Por Renata Rutes
Mais de um ano se passou e esse é o segundo Dia das Mães em tempos de pandemia. Após muitas mudanças na rotina, com as crianças tendo aula online, muitas mães precisaram se readaptar e passar a se dividir com o trabalho em casa (homeoffice) e a rotina de cuidar dos filhos e ajudá-los a estudar. Mas e aquelas que ainda precisam trabalhar fora, seja no comércio, na hotelaria, em atrativos turísticos e nos hospitais?
Nesta Reportagem Especial de Dia das Mães, a reportagem ouviu diversas mulheres que relatam suas experiências – profissionais e maternais – durante a pandemia. Confira!
“Com a pandemia as relações ficaram muito mais intensas”
Luciana Hanada Himauari, assistente administrativo do Laboratório Municipal de Testagem de Covid-19 de Balneário Camboriú, mãe de Larissa Ayumi Himauari, 8 anos, e Milene Akemi Himauari, 12 anos
“Levanto todos os dias 5h45, tomo meu café e deixo o café da manhã organizado pra elas. Trabalho no período matutino no laboratório e meu marido cuida das meninas pela manhã e faz o almoço, ele me ajuda muito! Faço faculdade de Direito, tenho aula todas as noites e tenho um estágio obrigatório às quintas, em alguns dias tenho cumprido horas voluntárias (complementares do curso) e, separo as tardes para os afazeres domésticos, ajudar com as tarefas delas e fazer minhas tarefas, trabalhos e, agora no 9º semestre, o TCC. Em julho fará um ano que trabalho lá no laboratório e, com certeza, no início tinha muita preocupação com o Covid, depois que a gente aprende a se paramentar e a se cuidar percebe que o risco existe em todos os lugares, porém lá estamos mais protegidos. Continuo tomando os mesmos cuidados desde o início. Minhas filhas conseguem entender a importância, não só financeira de eu estar lá. Eu sinto como se elas tivessem orgulho das coisas que faço, mesmo com a minha ausência, explico que é para o bem delas, que um dia vou poder estar mais presente e também proporcionar outras coisas. A pequena reclama mais e diz que gosta de acordar e me ver em casa aos finais de semana. As duas estão estudando no modelo híbrido, uma semana online e a outra presencial. Meu marido e eu fazemos questão de levá-las nas aulas presenciais, mesmo que fique corrido, a gente entende que elas precisam socializar e gastar energia. Elas chegam falantes, contando coisas… é muito importante essa interação presencial. Com a pandemia todas as relações ficaram muito mais intensas, pois é muito tempo junto e um tempo que nem sempre é de qualidade, pois as obrigações continuam e o ambiente não é propício para estudar e trabalhar, ou seja, é desgastante. Ser mãe em tempos de pandemia é um exercício diário de paciência. É também uma troca, porque ao mesmo tempo em que nos doamos 100%, a recompensa é sempre maior… para elas sou a melhor mãe do mundo. Só eu sei o quanto poderia ter sido melhor. O significado do Dia das Mães? Pra mim com certeza é ter me tornado uma pessoa melhor depois delas, pois todos os dias eu aprendo com elas. Acredito que a data ganhe sim um novo significado: o de dar muito valor para as pessoas que amamos, principalmente para as nossas mães. Temos que comemorar o fato de poder estar presente na vida dos filhos e de termos nossas mães por perto, com saúde”.
“Educar e dar limites dá trabalho”
Marta Brancher, mãe do Pedro (4 anos) e da Cecilia (7 anos), formada em Moda e Relações Internacionais
“Somos uma família diferente, não só pela adoção, mas por inúmeras coisas. Sou considerada ‘mãe tardia’, nos modelos tradicionais – eu já tinha 40 anos. Desde pequenininha eu sabia que eu queria ser mãe, e eu dizia que teria um natural e outro adotaria. Segui a minha vida, meus planos e projetos, sem me preocupar com idade, etc. A adoção para mim era muito natural. Eu tinha muitas dúvidas com o biológico, mas eu sempre sonhava em ter uma filha pretinha. Nunca me preocupei com a opinião de outras pessoas, sempre sigo as minhas escolhas. Talvez por isso somos consideradas uma família diferente, por adoção de crianças negras e por eu seguir a minha vida de mulher independente. Sou uma mãe bem diferente também, não sou mãe padrão. Sou à moda antiga também, dou limites, gosto muito de ensinar com exemplos, com essência, natureza, amor. Sou uma mãe muita brava (risos), mas a Cecília mesmo diz que cobro e dou limites porque os amo. Não dá para romantizar a maternidade, ser mãe dá muito trabalho, é completamente diferente de querer ter filhos, porque dá muito, muito trabalho. É lindo, maravilhoso, mas educar e dar limites dá trabalho. Nós sempre gostamos de ficar em casa, em casa no sentido de lar. Lógico que tem shows, cinema, teatro. Não gosto de shopping. Quando tem que fazer algo