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Balneário Camboriú
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Escultor Jorge Schröder de Balneário Camboriú homenageado com a Medalha Cruz e Sousa

“Sinto-me pleno e feliz”, disse o escultor gaúcho Jorge Schröder, radicado em Balneário Camboriú há mais de duas décadas e que na noite desta quarta-feira (24), recebeu a Medalha de Mérito Cultural Cruz e Sousa, em Florianópolis. 

Jorge e outros sete artistas foram agraciados com a honraria, criada em 1994, com o objetivo de reconhecer importantes ações realizadas pela cultura catarinense.

Ao longo de sua carreira, Jorge já perdeu a conta de quantas esculturas suas estão espalhadas em várias partes do mundo, mas acredita que sejam mais de 1300. 

Através do Instituto que leva seu nome, instalado no Bairro das Nações, onde expõe várias de suas obras, Jorge participa e promove encontros e exposições no país e no exterior. 

Um dos seus encontros mais conhecidos acontece no vizinho município de Camboriú, é o único no mundo em uma mina de mármore.

Quatro grandes parques do Instituto foram instalados em cidades catarinenses com quase 70 esculturas de artistas nacionais e internacionais.

Em Balneário Camboriú não deu certo. O conjunto de 28 esculturas instaladas no Parque Ecológico Raimundo Malta foi retirado dois anos depois, em novembro de 2019, por resistência dentro da Secretaria do Meio Ambiente. “Criou-se um clima de discórdia em que os incomodados se retiram”, comentou o escultor.

As esculturas hoje estão no Parque Malwee, em Jaraguá do Sul.

Depois deste episódio, aconteceu outro de forte impacto na vida do artista: a escultura ‘Cascata das Sereias’ foi retirada da praça na avenida do Estado em frente à antiga sede dos bombeiros, durante a obra de revitalização daquele espaço. O ‘chafariz’ foi inaugurado em dezembro de 1999 e o desmonte aconteceu em meados deste ano, sem sequer comunicar o autor.

Ele considerou a atitude uma afronta ao patrimônio cultural público.

“Enquanto em outras cidades se faz a restauração e preservação, aqui por vontades escusas, se deposita em um arquivo intermediário, uma espécie de lixo do Patrimônio, aquilo que é descartado temporariamente até se fazer  a eliminação definitiva”, lamentou Jorge.

Até hoje ele não entendeu se estes dois episódios (Esculturas no Parque Ecológico e Cascata das Sereias) envolvem alguma questão pessoal ou se é institucional mesmo. De coração partido, ele usa uma frase de Mário Quintana para ilustrar seu sentimento: ‘Eles passarão e eu passarinho…’

Acompanhe:

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Conselho Estadual da Cultura escolheu e homenageou oito artistas em Florianópolis (credito Divulgação)

JP3 – A medalha Cruz e Souza é um reconhecimento por iniciativas importantes na vida cultural de SC. Qual considera sua obra mais importante para a cultura catarinense até hoje?

JS – Acredito que não exista uma principal obra, mas o conjunto dela, penso que o reconhecimento se dá pela somatória de feitos, tantos os pessoais como os coletivos que realizo em prol da cultura e principalmente da escultura.

JP3 – A premiação foi uma surpresa?

JS – Sim, fui tomado de surpresa ao ser contactado pelo presidente do Conselho Estadual de Cultura, Luiz Ekke, inicialmente pensei até ser um trote…mas ao se apresentar e demonstrar a seriedade da informação, realmente me emocionou, afinal, não é este meu foco ao realizar as coisas, ser homenageado. Faço absolutamente o que acredito, tenho momentos de euforia e  de obstinação por estes propósitos da Cultura, vivo isto muito intensamente, talvez daí venha o olhar do conselho para me agraciar.

JP3 – Na área de Artes Visuais concorreu com quantas indicações? 

JS – Neste ano de 2021, somente a minha indicação, uma verdadeira surpresa, afinal temos tantos talentos.

JP3 – Qual foi a premiação mais importante em sua carreira até hoje?

JS – Esta comenda Cruz e Sousa está entre elas e de igual importância recebi no Museu Metropolitano em Buenos Aires- Argentina, a medalha de mérito pela “A la Trayetoria” de minha obra.  

JP3 – Como descobriu sua vocação para as artes?

JS – Muito cedo, na verdade não sei precisar se nasci para isto ou me tornei isto. É muito tênue este episódio temporal na minha vida, somente lembro que sempre fui muito criativo quando criança e jovem, bastante observador e com senso crítico elevado. Sempre fui contestador e um oportunista nas crises, inclusive nas criativas.

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“Sempre fui contestador e um oportunista nas crises, inclusive nas criativas”

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JP3 – Quando iniciou sua carreira? 

