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Balneário Camboriú
Dalton Delfini Maziero
Dalton Delfini Maziero
Historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima.
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A MISTERIOSA CIVILIZAÇÃO DE BAGUÁ

A América do Sul se apresenta como um repositório interminável de mistérios arqueológicos. Em especial a Cordilheira dos Andes, quando encontra com a floresta Amazônica (centro norte do Peru), oferece uma região ainda desprovida de estudos, devido ao seu clima agressivo e as dificuldades em conduzir projetos de exploração. Os vestígios arqueológicos encontrados nessa área, apontam para um possível relacionamento cultural e econômico com os povos da floresta brasileira, equatoriana e colombiana, mostrando que nosso continente estava interligado por rotas e caminhos que uniam as antigas culturas.

Em 2012, nas proximidades da cidade de Baguá (sítio arqueológico de Las Juntas – norte do Peru), fora descoberta uma pintura mural com decorações geométricas de cerca de 1.200 aC, em plena selva peruana. As pinturas estão executadas sobre um muro de 2,20 metros, cercados de pilastras. As cores utilizadas foram o branco, vermelho, amarelo e negro, e só não desapareceram na humidade da floresta por estarem cobertas por uma grossa camada de argila impermeabilizante. Tudo indica que o trabalho fazia parte de um templo retangular de aproximadamente 40m², pertencente a cultura denominada genericamente de Baguá. Segundo o arqueólogo Quirino Olivera Núñez – responsável na época pelas escavações e descobridor de mais de 50 sítios do Período Formativo –, aquela foi uma evidência incontestável que a floresta abrigava indícios de civilizações sofisticadas, de alta capacidade técnica. Como a região ainda é pouco estudada – e existem poucos sítios arqueológicos que podem ser associados a um mesmo estilo de cerâmica –, o termo Baguá é utilizado de modo genérico para os grupos que ocuparam a área, por um longo período histórico anterior aos Incas.   

Agora, 11 anos após a descoberta da pintura mural, novas evidências surgem reforçando a importância deste povo ainda desconhecido. A maior dificuldade em se estudar a região está nas chuvas torrenciais que assolam o terreno, e que delimitam o período de seca, quando geralmente ocorrem as escavações. O arqueólogo Júlio C. Tello afirmou em décadas passadas, que a gênese da civilização andina seria encontrada no interior da floresta. Frente a descoberta de Caral (3 mil aC), o eixo originário das civilizações andinas caminhou para seus vales centrais, próximo ao deserto costeiro. Contudo, Baguá apresenta-se como uma região promissora que pode constituir um foco de irradiação cultural entre a floresta e o litoral norte.

Atualmente, o arqueólogo Daniel Castillo Benítez – que conta com o apoio da Universidad Toribio Rodríguez de Mendoza –, sabedor dos cuidados que o povo campesino da região dedica ao seu patrimônio arqueológico, resolveu investir em escavar abaixo de um campo de futebol, que era delimitado por uma fileira de pedras lavradas. Com isso, tentava jogar um pouco mais de luz sobre Baguá e sua civilização.  

O resultado de seus estudos foi a descoberta de uma camada de cerâmicas que apontou a data de ocupação entre 1.300-200 aC – cerca de 2 mil fragmentos foram encontrados – além de vestígios de um forno e uma tumba coletiva. O forno apresentou restos de carne de veados e camelídeos selvagens; e a tumba mostrou ser um local de muita importância por possuir um lacre para o fosso (sepultura) e a junção de 11 crâneos, entre eles o de uma mulher. A cerâmica encontrada apresenta semelhança com as culturas de Chavín de Huántar e Cupisnique.

Ainda é cedo para afirmar a proporção e real importância do antigo povo Baguá, se eles possuíam cidades e templos ou mesmo se estabeleciam um contato permanente com os povos da floresta. A única coisa certa no momento, é que na chegada da civilização Inca à região, os Baguás já haviam declinado e desaparecidos. 
Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (https://clubedeautores.com.br/livros/autores/dalton-delfini-maziero)

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