A bela Taquaras é a mais nova integrante do seleto grupo de praias da cidade (junto com Estaleiro e Estaleirinho) a receber a Bandeira Azul, que foi hasteada nesta quarta-feira (14) – leia aqui.
Balneário Camboriú possui há cinco temporadas consecutivas a Bandeira no Estaleiro, Estaleirinho e na Tedesco Marina, e desde o início Taquaras também buscava se credenciar, obtendo o selo somente agora.
Mesmo com a conquista, a comunidade que vive naquela praia agreste, luta por melhorias no bairro, pedindo principalmente por mais segurança, mais linhas do transporte público e infraestrutura de energia elétrica (o local sofre com apagões).
O Página 3 ouviu moradores que relataram como é a dinâmica de Taquaras, que respira cultura, através da pesca da tainha e engenho de farinha.
Acompanhe:
“Se temos um bairro que a beleza é o meio-ambiente, temos que preservar isso”
O presidente da Associação de Moradores de Taquaras, Jair Euflorzino, vive em Taquaras a ‘vida toda’.
A família Euflorzino é uma das tradicionais do bairro e possui ligação direta com a pesca da tainha, que acontece anualmente de maio a julho.
“Como Taquaras está hoje, tendo em vista como era quando começamos na associação, acho que é uma vitória. Sempre foi um bairro maravilhoso para morar, mas faltavam algumas coisas.
A conquista do Bandeira Azul foi muito importante, foi algo que lutamos muito para conseguir e que queríamos muito!
Havia a situação do esgoto na Lagoa de Taquaras, que quando ‘estourava’ ia para a praia, e fazia com que a nossa praia ficasse imprópria para banho e foi uma luta muito grande que vivemos… hoje, a Lagoa está própria, segundo o Instituto do Meio Ambiente (IMA).
Em parceria com a Emasa, fizemos um trabalho de equipe, ajudamos os moradores a se ajustarem, houve uma parceria muito grande da comunidade em prol do meio-ambiente, pois ninguém melhor do que nós, para cuidarmos do nosso bairro. Afinal, se temos um bairro que a beleza é o meio-ambiente, temos que preservar isso”, disse, agradecendo pelas novas passarelas, que foram muito solicitadas pela comunidade.
Demandas do bairro
Jair analisa que a situação que mais demanda atenção no bairro hoje é a segurança, pois são atraídas para o local ‘pessoas ruins’, que estariam indo à Taquaras influenciadas pela situação da Praia do Pinho (um projeto está tramitando pedindo o fim do naturismo no local, relembre aqui).
“Tivemos reunião nesta semana com o secretário de Segurança, Antônio Gabriel Castanheira Junior, pois a situação do Pinho respinga em Taquaras. Tem gente usando a nossa praia para coisa errada e não é bom para o nosso bairro e nem para Balneário.
Imagina uma praia que recebe certificado de Bandeira Azul, e chega a noite um casal é abordado por um homem com proposta indecente. Passamos isso para o Castanheira e ele disse que vai trabalhar em cima disso. O novo comandante da PM [Tenente-Coronel Rafael Vicente] também prometeu que vai se reunir com a gente”, pontuou.
O presidente da associação citou ainda que a comunidade precisa ‘continuar cobrando’ a questão do transporte público, pois é algo que muitas pessoas do bairro dependem para se locomover ao Centro da cidade (vale lembrar que a empresa responsável pelo transporte coletivo da cidade, PGTur, chegou a suspender as linhas recentemente, porque passa por problemas financeiros – uma verba de R$ 2,1 milhões foi repassada nesta semana e o transporte iria voltar em sua totalidade).
“Pedimos pelo menos um micro-ônibus, vans… o município precisa pensar em alguma coisa para atender esses moradores que dependem do transporte coletivo, precisam olhar com atenção”, afirmou.
Futuro: continuidade da cultura e cuidado com o meio-ambiente
Jair, que vivencia a cultura do bairro diariamente, salienta que é ‘muito forte’ a tradição de Taquaras, e que, por isso, o local é um bairro diferenciado, pontuando que o próprio prefeito Fabrício Oliveira disse que Taquaras ‘é o pulmão da cidade’.
