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Balneário Camboriú
Dalton Delfini Maziero
Dalton Delfini Maziero
Historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima.
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Os papagaios mumificados do Atacama

Quando falamos em mumificação, a primeira referência que nos surge a mente vem do Egito, de suas mundialmente famosas múmias humanas. Contudo, esse universo do preparo para o pós vida é muito mais amplo. Vários povos do mundo praticaram a mumificação, com maior ou menor sucesso, inclusive na América pré-colombiana. Por aqui, são notáveis as múmias do povo Chinchorro – encontradas no norte chileno – em pleno deserto do Atacama, um dos locais mais secos do planeta. Sua antiguidade supera às existentes no antigo Egito, pois foram localizadas evidências desse procedimento há cerca de 7 mil anos.

Contudo, as comunidades desérticas do Atacama nos legaram mais que suas preciosas múmias humanas, forradas de cinza e palha seca. Recentemente, arqueólogos encontraram papagaios e araras mumificados em sepulturas, juntamente com penas coloridas preservadas em recipientes de couro. O fato de existirem animais mumificados não é novidade. No próprio Egito foram encontrados gatos e jacarés neste estado. Mas encontrar papagaios e araras fora de seu habitat natural, em pleno deserto; isso sim possui um significado.

José M. Capriles – professor de antropologia e arqueologia da Universidade Estadual da Pensilvânia, EUA – afirma que as penas coloridas foram símbolo de status social entre os povos das Américas. Da mesma forma que a concha spondylus, as penas de pássaros exóticos já foram localizadas em sepultamentos em terras que não pertenciam ao seu território. Ele ainda completa que “o fato de pássaros vivos atravessarem os Andes com mais de 3 mil metros de altitude é incrível, pois eles tinham que ser transportados através de enormes estepes, clima frio e terrenos de difícil acesso até o Atacama. E tinham que ser mantidos vivos durante o trajeto”.

A descoberta reforça a ideia que a região andina – de certo modo grande parte da América do Sul – era percorrida por caravanas de lhamas que interligavam os diversos pisos ecológicos desde o litoral desértico, altas montanhas, platôs – como o do lago Titicaca – e terras baixas que incluem as florestas tropicais. Esse eficiente sistema de comércio no passado, era capaz de transportar pássaros exóticos, além de diversos produtos para os povos americanos, como plantas as mais variadas, conchas, metais e folhas de coca.

Os arqueólogos não sabem ainda o motivo exato da mumificação de araras e papagaios, mas sua datação indica um uso intenso entre 1000 e 1450 dC., ou seja, durante o império Tiwanaku e Wari, decaindo após a chegada dos Incas. Muitas das múmias desses animais foram tratadas com as asas abertas, como se a intenção fosse “congelar” aquela que era sua habilidade natural, o voo. Alguns dos pássaros foram identificados como araras-vermelhas, e seu mapeamento biológico aponta para a região leste da floresta amazônica. A maior parte das amostras de pássaros mumificados foi encontrada no sítio arqueológico Pica 8, nas proximidades da atual cidade de Iquique.

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (https://clubedeautores.com.br/livros/autores/dalton-delfini-maziero)

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