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Balneário Camboriú

Arte urbana inova com pintura anamórfica e ganha espaço em Balneário Camboriú

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As artes urbanas que embelezam os muros e também prédios e praças de Balneário Camboriú foram tema da live ‘Intervenção Artística no Espaço Urbano’, transmitida na quinta-feira (22), diretamente do Beco do Brooklyn, local emblemático da cidade que foi revitalizado recentemente.
Apesar de ganhar cada vez mais espaço na cidade, de forma mais intensa nos últimos anos, a arte urbana tem história em Balneário desde os anos 90, com concursos onde artistas pintaram tapumes, muros e postes pelo município…

Porém, como a arte urbana é muito plural, há novidade: a arte anamórfica, do artista Fernando dos Santos Cardoso, o Nando, na Praça da Cultura (conhecida também como Praça da Bíblia). Esta arte da ‘metamorfose’ vem chamando muita atenção de todos que passam pelo local porque literalmente muda conforme o local de onde cada pessoa a vê. A novidade também foi debatida na live de quinta-feira.

O Página 3 ouviu a diretora de Artes da Fundação Cultural, Lilian Martins, que é artista e coloriu por Balneário entre os anos 90 e 2000 e também Nando, referência atual no muralismo e agora com a arte anamórfica. Confira.

Live ‘Intervenção Artística no Espaço Urbano’

(foto Ivan Rupp e Fundação Cultural)
(foto Ivan Rupp e Fundação Cultural)
(foto Ivan Rupp e Fundação Cultural)

A live foi transmitida do Beco do Brooklyn, na Rua 1.100, local que já foi considerado marginalizado, onde ocorreram crimes e concentravam-se usuários de drogas. Foi exatamente nesse contexto que artistas se uniram através do projeto Open Street Gallery, que visa tornar Balneário uma grande galeria de arte urbana a céu aberto (saiba mais aqui, em reportagem especial feita em maio pelo Página 3) e revitalizaram o Beco.

Participaram da live, junto com o prefeito Fabrício Oliveira, a presidente da Fundação Cultural de Balneário, Denize Leite, a diretora de Artes, Lilian Martins, os artistas Marcelo Urizar (responsável pelo painel da Avenida Panorâmica), Fernando dos Santos Cardoso (Nando) – que fez a pintura anamórfica na Praça da Cultura e os idealizadores do Open Street Gallery, Murilo Trevizol e Sammer Othman.

Os artistas falaram sobre as artes em diversos muros e prédios da cidade como a Praça da Cultura, Avenida Panorâmica e Bairro da Barra. O Open Street Gallery trabalha para democratizar a arte, remunerar artistas urbanos e estimular que cidades sejam mais criativas, bonitas e expressivas.

Nando destaca a história do Beco e a transformação cultural que ele vivenciou.

Nando pintou um dos muros do Beco do Brooklyn (foto Urbansisters)

“Através dele há muitas histórias, desde de moradores de rua, como de empresários, juízes, promotores e médicos que vivem na vizinhança. O trabalho na revitalização permitiu estarmos perto de todas essas pessoas. O Beco possui um histórico pesado, mas nos motivamos em fazer algo para melhorá-lo. A arte pode melhorar muitos outros lugares de Balneário ainda. Acreditamos muito na força das pessoas do bem, que trabalham pelo coletivo”, explica.


Arte urbana nos anos 90 …

Lilian pintou diversos tapumes, muros e postes de Balneário entre os anos 90 e 2000. Na foto com a artista Lígia Spernau (foto Arquivo pessoal)
Hoje Lilian é Diretora de Artes da FCBC e acompanha de perto o desenvolvimento da arte urbana em Balneário (foto Arquivo Pessoal)

A diretora de Artes da FCBC, Lilian Martins, é artista e nos anos 90 fez algumas intervenções de pintura em tapumes de prédios em construção (edifício Maison de Ville e Leonardo da Vinci), em Balneário, utilizando a técnica da pintura anamórfica, que ‘muda’ de acordo com o olhar/posição onde a pessoa está.

