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FRANÇOIS L’OLONNAIS – A MALDIÇÃO ESPANHOLA

Dalton Delfini Maziero
Dalton Delfini Maziero
Historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima.
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Poucos piratas na história possuem uma fama e imagem tão ameaçadora quanto o francês François L’olonnais. Sua vida é cheia de lacunas pela falta de documentos originais sobre suas ações, mas encontramos o suficiente para recompor a trajetória devastadora de sua vida.

Segundo Alexandre Exquemelin – pirata e escritor francês que em 1684 nos legou a obra “De Americaensche Zee-Roovers” (Bucaneiros das Américas) – L’olonnais teria nascido na comuna francesa de Les Sables-d’Olonne por volta de 1630. Com cerca de 20 anos de idade, encontramos o futuro pirata na posição de escravizado caribenho, dedicado a plantação de tabaco e cana de açúcar. Naquela época, era comum um trato entre pessoas e donos de fazenda para trabalhos temporários na situação de escravizado, como forma de pagar dívidas ou mesmo em troca de uma passagem marítima de longa distância. Em poucos anos L’olonnais obteve sua alforria e chegou a Ilha de Hispaniola (atual Haiti/República Dominicana) onde se juntou a um grupo de bucaneiros.

L’olonnais parecia determinado a enriquecer rápido às custas do ouro espanhol. Seu ódio era bastante conhecido entre os companheiros piratas, assim como sua jura de combater a todo custo os então dominadores das Américas. Talvez pela sua situação de escravizado ou pela ansiedade de vencer na vida, suas ações eram extremas e radicais. Em poucos anos, já era um dos principais alvos das autoridades espanholas. Certa vez, o pirata naufragou nas águas de Campeche (México) quando tentava fugir de uma esquadra espanhola. L’olonnais pressentindo a derrota, cobriu-se de sangue entre os morto e assim conseguiu ludibriar os soldados espanhóis. Quando se viu longe do perigo, rumou até Tortuga (norte do Haiti) fazendo alguns reféns para obter resgate das autoridades de Havana. A esta altura, L’olonnais já havia organizado uma nova equipe de piratas; e quando um navio enviado pelo governador de Havana chegou à ilha para capturar o pirata, este o tomou de surpresa e decapitou toda sua tripulação, enviando apenas um marinheiro para contar a história.

Com a fama de implacável cada vez maior, conseguiu em 1667 organizar uma frota de oito navios e 600 homens para atacar Maracaibo, na atual Venezuela, em parceria com o também pirata Michael Basco. No caminho, um infeliz galeão espanhol que trazia tesouros da América foi capturado. Entre as riquezas encontrava-se ouro, moedas, pedras preciosas e um carregamento de cacau. A sorte de L’olonnais parecia não ter fim e logo em seguida conseguiu invadir a fortaleza de Maracaibo, considerada até então imbatível, atacando-a por terra. Desta forma, além de sua violência no trato com os capturados, o pirata também foi reconhecido como hábil estrategista. No embate, os espanhóis perderam cerca de 500 soldados e viram o bando de piratas barbarizarem Maracaibo por dois meses. Eles explodiram parte da “imbatível” fortaleza que protegia a cidade e passaram boa parte do tempo capturando moradores que haviam fugido para a floresta com suas riquezas pessoais, torturando-os e violentando-os. Entre as técnicas de tortura descritas estavam queimar os prisioneiros vivos, amputar partes do corpo com golpes de espada e aplicar o “woolding”, que se resumia em amarrar e torcer uma corda na cabeça do cativo, até que seus olhos pulassem da órbita. 

Sabemos que muitos piratas costumavam exagerar em suas ações para criar uma imagem aterradora de sua própria pessoa. Isso atraía o ódio dos espanhóis contra ele, mas também ajudava a angariar adeptos às suas empreitadas e facilitava as coisas em caso de pedido de resgates, pois as autoridades sabiam que ele não blefava. 

Após incendiar Maracaibo, L’olonnais ainda atacou a cidade de Santo Antônio de Gibraltar (Venezuela), onde obteve um enorme resgate para não destruir a cidade, mas mesmo assim o fez. E os danos foram tão enormes que Gibraltar quase deixou de existir por ter sua exportação de cacau interrompida de forma tão brutal. Além do resgate em dinheiro, L’olonnais e seus homens roubaram cargas de cacau, sedas, ouro, joias e moedas de prata da população. Devido a violência de seus ataques, ficou conhecido como “Fléau des Espagnols” (Maldição ou Desgraça dos Espanhóis). E apesar de tudo, o pirata nunca foi capturado pelas autoridades.

Seu destino final ocorreu ainda em 1667. Após capturar outra cidade venezuelana (Puerto Cabello), L’olonnais foi emboscado por soldados espanhóis. Grande parte de sua tripulação foi morta, outra parte o abandonou em busca de um novo capitão. Com uma equipe reduzida, foi obrigado a fugir com alguns reféns pela região de Darién (Panamá), conhecida pelas suas densas florestas e bancos de areia em sua costa. Exquemelin nos relata que, pressionando os reféns espanhóis para lhe arrumarem um caminho de fuga, chegou a arrancar o coração de um deles, mordendo-o e ameaçando os sobreviventes que lhes aconteceria o mesmo se não o ajudassem a fugir. Devemos ver esta cena com certa restrição e lembrar que Exquemelin escreveu seu relato quase 20 anos após os acontecimentos. 

L’olonnais naufragou nos bancos de areia de Darién, e sem muitas alternativas, adentrou a floresta em busca de alimento e água fresca. E ali encontrou seu fim, se assim podemos acreditar, capturado pelos nativos canibais da tribo Kuna. L’olonnais e seus companheiros piratas foram então devorados pela tribo, que “vingaram” de modo indireto, todos os males que esse temível pirata realizou em vida. 
Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (https://clubedeautores.com.br/livros/autores/dalton-delfini-maziero)

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