Joguei muita pelada no campinho da fábrica de tecidos Tecita, ali na rua Uruguai, área central de Itajaí. Lembro daquele divertimento quase diário que empolgava minhas tardes de uma saborosa infância que já não mais existe nos dias atuais. A urbanização da cidade baniu os espaços destinados ao lúdico e às prazerosas brincadeiras ao ar livre.
Saudade dos amigos Calir, Ademir, Aliomar, Arninho, Maurício, Camarão, Natinho, Veco, Dico, Barreto, Xande, Lincoln, Dionísio Veiga, Lúcio Botelho (que chegou ao cargo de reitor da UFSC) e vários outros que, naquele campinho, disputávamos aguerridas partidas de futebol, pés descalços e tendo como única testemunha a natureza ainda exuberante daqueles anos 60.
Todos seguiram seu caminho e, deles, agora pouco sei. A vida é assim mesmo: alguns permanecem no seu cotidiano como amigos inseparáveis, mas a maioria acaba se distanciando por força do ofício e de oportunidades que surgem em outras paragens, muitas vezes longínquas.
Devia ter uns 11 ou 12 anos de idade. E também fiquei meio assombrado quando, já falida e abandonada, entrei com um amiguinho nas instalações da fábrica de tecidos, a Tecita. Parecia algo surreal, com linhas e grandes carretéis espalhados por todo o lado, formando teias que se misturavam à fiação elétrica e ao aspecto tenebroso das máquinas de tecelagem já em processo de deterioração.
Mas, que legal! Com os enormes carretéis de linha soltei muita pandorga por aí. Era muita linha e as pandorgas se perdiam no céu, estimulando a imaginação de lugares mágicos e inatingíveis. Mas, cá dentro d’alma, o sentimento era de que realmente estava eu lá, junto com a pandorga, naquela astronômica distância, alcançando estrelas e planetas, numa viagem ao infinito desconhecido!!
O espólio da extinta fábrica de tecidos ainda excita os meus pensamentos, que teimam em retornar àqueles velhos e bons tempos!