“Na mesma época havia o Adriano Maier que trabalhava com aerógrafo, um trabalho muito bom. Já quase nos anos 2000, a Secretaria de Educação promoveu alguns encontros com artistas, arte-educadores e alunos da rede, onde pintamos postes de luz da Quinta Avenida, quem foi a responsável pelo projeto foi a Roseli Amaral”, relembra.
Em paralelo a isso, a diretora aproveita para citar a chegada do grafite – arte urbana que colore muitos muros de Balneário.

O grafite é um movimento de manifestação que surgiu nos anos 1970, nos EUA. No Brasil foi nos anos 1980 que chegou, mas em Balneário, segundo Lilian, o movimento foi diferente: não era arte de protesto, e sim com o objetivo de promover a arte no contexto urbano.

“Nos anos 2000, o então Departamento de Cultura de BC promoveu ações num movimento chamado ‘Cidade Cor – Intervenções Artísticas em Tapumes’, com muitos artistas de Balneário participando: a Fabi Loos (que é colunista do Página 3), o Cezar Silveira, a Lígia, eu, arte-educadores. Fizemos intervenções na Barra Norte, na Rua 10, nos tapumes da reforma da Biblioteca Pública em 2006. Na época, as construtoras não tinham por hábito colocar tapumes bem acabados, eram aqueles madeirites cor-de-rosa, então, vimos uma oportunidade de qualificar um pouco a paisagem”, conta.

O movimento teve bastante destaque e chamou a atenção da Univali, que fez o concurso Muro da Arte da Univali, e Balneário emplacou os prêmios: Evelina Carrajola com o 1º lugar, Roberto Carlos em 2º, Lilian em 3º lugar, e o Adriano Maier como menção honrosa.


Movimento positivo

Lilian diz que Balneário sempre foi uma cidade propícia à criatividade e inovação, por isso o movimento artístico por aqui é muito positivo e que o que vemos hoje com os grandes painéis, é resultado de uma cidade com ‘muito tema’ no repertório e artistas com muito talento e trabalho.

“A FCBC tem trabalhado na catalogação de manifestações artísticas ao ar livre: grafites, obras de arte nos espaços públicos e jardins de prédios. Estamos com um fotógrafo e uma estagiária de museologia trabalhando nisso. Explorar a cidade como um museu de arte a céu aberto. Algumas obras de arte já estão no Roteiro Cultural da AMFRI, e, em conjunto com a Secretaria de Turismo, inserir as obras no INVTUR – Inventário de Oferta Turística (que consiste no levantamento, identificação e registro dos atrativos turísticos, dos serviços e equipamentos turísticos e da infraestrutura de apoio ao turismo como instrumento base de informações para fins de planejamento, gestão e promoção da atividade turística, possibilitando a definição de prioridades para os recursos disponíveis e o incentivo ao turismo sustentável), já que nosso acervo é de qualidade para se tornar um atrativo turístico, como em outros lugares, nos cabe esse papel.”, acrescenta.


… Nando é pioneiro na modalidade em Balneário

A pintura anamórfica de Nando chama atenção e se transforma conforme de onde a pessoa olha (foto FCBC)

A mais nova pintura artística da Praça da Cultura foi feita pelo artista Fernando dos Santos Cardoso, o Nando, que é pioneiro na pintura anamórfica em Balneário Camboriú e que está em um dos muros da praça. Ela foi concluída na última semana. Nando executou o trabalho após ser selecionado pelo edital de credenciamento de artistas aberto anualmente pela Fundação Cultural de Balneário Camboriú – inclusive o edital de credenciamento/2021 está aberto e segue até o próximo dia 9 (saiba mais aqui).

