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Livro de Ariel Palacios detalha o ‘realismo mágico’ na história latino-americana

BUENOS AIRES – Do mesmo país cujo presidente clona seus cães e toma decisões baseado no tarô vêm histórias de uma primeira-dama cujo corpo foi sequestrado por militares e de seu marido, que teve as mãos amputadas e roubadas quando já estava no caixão.

É a Argentina de Javier Milei, Evita Perón e Juan Domingo Perón, respectivamente, um dos países analisados em um novo livro do jornalista Ariel Palacios, correspondente ali há quase três décadas. “América Latina Lado B” acaba de ser publicado pela Globo Livros.

São mais de 400 páginas que empacotam a pesquisa que Palacios vinha acumulando por anos em dois arquivos metálicos que contribuíram, na intimidade, para sua fama de acumulador de papéis.

Ele elenca aos leitores, na busca de sintetizar um trecho histórico de 200 anos, personagens, peripécias e causos no mínimo curiosos dos países da América Latina e do Caribe. Às vezes, são chocantes e soam bastante atuais.

No capítulo sobre a ilha de Hispaniola, onde fica a República Dominicana e o Haiti, por exemplo, o jornalista relembra como no Massacre da Salsinha, nos anos 1930, um ex-ditador dominicano deu ordens para o assassinato de dezenas de milhares de haitianos, num dos tantos episódios locais de xenofobia.

Isso em um momento no qual Santo Domingo constrói um muro para se separar de seu vizinho em colapso humanitário, deporta haitianos mesmo sob uma enxurrada de críticas de organismos internacionais e proíbe qualquer intercâmbio comercial com Porto Príncipe.

É difícil se dedicar às excentricidades latino-americanas e caribenhas sem cair no tradicional discurso do subdesenvolvimento regional, berço de muitos preconceitos. Sabendo disso, Palacios diz que um de seus objetivos era “evitar o clichê do cara com o sombrero”, a representação de muitos latino-americanos para o exterior.

O jornalista afirma que tinha também o anseio de mostrar aos leitores brasileiros que histórias absurdas não são exclusividade do país, mas também compartilhadas com a região.

Por falar em Brasil, há conexões diretas, como a história de um ex-ditador haitiano que, inspirado pela criação de Brasília, quis construir a sua própria cidade utópica e personalista. Não deu certo.

“Histórias assim também existem a granel na Europa”, diz ele, correspondente da Globonews e da rádio CBN. “Ocorre que vemos e sabemos em menor proporção, porque as instituições lá são mais sólidas, há mais equilíbrio entre os Poderes.”

Depois de tantos fatos históricos, ele prefere deixar como conclusão no livro a dúvida sobre qual será a América Latina das próximas gerações —se uma região menos corruptível e mais distante de autocratas ou um território que repetirá os vícios de sempre. A previsão fica a cargo do leitor.

AMÉRICA LATINA LADO B

– Preço R$ 59,90 (448 págs.); R$ 44,90 (ebook)

– Autoria Ariel Palacios

– Editora Globo Livros


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