no final de semana, nós fazemos em casa. O Pedro e a Cecília brincam com folhas, flores, inventam mil coisas. É tudo meio mágico. Amam teatro, mas não os convide para ir no shopping. Adoramos ficar em casa, no lar, todos juntos. Quando chegou a pandemia, já estávamos morando em Concórdia, e eu sou uma mãe bem realista, dou conselhos bem reais. No início fiquei apavorada, dei a real para eles, falei que o negócio era muito grave; não temos TV em casa [canais], não é um costume nosso, final de semana é só Netflix, mas sempre muito regrado. Fui criada com a verdade, eu choro, quando preciso ser forte sou forte, mas não coloquei panos quentes, falei que não poderíamos sair, e que era muito grave. Falei com eles sobre o filme Bird Box, onde não podiam nem olhar para fora, e que aqui ainda temos a oportunidade de olhar pelo vidro, mas se colocasse a cabeça para fora, podiam morrer (risos). E eles super compreenderam! (risos). No início era desespero ir ao mercado, lavar roupa, higienizar tudo. A aula online, eu imaginei que fosse me matar (risos), Pedro em fase de alfabetização, Cecília no 5º ano. Não tem condições, os professores são santos. Agradecemos por ter casa, comida, condições de fazer a aula online, sem chance de reclamar de nada. Sempre muito realistas, não podemos reclamar porque temos isso tudo. Levamos, sobrevivemos. Eles brincam na rua hoje, com máscara, sempre com todos os cuidados. Eu não tinha trabalho fixo, e isso mudou o panorama das coisas também. Eles dentro de casa, inventando mil coisas, temos gato, cachorro, inventávamos produções. Tenho uma frase que uso bastante: “Sempre foram nossos, só estavam perdidos”. Eu não fui mãe tardia, fui mãe na hora certa, porque foi quando meus filhos nasceram. Eu não tinha como ser mãe de outras crianças. Eles são muito nossos, eu me pergunto todos os dias ‘o que eu fiz na vida para receber dois filhos tão maravilhosos?’, intensos, queridos, doces, cheios de opiniões, resolutivos, com um coração imenso… são teimosos, não obedecem às vezes, como qualquer criança normal, mas são maravilhosos”.
“Acredito que teve muitas mudanças no sentido do cuidado, da atenção para o filho e família”
Danieli Regina da Silva Robles, assistente administrativo da UPA Nações, mãe de Bianca Robles Martins da Silva, de 21 anos
“Trabalho no IMAS/UPA Nações há aproximadamente um ano. O meu trabalho é no administrativo, mas rotineiramente tenho contato com os pacientes, então a minha preocupação de levar o vírus para casa existe, mas continuamos com todos os cuidados necessários para a minha proteção e a da minha família. Antes de trabalhar na UPA eu estava em outros dois empregos também na linha de frente, onde em um desse era UTI e acabei contraindo o vírus, mas felizmente me recuperei isolada em casa não precisando ser internada. Tenho uma filha de 21 anos que está na faculdade e está tendo aulas online, mas também está aos poucos voltando com as aulas presenciais, também com todo cuidado necessário. Ela consegue compreender este momento difícil que estamos vivendo e a importância e necessidade do meu trabalho neste momento. Acredito que teve muitas mudanças no sentido do cuidado, da atenção para o filho e família, com certeza nessa data tão especial vai ser comemorado com mais amor, companheirismo e a alegria de ter essas pessoas tão especial e que amamos por perto”.
“Nosso cuidado é dobrado em relação à contaminação”
Ana Paula Possetti, médica, mãe de Gabriela, de um ano e dois meses
“Sou médica há sete anos, trabalho no Hospital Ruth Cardoso desde que me mudei para Balneário, há três anos, e trabalho na região também. Desde o início da pandemia nossa rotina mudou muito, quando saímos do hospital tem todo o cuidado ao entrar em casa, só temos contato com nossa família após trocar a roupa e tomar banho. Minha filha é muito pequena ainda, tem um ano e dois meses, mas já entende quando saímos de casa, explicamos desde cedo que saímos pra cuidar dos pacientes e que logo voltaremos. Nossa rotina é bem puxada, meu marido também é médico, mas desde que a Gabi nasceu diminui um pouco os plantões para poder cuidar dela. Como ela nasceu no início da pandemia optamos por não colocá-la na escola ainda, estamos tendo o privilégio de ter minha mãe e sogra cuidando da Gabi, então como elas já são de idade nosso cuidado é dobrado em relação a contaminação. Sinto que tudo mudou após a pandemia, estamos valorizando coisas que às vezes passavam despercebidas. Ser mãe e poder estar junto das nossas mães não tem preço. Esse ano será meu segundo Dia das Mães, e estou muito sensibilizada por ver no meu dia a dia tantas perdas. Valorizo cada minuto junto com minha filha, marido e família”.