JS – A carreira de escultor profissional teve no meu entendimento a primeira exposição de meus trabalhos ao público em Cascavel no Paraná, em 1981; já realizava anteriormente desenhos e esculturas, mas algo esperado, amador, até vendia alguns trabalhos, mas no momento desta exposição percebi que minha trajetória estava traçada, ali se encontrava minha maneira de viver.     

JP3 – O foco sempre foi escultura ou já passou por outras artes?

Obra finalizada Thailand (Arquivo Pessoal)

JS – O desenho é uma prática que sempre fiz, dificilmente faço demonstrações dos mesmo, aliás no ano de 2019, na Univali com a curadoria da Professora Anne Fernandes, na exposição “Por Aí” foi exposto uma série de desenhos que acompanham a realização das esculturas. Sou bastante técnico na realização das obras, praticamente todas as esculturas tem na sua concepção o desenho, gosto de desenhar, visualizo a obra a cada traço, uma espécie de viagem conceptiva, difícil de explicar, mas vejo a obra escultórica pronta no risco da pena de nanquim.  

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“Vejo a obra escultórica pronta no risco da pena de nanquim”

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JP3 – Desde quando está vivendo em Balneário Camboriú? 

JS – Vivo em Balneário desde 1997, mas já vinha anteriormente atender alguns clientes regionais, vendendo esculturas, frequentando ateliers de colegas e criando laços de afinidade com a cidade. Muita coisa mudou desde aquela época e de algumas importantes mudanças participei com bastante empenho, inclusive a criação da Fundação de Cultura.

JP3 – Quando foi fundado o Instituto JS e qual o objetivo da sua criação? 

Recebendo Comenda – Universidade Bangkok (Arquivo Pessoal)

JS – O Instituto é um misto de necessidade acadêmica com a ideia de desenvolver ações mais formalizadas no fomento do fazer escultórico. A necessidade acadêmica veio de um curso que frequentei de Design Industrial na Univali, que  na sua conclusão existe a exigência do Estágio Obrigatório, não havia nenhuma empresa local conveniada na Universidade com as características de criação no sentido tridimensional e com características mais artísticas. E por outro lado o fomento do fazer, para isto era necessário um suporte mais forte capaz de  propor eventos, atividades e criação dos parques de esculturas pelo estado, que hoje já somam quatro grandes parques do Instituto em diferentes cidades de Santa Catarina com aproximadamente 70 esculturas de artistas nacionais e internacionais. Introduzimos com o Instituto a identificação das obras dos parques em Braile, para acessibilidade de pessoas com deficiência visual e temos o único encontro de escultores que ocorre em uma mina de mármore em atividade no mundo…aqui em Camboriú. Um diferencial que contribui muito na evolução da atividade.

JP3 – Qual a obra é a exposição  mais importante que já fez? 

Escultura Universo,em Harbin na China, 2018 (Arquivo Pessoal)

JS – Elencar uma única obra é um pouco estranho para mim, afinal me dedico muito a todas, mas tem uma escultura de nome “Universo” que inicialmente realizei em 2010 na capital  Resistência do Chaco Argentino, em um importante evento internacional de escultores  e que posteriormente foi requisitada a mesma concepção pelo Museu da Escultura de Thonge em Harbin na China , realizada lá em Metal em grandes dimensões em 2018. São a mesma criação, realizada  em distintos materiais para importantes Museus de arte em pontos equidistantes do mundo, isto na arte é uma espécie de  premiação, um reconhecimento de qualidade. Me deixa lisonjeado.

JP3 – Tem ideia de quantas esculturas já fez?

Execução da obra  Galkot, no Nepal (Arquivo Pessoal)

JS – Já tenho um número elevado de obras, certamente supera 1300 obras, já perdi a conta. Teve um tempo que contava, mas depois isto tornou-se sem valor para mim, um erro que cometo.  

JP3 – Onde o público pode conhecer suas obras?

Escultura em Granito Parque  Domadores de pedra – Bento Gonçalves (Arquivo Pessoal)

JS – Meu Atelier é aberto a visitações aqui em Balneário, no bairro das Nações e tenho obras em alguns parques de esculturas de Bento Gonçalves, no Parque Malwee e Pico Malwee em Jaraguá do Sul, na Vinícola Pericó, onde fiz uma coletânea de grandes obras e algumas obras em Balneário Camboriú  colocadas em locais públicos e privados.

“Vivemos uma certa inércia que às vezes vem à tona, vejamos o caso da retirada das esculturas que estavam no Parque Raimundo Malta”.

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JP3 – Qual a importância da medalha Cruz e Souza?

