono’, não pode simplesmente chegar e começar a vender. Eles têm disciplina, fazem cumprir as regras; se organizam como comércio mesmo. Os traficantes são estabelecidos, circula muito dinheiro, por isso é algo tão complexo. Nós monitoramos isso tudo, procuramos entender como o sistema trabalha. Sabemos que tem muita prisão acontecendo e que não chega na imprensa, mas queremos mudar isso”, afirma o secretário.
Operação é baseada em dados
Castanheira aproveita para citar que na Operação Liberdade não podem de forma alguma agir de maneira amadora, e que ele vê que não é apenas dividir viaturas em determinadas áreas da cidade e ‘pronto acabou’.
“Nós fazemos análise de como as coisas acontecem e dentro das falhas no sistema do crime, nós atacamos. A legislação é fraca, estamos atentos no processo e temos que trabalhar nas falhas. Às vezes é mais eficiente ocupar pontos, como estamos fazendo no centro, do que encaminhar o cara para a delegacia… às vezes ele sai antes da viatura da delegacia. Porém, ocupar é difícil porque temos um número limitado de guardas”, explica.
Menores infratores e palestras nas escolas
Castanheira salienta que há criminosos conhecidos das forças de segurança, e que uma situação que gera incômodo são os menores infratores – já houve um flagrado com 600 pedras de crack, e outro que quando sai para furtar, comete entre cinco e seis assaltos de uma vez.
“E não ficam detidos porque não são considerados crimes violentos (de ameaça à vida como homicídio ou latrocínio, por exemplo). Eles sabem e por isso traficam e furtam”, pontua.
Por esse motivo, o secretário realizará palestras em escolas da cidade – para os alunos e seus pais, para que os responsáveis tenham cuidado, já que há casos envolvendo adolescentes que ficam na Praia Central durante a madrugada, virando a noite – a suspeita é que esses grupos tenham pichado recentemente a escolinha de surf da praia central.
“Os pais têm que controlar os filhos, é algo sério. Estamos perdendo as crianças para o crime organizado, isso é um fato! Por isso irei nas escolas para tentar alertar. Não é da noite para o dia que a criança entra no crime, mas pode ser que quando os pais percebam, já seja tarde para recuperar”, afirma.
Segurança e suas complexidades
O secretário comenta que falar de segurança é um tema complexo e que muitas pessoas não entendem como o sistema de fato funciona.
“São decisões difíceis. Às vezes preciso tomar decisões e escolher o que é ‘menos pior’. Por exemplo, se eu apertar demais o tráfico na Vila Fortaleza (área de invasão no Bairro da Barra), a ponto de estancar, os traficantes vão começar a assaltar. Eles não vão procurar emprego, vão continuar no crime. Ou seja, não que vamos deixar de combater o tráfico, mas exige uma análise crítica e escolher o que é ‘menos pior’ para a sociedade. Eu não deveria precisar ‘preferir’, mas hoje a legislação exige escolhas e análises. Se não conseguimos deixar os criminosos presos, temos que procurar o ‘menos pior’, o que é menos ruim, o que não é uma ameaça direta à vida”, comenta.
Castanheira diz que a lei é ineficiente, além da falta de vagas no sistema penitenciário. Se fosse diferente, ele opina que poderiam ‘espremer’ tudo, mas que hoje é preciso ser muito analítico para não gerar um problema ainda maior.
“Tem que estar de olho, monitorando, mas não passar da medida, porque o dano social pode vir a ser maior. É melhor controlar do que parar tudo e ter um dano muito maior. Sabemos quais crimes acontecem, para onde migram, e tudo levamos constantemente ao prefeito Fabrício Oliveira, servindo como base para as operações que estamos fazendo”, finaliza.