“A anamórfica é uma técnica, que existe por conta do plano em que ela foi pintada. Não é somente uma pintura na parede, ela se forma do chão para a parede, mas não é regra. O objetivo é conseguir fazer que ela ‘se transforme’ de acordo com o ponto onde as pessoas estão. Dependendo do local, ela muda, e então a pessoa terá a dimensão da obra. Anamórfica vem de metamorfose, ela muda conforme o olhar de cada pessoa. Muitos artistas veem somente o muro e eu encontrei valor para o chão também”, explica Nando.

O artista, que começou no grafite (grafitando por ‘décadas’, segundo ele), hoje se vê como artista plástico e produtor cultural. Nando também ministra palestra, dá aulas e oficinas – como na Univali, quando é chamado pelos cursos de Design, por exemplo, para falar de técnicas como aquarela, grafite anamórfica e tipografia urbana.

“Eu sou professor de Artes Visuais, e a anamórfica exige estudo, conhecimento. Eu busco no design, sou designer formado, algumas resoluções de problemas. Não me vejo mais usando só de técnicas convencionais, busco o diferente. A minha ideia inicial era só uma pintura na parede, mas procurei me desprender, indo então para a arte conceitual moderna e me encontrando na anamórfica, que foi a primeira dessa modalidade na cidade, com característica de arte conceitual e moderna, que é o que eu gosto”, diz.


Balneário tem espaço para todos

Nando participou de diversos projetos artísticos pela cidade, incluindo a pintura do Teatro Bruno Nitz )foto Arquivo pessoal)

Nando é uma das ‘mentes’ por trás do projeto Open Street Gallery, ele aponta que Balneário é uma cidade plural, com pessoas de todos os lugares – incluindo ele, que saiu da periferia de São Paulo (Diadema) e hoje está aqui.

“Cada uma tem bagagem, identidade, valores, referências visuais… um livro pode mudar a sua visão política, por exemplo, e você pode expressar isso na rua, no meio da comunicação urbana, com o grafite, com os murais”, opina.


“Arte pode unir, mover, transformar”

Nando e sua pintura anamórfica, ele defende que o chão também precisa ser valorizado pelos artistas (Arquivo pessoal)

Nando já conseguiu espalhar sua arte por muitos locais da cidade, inclusive colaborando com outros artistas, como Tom Veiga, com quem pintou o Teatro Municipal Bruno Nitz e a Passarela da Barra.

“Dessa forma estamos fomentando a cultura de maneira plural. Através da Open Street Gallery estamos tentando trazer artistas de fora e incentivando os daqui, descobrindo talentos. Queremos expor para a sociedade de Balneário o que uma galeria realmente tem – e não são várias obras do mesmo artista, tem espaço para todo mundo. A arte pode unir, mover e transformar. Com a Open, levantamos a bandeira do coletivo e tentamos trazer uma base mais didática, contando a história de Balneário. Eu sou designer, o Murilo (Trevisol, idealizador da Open) é arquiteto. Não queremos que os muros tenham desenhos aleatórios, queremos que tenham conteúdo, assim como já fizemos na Barra. Estamos contando histórias com os painéis, é Balneário ali”, pontua.


Praça da Cultura ganhou novas obras de arte neste ano

Mural de Gardpam, na Praça da Cultura.
Artista Vaso uniu pintura em prédio e muro, também na Praça da Cultura (Foto FCBC)

A Praça da Cultura, conhecida como Praça da Bíblia, foi ‘embelezada’ com duas outras pinturas artísticas neste ano. Em maio, a parede lateral de um prédio vizinho (Condomínio Residencial Mariner) ganhou o Mural do Conhecimento, com 30 metros de altura por nove metros de largura, do artista Eduardo Vaso – foi o primeiro ‘painel gigante’ em prédio a ser feito na cidade (saiba mais aqui, em reportagem especial feita em maio pelo Página 3)

Em junho, o grafiteiro Gardpam, com a participação de Nando, fez uma pintura mural no paredão da ala norte do local. Essa obra foi um presente do Condomínio Residencial Iguaçu. Ambas as obras fazem parte do projeto de arte urbana Open Street Gallery.

Texto: Renata Rutes

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