JS – A Comenda é uma importantíssima distinção cultural, que foi criada pelo Governo do Estado de Santa Catarina e é concedida a pessoas que tenham contribuído de modo eficaz para o enriquecimento artístico, histórico e/ou cultural do Estado. Foi o Conselho Estadual de Cultura que me escolheu para receber esta comenda. São as realizações em prol da Cultura, que na visão deste Conselho, me distinguem como pessoa que contribui de forma expressiva com o aprimoramento das ações públicas culturais no Estado. Pela homenagem que recebo com esta Comenda do Mérito Cultural Cruz e Sousa, sinto-me pleno e feliz.    

JP3 – SC reconhece seus artistas, valoriza a classe?

JS – Penso que sim, afinal até mesmo esta comenda é uma demonstração disto. O estado possui uma estrutura de Secretaria, Fundação e Museus, que são atendidos de forma considerável. São também lançados editais e ajudas financeiras aos promotores de cultura e artistas, mesmo não sendo algo muito expressivo é uma forma de disponibilizar apoio ao segmento. Temos aqui no estado excelentes artistas nas Artes Plásticas, alguns in memória que possuem obras relevantes ao patrimônio Artístico nacional, penso que o estado preza por isto e de certa forma evidencia este legado com preservação e incentivo, falo de Museus como o Vitor Meireles, MASC, etc…     

JP3 – BC tem quantas obras suas expostas?

A Cascata das Sereias foi retirada da praça 22 anos depois, sem qualquer aviso ao autor da obra. (Arquivo Pessoal)
O ‘desmonte’ não preservou o gabarito de montagem…(Arquivo Pessoal)
….e a obra de arte foi para um depósito.(Arquivo Pessoal)

JS -Tenho obras na cidade que foram feitas pelo Poder Público e algumas pela iniciativa privada, baseadas na lei de instalação de obras em edificações. Mas as mais importantes são em logradouros e vias públicas, nove obras ao total, ou melhor oito, pois uma foi removida, a “Cascata das Sereias”, retirada de forma técnica duvidosa e envolta por polêmica envolvendo religião. Uma pena que um patrimônio turístico cultural, tenha este fim, um depósito, penso que pela atual gestão da cultura e pelo administrador do município, permanecerá neste depósito como destino final, lamento tal posicionamento.   

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“Uma pena que um patrimônio turístico cultural, tenha este fim, um depósito”.

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JP3 – BC abriga grande número de artistas. A arte poderia ser mais um atrativo turístico. Como tornar isso possível?  

JS – Certamente, somos um potencial adormecido, tanto na cidade como na região, poderemos sim traduzir isto em turismo de negócios, como há exemplos no mundo inteiro, esta solução de ser somente praias e areia limita o turismo a meses e dias cada vez mais curtos… Os eventos culturais e de negócios, seriam a solução para esta lacuna tão importante do crescimento econômico e humano da cidade. Há espaços em vias públicas reformuladas como A Martin Luther, nos ajustes e prolongamento da Terceira e Quarta avenidas, nos Molhes das barras Sul e Norte, tudo poderia ser explorado, até mesmo eventos de esculturas de areia que envolvem milhares de espectadores e muitos participantes, com alcance midiático muito intenso; mas vivemos uma certa inércia e pelas atitudes provincianas que às vezes vem à tona, se torna difícil protagonizar aqui. Vejamos o caso da retirada das esculturas do Acervo do IJS que estavam no Parque Raimundo Malta, abertas ao público e com gratuidade ou mesmo o caso da Galeria de Artes Municipal fechada há tanto tempo e a ausência de um atelier público… Quem sabe, com “novas ideias”, criamos um Museu de Artes ou um museu da construção civil, tudo é possível!

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“O único encontro de escultores em uma mina de mármore em atividade no mundo…é aqui em Camboriú”.

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JP3 – A arte em espaços públicos é um novo jeito de aproximar as pessoas da expressão cultural de uma cidade…um povo… O Sr. já teve uma experiência frustrada nesse sentido…como imagina BC nesse cenário?

OO Parque da Esculturas no Parque Ecológico da cidade teve vida curta, pouco mais de dois anos (Arquivo Pessoal)

JS – Sem a Arte não viveríamos plenamente, mesmo sendo considerada por alguns como supérfluo, são na verdade essenciais para a harmonia das pessoas. O que seríamos sem música, sem dança, sem as artes visuais, sem teatro, sem livros e poesias? Acho que deixaríamos de ser humanos. Aí vem mais uma vez a lembrança do Parque Raimundo Malta e a retirada das obras do Acervo do Instituto, que hoje foram transferidas para o Parque Malwee em Jaraguá do Sul, interagindo com pessoas e natureza de forma sustentável e inteligente. Já desenvolvi quatro parques em diferentes locais e cidades de Santa Catarina, todos abertos ao público e gratuitos, com acessibilidade a pessoas com deficiência visual, isto faz a diferença na sociedade e Balneário fecha os olhos para isto, não sei porque! Há sem dúvida um ranço, não sei se é pessoal ou é institucional mesmo, mas como diz Quintana “Eles passarão e eu passarinho…”


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