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Balneário Camboriú
Marisa Zanoni Fernandes
Marisa Zanoni Fernandes
Ex-vereadora em Balneário Camboriú, é doutora em educação e professora universitária.
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El Niño ancestral

É primavera, e o final de tarde vem com a sensação de regeneração.

A influência do El Niño é visível na atmosfera e dentro de mim. Chuva forte, calor intenso, vento, tempestades e alterações de potência inegável. Saio, nesse clima, para mais um compromisso voluntário e necessário! Encontro um amigo que nunca passa indelével, logo penso: seria ele o próprio El Niño?

O abraço, o sorriso de longos dentes, o olho que conversa e a inteligência que aflora. O jeito um tanto tímido com aquela voz que parece ter raízes pelo corpo inteiro. A roupa e os adereços indicam a fé, a ancestralidade presente, respeitada, visualizada. Como aquele El Niño, ele provoca olhar mais humanamente para as umbilicalidades, para as teias da vida que formam verdadeiros templos de conhecimento e de abrigamento para nossas inquietudes. Porque são delas — as inquietudes —, que falamos.

Logo então, vem ele com possiblidades e, para isso, recorre aos Vikings e suas estratégias de guerras e conquistas. Eu de pronto fico curiosa porque é sobre o papel das mulheres desses povos que sempre me interessei; particularmente, pela autonomia, liberdade e protagonismo feminino praticado de modo muito diferente de outros povos da época. Meu amigo relata que os Vikings, ao descobrir uma nova terra, se aproximavam de botes e ateavam fogo nos seus barcos. Olhavam para trás e viam o passado queimando. Nessa situação, havia apenas uma alternativa – enfrentar os medos e o novo ambiente com toda determinação e força que a nova realidade exigia.

Bem, nesse viés, meu amigo, como o próprio El Niño, convoca a ‘queimar o barco’, seguir em frente com determinação e desapego às coisas que não podemos mudar ou até mesmo carregar. Um exercício sem dúvida difícil, pois às vezes são tantas as tempestades e tantos os barcos que navegam à deriva, que, para abandoná-los ou queimá-los, é preciso ver horizontes. Compreendo também que as tempestades podem nos levar a algum caminho desconhecido e que o ‘perder-se’ pode se transformar num ‘achar-se’, como na canção de Chico César: “Caminho se conhece andando/Então vez em quando é bom se perder”.”

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