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Balneário Camboriú
Dalton Delfini Maziero
Dalton Delfini Maziero
Historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima.
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O MISTÉRIO DO MARY CELESTE

O enigma do bergantim Mary Celeste povoa a imaginação daqueles que se atraem pelas história do mar. O caso foi registrado em 1872 e “classificado” posteriormente dentro do subgênero “navios malditos” ou “navios fantasmas”. Ainda hoje não existe uma resposta convincente e esclarecedora para os acontecimentos que se seguem.

Tudo começou em novembro de 1872. Naquela época, o Mary Celeste estava ancorado no porto de New York, recebendo a carga de 1700 barris de álcool avaliados em 42 mil dólares, que deveriam ser transportados até a Itália, no porto de Gênova. O barco tinha 31 metros de comprimento e 286 toneladas. O comando deste belo navio estava a cargo do Capitão Benjamin S. Briggs, então com 37 anos e conhecido por ser um fervoroso religioso e abstêmio convicto. O restante da tripulação era composto por sete marinheiros, a esposa do capitão (Sarah E. Briggs) e sua filhinha (Sophia) de apenas dois anos. Ancorado junto ao Mary Celeste estava outro navio semelhante que faria a mesma rota de nome Dei Gratia; cujo capitão David R. Morehouse era conhecido de Briggs. 

Contudo, no dia 4 de dezembro de 1872, a fragata Dei Gratia avistou um bergantim nas proximidades de Portugal, ziguezagueando no mar de forma estranha. O barco estava mais precisamente a 350 milhas a leste dos Açores. O capitão Morehouse deu ordem para a aproximação e, com um binóculo, verificou tratar-se do Mary Celeste, navio seu conhecido. Com um megafone, perguntou se estavam em dificuldades, mas notou que nada se mexia no convés do navio. O silêncio reinava absoluto. A abordagem tornou-se inevitável e a tripulação de Morehouse de fato encontrou a escuna deserta. Não havia ninguém a bordo, nem sinal claro de luta muito menos manchas de sangue visíveis. A carga do Mary Celeste estava praticamente intacta – com exceção de nove barris secos – e tanto as joias da esposa do capitão Briggs, quanto outros pertences de valor encontravam-se em seus lugares. A despensa estava cheia de comida, mas os imediatos relataram uma desordem nas cabinas e a falta dos aparelhos de navegação. Também encontraram a escotilha da popa aberta, restos de comida na mesa (como se tivessem abandonado tudo às pressas) e deram pela falta de um dos botes salva-vidas. O diário de bordo estava em seu lugar e anotava a data de 25 de novembro. Não havia nele, nenhuma referência de anormalidade. Desta forma, seja o que for que ocorrera de grave, havia acontecido no prazo de apenas nove dias passados. 

Diante dos estranhos incidentes, Morehouse decidiu rebocar o Mary Celeste até o porto de Gibraltar e pedir uma indenização pelo navio. Segundo as leis de época, como a escuna estava vazia de tripulação e navegando sem rumo, era considerada um “destroço”, e assim, aquele que a encontrasse poderia solicitar um prêmio de salvamento. Naturalmente que os procuradores estranharam o fato de justamente Morehouse ter encontrado o barco de seu conhecido no mar; e então algumas acusações e desconfianças surgiram. Teriam os tripulantes do Dei Gratia assassinado a tripulação do Mary Celeste? Ou na verdade ambas tripulações haviam armado um golpe para levantar o dinheiro do seguro do navio, simulando o desaparecimento de todos de forma misteriosa? Os jornais na época fizeram do Mary Celeste a coqueluche do momento e o caso ganhou muita notoriedade. O Tribunal do Almirantado Britânico, diante da repercussão do caso, não viu outra alternativa a não ser aprofundar a investigação. O navio foi examinado novamente, agora pelas autoridades. Verificou-se que o casco estava em bom estado; e foi descoberta uma mancha de sangue em uma espada enferrujada, assim como a marca de um golpe de machado (ou espada) na roda de proa. Mas por fim o caso foi inconclusivo e Morehouse recebeu uma indenização de 8 mil dólares, mais ou menos uma sexta parte do valor da embarcação capturada. 

Mas a esta altura dos acontecimentos, o enigma do Mary Celeste já havia ganho o gosto popular e inúmeras teorias surgiram na tentativa de explicar o caso. Novos dados foram acrescidos na história, como o que relata a descoberta de uma galinha a cozer no fogão e um bule de chá ainda quente na mesa da cozinha. Outros diziam que a escuna havia colidido com um monstro marinho e que a tripulação em pânico fugira no bote salva-vidas. Os jornais também especularam sobre combustão espontânea dos corpos, ataque por piratas mouros, envenenamento pelo cozinheiro do barco, uma epidemia que teria enlouquecido a tripulação, uma abdução alienígena e, até mesmo, que a tripulação embriagada havia matado Briggs e sua família. Arrependidos depois de sóbrios, jogaram os corpos no mar e abandonaram o navio no bote salva-vidas. Outra hipótese especulada na época foi a de que parte do álcool transportado havia se evaporado no porão, causando uma explosão dos gases quando aberta a porta de acesso. Por precaução e com medo de uma explosão iminente da carga, todos correram para o bote salva-vidas, mas sem conseguirem retornar ao navio, ficaram à deriva até morrerem de fome ou naufragados. Contudo, nada disso foi provado. 

Hoje, admite-se que a condução das investigações na época comprometera muitas provas que poderiam ter solucionado o caso. Tudo foi conduzido de modo bastante amador e nada científico. De fato, não havia investigação forense ou perícia criminal. Para finalizar – ou sepultar qualquer possibilidade de investigação –, o Mary Celeste foi propositadamente afundado no recife de coral de Rochelais (Haiti) pelo seu novo proprietário em janeiro de 1885, Gilman C. Parker, na vã tentativa de receber um seguro naval fraudulento. Em 2001, uma expedição liderada pelo escritor Clive Cussler afirmou ter descoberto os restos do Mary Celeste. Seja como for, ninguém espera que novas evidências surjam para desvendar este que é, um dos maiores mistérios navais da história. 

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (clique aqui) 
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