“A praia, o verde, a cultura, o engenho, a pesca da tainha… tudo isso é muito forte aqui. Muita gente acha que turismo é só temporada e, na verdade, é o ano todo! Os turistas podem vir * aqui em julho e se deparar com a pesca da tainha, com a canoa e redes feitas de forma artesanal. As crianças daqui aprendem isso na escola, puxam a rede com a gente, nos ajudam… não queremos deixar isso morrer, fazemos a nossa festa, Raízes de Taquaras, sempre em cima da cultura local, apresentamos a culinária local – o peixe frito, o caldo de peixe, a farinha feita no engenho. A cultura corre na nossa veia”, destacou.
O morador vê que o futuro de Taquaras tende a ser focado no cuidado com o meio-ambiente e seguindo a cultura local.
Para isso, ele cita o plano de manejo da APA Costa Brava, que tem cuidados especiais com a construção civil.
“Queremos manter no máximo três andares, ocupação de somente 6% na parte de morraria, e seguindo de olho nos terrenos vagos, porque ninguém paga terreno para deixar sem construir. Vejo que Taquaras vai ser um bairro que vai ser exemplo para muitas cidades do país – pois Balneário é muito visitada, adensada, e ao mesmo tempo tem bairros, como Taquaras, onde há cuidado com o meio-ambiente, com o mar, com o verde intacto… a cidade ganha muito com isso. Não queremos perder essa nossa identidade. Acredito que o bairro vai crescer muito nos próximos anos, mas será um crescimento ordenado e com cautela”, completou.
Mais opiniões: moradores repassam mais demandas do bairro
“É um lugar muito especial”
Marcelo Abraham Peixoto, morador de Taquaras e membro da diretoria da Associação de Moradores, a qual já presidiu, destaca que busca ver o lado positivo e que a prefeitura é bastante parceira do bairro, citando o secretário de Obras, Mazoca (Osmar de Souza Nunes Filho), que disse que vai levar asfalto para todo o bairro, o secretário de Segurança Castanheira, que deu retorno através de uma reunião, bem como a Fiscalização de Posturas.
“Vejo que Taquaras conquistou muitas coisas desde que assumimos a associação. Um dos critérios do Bandeira Azul é a segurança, e estamos focando nisso, assim como a iluminação, que já está na avenida e vai estar nas ruas. Solicitamos mais rondas da GM e PM, pois se fizerem mais abordagens pedindo documentação de suspeitos, vão querer sair dali. Teremos outra reunião com o Castanheira em janeiro para ver se a situação melhorou, pois vemos que o momento para agir é agora”, pontuou.
O morador salienta que quem escolheu Taquaras para morar são pessoas comprometidas com o bairro, e que foi através disso que conseguiram conquistar algumas coisas, como a pracinha construída pela prefeitura, mas que a comunidade cuida e limpa.
“Quando há problemas, cobramos, porque queremos que esteja tudo bem. Os nativos são pessoas muito boas, que acolhem a todos. É uma coisa natural. Vejo que o cuidado do meio-ambiente e com as pessoas se manterá pelo futuro de Taquaras. É um lugar muito especial, e procuramos nutrir a história, a cultura.
No evento de lançamento do Bandeira Azul todos elogiaram o nosso bairro, e tudo o que pedimos para a prefeitura, há feedback”, disse, citando que hoje o problema que precisam resolver é com a Celesc, na estrutura elétrica, pois a frequência de falta de luz é grande e persistente.
“Agradecemos muito a parceria que construímos com os órgãos da prefeitura, criamos um vínculo bom, há boa vontade. Taquaras mudou muito de quatro anos para hoje, está tudo pavimentado, temos escola e creche muito boas, posto de saúde que funciona, temos a cobertura do PA da Barra.
Já estamos trabalhando na próxima festa Raízes de Taquaras, que é em junho. Queremos que ela dobre ano que vem, o pessoal da Fundação Cultural já está nos ajudando. Vão ser quatro dias de festa, pegando o feriado de Corpus Christi (8 de junho). Estamos resgatando e valorizando a nossa cultura, e isso tem um efeito muito bacana na comunidade. É algo verdadeiro, que as pessoas vivem e a festa vem valorizar, completou.
