A preservação do sítio arqueológico de Laranjeiras foi abordada na tribuna livre da Câmara de Vereadores esta semana, quando o artesão Roberto Batista Neto, levou sua preocupação com a destruição daquele patrimônio cultural desde que começou a obra de recuo dos restaurantes naquela praia.
Bob como é conhecido o artesão da praia de Laranjeiras, fez um trabalho de releitura das cerâmicas tradicionais, que resultou em um projeto aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura (LIC), em 2021.
Aos vereadores ele apresentou o projeto “Centro de Exposição, Pesquisa e Preservação Arqueológica da Praia de Laranjeiras”, que não foi aprovado na LIC/2022, mas que agora vai inscrever nos editais da Lei Paulo Gustavo e editais de cunho estadual, com o objetivo de tornar aquela praia uma referência cultural no país sobre este assunto.
“O acervo está espalhado, tem uma parte na Santur, outra em Florianópolis. A idéia seria instalar um tótem, com fotos, informações, mostrar todo o acervo espalhado, algo lúdico, para que todos tenham conhecimento e isso com certeza se tornaria um equipamento turístico”, disse o artesão.
Ele conheceu Laranjeiras em sua fase ‘hippie’ na década de 90, quando soube que ali era um sítio de ‘índios’ e que tinha ouro naquela praia.
“O tesouro mesmo é saber que aquilo existe e que estavam destruindo, encontramos peças indígenas que estavam jogando no lixo”, afirmou.
Preocupado com o assunto, começou a estudar cerâmica arqueológica, pesquisou o assunto e tornou-se um defensor de ‘unhas e dentes’ daquele sítio.
Nas reuniões do Plano Diretor alertou sobre a importância de preservar, sugeriu reconstruir os restaurantes em terrenos mais recuados para não destruir o sítio e surpreendeu-se que algumas lideranças desconheciam o sítio arqueológico e outras preferiram se calar sobre o assunto.
“Ainda tento convencer empresários, donos de terrenos, para não construir em cima do sítio, porque a praia vai ser ainda mais valorizada se essa história for preservada.
“Falam que a Barra é onde tudo começou. Eu digo que Laranjeiras é o berço da cidade, porque ali viveram muitas pessoas há quase cinco mil anos. Isso é história. Isso não pode ser destruído”, disse.
Processo parado
Em junho, o vereador Eduardo Zanatta recebeu denúncia de que os sítios arqueológicos de Laranjeiras não estavam sendo preservados, na obra de demolição dos restaurantes construídos sobre área pública, na frente da praia. Uma ação civil pública determinou a reconstrução (noticiado pelo Página 3 recentemente, relembre aqui).
“Essa demolição estava acontecendo sem qualquer preocupação com esse patrimônio histórico e cultural.
Denunciamos ao IPHAN, a técnica esteve na praia uma semana depois, e no dia 27 de junho o IPHAN pediu por meio da Advocacia Geral da União, no processo em que a demolição foi acordada judicialmente entre o município e o Ministério Público Federal, para parar a demolição até que fosse feito um estudo arqueológico da área”, disse Zanatta.
Ele esteve no local e verificou que de fato os sambaquis estavam ameaçados.
“Verificamos que os sambaquis estavam saindo do meio da rua, onde tem os sambaquis, as covas de sepultamentos rasos, onde foram encontradas ossadas no final dos anos 70, e esse sítio está inscrito no cadastro nacional, portanto, é reconhecido nacionalmente pelo IPHAN”, informou.
Zanatta disse que o processo está parado esperando um despacho.
“Não movimentou desde 27 de junho e em 10 de agosto o IPHAN comunicou a prefeitura. Vamos continuar nos mobilizando porque Balneário Camboriú tem um potencial turístico imenso e fica a pergunta: por que não fazer ali um memorial de sambaquis, um centro ou um espaço público aberto, para preservar esta riqueza cultural”, concluiu.
A secretária do Meio Ambiente, Maria Heloísa Lenzi Furtado
disse que o IPHAN já respondeu o requerimento enviado e disponibilizou o termo de referência com os estudos que devem ser contratados.
“A Fundação Cultural está responsável em fazer o processo de contratação do arqueólogo para que possamos dar continuidade ao processo”, informou a secretária.