“Precisam resolver o problema”
Cristina Vasselai, moradora de Taquaras, pontua que o bairro é muito bonito e ‘um paraíso’, mas que não tem toda a infraestrutura que desejam, e que nem tudo depende da prefeitura.
Assim como citado pelo presidente Jair Euflorzino, ela aponta que as coisas que acontecem no Pinho estão se estendendo para Taquaras, e que vem sendo ‘um motel a céu aberto’.
“Tem casos de moradores que estavam na praia e tinha alguém na restinga se masturbando. Uma mulher e a filha dela, uma criança, presenciaram um homem abaixar as calças, se fotografando. Há relatos de que à noite vários motociclistas param e ficam esperando. Virou um ponto de turismo sexual. A quantidade de rondas da PM e GM diminuiu muito, mas o secretário Castanheira prometeu aumentar as rondas. Pedimos que os moradores denunciem aos órgãos de segurança, porque não adianta só reclamar em WhatsApp”, comentou.
A moradora cita também os ‘acampamentos’ que costumam acontecer na praia, como um recente, quando um carro ficou parado no local por três dias, com fogão e geladeira e não queriam ir embora, porque ‘estavam em via pública’.
“Outra questão, que o Página 3 noticiou inclusive, são os gatos. Somente em uma pousada há 50. Eles se reproduzem, criam na restinga, na mata, e permanecem porque a população alimenta.
Fora o problema de energia elétrica, quando venta e chove muito, ficamos sem energia – e não é 15 minutos, são várias horas. Relatamos para a Celesc, mas não resolvem.
Também pedimos por mais transporte público, hoje os moradores se combinam entre eles para dividir Uber, porque a média, durante o dia, é R$ 25 para o Centro. Precisam resolver o problema, usar micro-ônibus, ônibus elétrico, porque hoje se tem quatro ou cinco linhas de ônibus é muito”, afirmou.
Cristina denunciou ainda que a restinga está começando a ficar comprometida, porque estão a usando para práticas sexuais, consumo de drogas e para fazer necessidades.
“Para preservá-la, tem que isolar, colocar cerca e fazer vigilância constante. Em 2018, fiz um projeto na escola de Taquaras com placas de madeira de conscientização, e na época deu muito resultado. Hoje está complicado, porque estão passando pelo meio da restinga e danificando-a. Algo precisa ser feito, precisam colocar placas, porque grava na cabeça”, acrescentou.
A moradora cita outra conquista, a pracinha do bairro, mas que precisam que a prefeitura instale bancos, mesas, mais iluminação e uma academia.
“É um local tão bonito, mas hoje não tem nada. Fica na esquina da Rua Flamboyant com a Alameda das Acácias. Temos feito ali os encontros com a comunidade e tem sido maravilhoso. Poderíamos trabalhar ali com as crianças sobre a Bandeira Azul, com educação ambiental”, completou.
Veterinária pede sinalização para animais na pista: atropelamentos são frequentes
A veterinária Mari Angela Couto, que também é moradora de Taquaras, repassou ao jornal uma demanda diferente: em abril deste ano, ela falou com vereadores mirins, que levaram para a Câmara de Vereadores a ideia de colocar em toda a Rodovia Interpraias placas sobre a presença de animais silvestres, porque seriam comuns atropelamentos de bichos no local (como capivara, cachorro do mato, lagarto, porco-espinho, gambá, etc. Segundo ela, não tem nenhuma sinalização alertando os motoristas sobre a presença de animais silvestres na pista.
“Tivemos um acidente muito feio no inverno, no Estaleiro, quando um ônibus ou um carro grande atropelou quatro ou cinco capivaras, que ficaram ali agonizando e foi bem chocante. Tenho também foto de um cachorro do mato (que ilustra esta matéria), levei a demanda aos vereadores mirins, mas não houve nenhuma resposta. Vejo atropelamentos todos os dias, fora de cães e gatos. Não tem nenhum redutor de velocidade no Interpraias, as pessoas acabam passando por cima mesmo, e à noite, mesmo com a iluminação pública, há pontos falhos, com pouca iluminação, e as pessoas não sabem que esses animais podem estar atravessando na pista. Precisa ‘pra ontem’ essas placas, porque esses animais morrem todos os dias”, disse.