“Trabalhar diretamente com minha filha é um desafio diário”
Marli Soares da Cunha, diretora da adega Delli Divino, trabalha com a filha, Malu Soares da Cunha, que é gerente geral do estabelecimento
“Minha rotina é medida conforme a época do ano e a demanda que exige a minha presença já que a empresa é da família. Trabalho aqui em BC há 30 anos e destes, 6 ao lado da minha filha. A exposição ao público sempre é motivo de preocupação por conta da pandemia, mas minha filha tem feito horários diferenciados cumprindo com a equipe todo o horário previsto de abertura. Trabalhar diretamente com minha filha é um desafio diário, uma troca de experiências e um aprender de ambas as partes, até porque eu acredito em parcerias e o aprendizado enriquece a rotina. Sobre a maternidade x pandemia, acredito que o desafio maior foi para as mães com filhos na tenra idade escolar, já nas idades adultas, como é meu caso, a preocupação é visivelmente oposta, filhos preocupados com pais. Quanto ao Dia das Mães, ele é todos os dias, nós mães somos seres especiais e temos um papel imprescindível não só na vida dos filhos, mas de toda a família e nesse segundo dia das mães dentro de uma pandemia, onde muitas filhas, mães, avós foram bruscamente separadas pela morte, acho que o significado desta data deveria ser naturalmente comemorada a cada dia, cada encontro, cada data, sempre com um amor incondicional e único, como se fosse o último”.
“Faço o possível, busco força onde não tenho”
Meraci Souza da Silveira, 47 anos, enfermeira da UPA Nações, mãe de Myrella de Aguirre Sena, 14 anos
“Além de trabalhar na UPA Nações, também sou enfermeira em Itajaí. Tenho uma carga horária bem puxada, faço 12 por 36 noturnas como enfermeira e 40 semanais diurnas como técnica de enfermagem, e nas noites de folga e nos fins de semana aproveito para curtir a minha filhota. Trabalhar com o público faz parte de minha profissão, profissão essa que não deve separar raça, cor, religião, sexo, e situação financeira, pois dependemos uns dos outros e agora mais ainda para dar conta de acabar com esta pandemia. Apesar de todos os cuidados e protocolos oferecidos pelo Instituto Maria Schmidt (IMAS, que gerencia a UPA Nações) eu me contaminei com a Covid. Foram momentos de muita angústia, medo e incertezas por 14 dias, principalmente quando fui levada para o Hospital Ruth Cardoso de ambulância, cheguei a me despedir da luz do dia pensando que estava tudo acabado. Mas Deus foi piedoso, e hoje estou aqui. Minha filha é uma menina muito tranquila, companheira e me apoia sempre, claro que se mostra muito apreensiva com a situação da pandemia. Não esconde o medo de me perder para a doença, afinal sou mãe e pai ao mesmo tempo [Meraci é viúva]. No momento está sem aula por problemas com manutenção de sua escola, com isso fica muito tempo em casa e cobra minha atenção quando estou em casa. Faço o possível, busco força onde não tenho, pois sei que ela precisa do meu carinho e atenção, mas ela entende e me apoia no fato de eu ter que sair para o trabalho e ela ficar em casa. O Dia das Mães é muito importante, pois é o dia em que mais refletimos sobre a importância desse ser que nos traz à vida, nos ensina as primeiras palavras, os primeiros passos, e depois nos ensina o caminho da fé e da esperança para seguir o ciclo da vida. Vejo que, diante da pandemia está se formando um sentimento de saudades e incertezas em grande parte da humanidade, pelo fato de ter que se isolar sem poder dar abraço, aperto de mão ou beijo em sua mãe, e em alguns casos nunca mais ver – pelo fato de ter perdido aquela guerreira que a vida toda esteve ali bem pertinho”.
“Estou com o coração apertado, é tudo muito novo para a gente”
Monique Giselle Saut, cirurgiã dentista da ESF Ariribá, atualmente coletora no Laboratório de Covid-19 de Balneário Camboriú, é mãe de Maitê Saut Pereira, 7 anos
“Diariamente estou fazendo a coleta, de segunda a sexta, pois a odontologia (por determinação do Estado) está atendendo só emergência e urgência, não estamos fazendo tratamento eletivo, a nossa coordenação distribuiu os dentistas para atender toda a demanda de emergência, e para a coleta dos testes. Eu estou há quatro meses nessa função. No início, fiquei muito preocupada, mas desde o começo da pandemia eu passei por vários lugares, como nas barreiras sanitárias, na rodoviária. Realmente tenho muito medo na hora de voltar para casa, mesmo com tudo muito bem organizado, paramentação, equipamento necessário, nunca falta nada. Mas temos receio. Prefiro não parar em nenhum lugar saindo do trabalho, minha filha já está acostumada para não vir me abraçar. Ela estuda o dia inteiro, tenho uma secretária que me ajuda para levar e pegar ela na van que leva ela para o colégio. Todos sempre nos cuidamos e eu também tento orientar quem não está se cuidando, explico sempre para a minha filha, ela sempre está lavando as mãos, usando álcool. Ela está sempre bem ciente, usando a máscara corretamente. Minha mãe e meus pais são idosos, moram em Balneário, e depois que eu vim para a coleta comecei a vê-los menos, tenho muito receio e eles também têm. Eles têm mais de 80, já tomaram as duas doses, mas ainda assim tenho receio. Faço as compras do mercado para eles e de remédios, levo na portaria, agora eles estão pedindo em casa também. Sempre higienizamos tudo. A saudade é muito grande, até mesmo no Dia das Mães estou na dúvida se vamos ou não nos ver. Estou com o coração apertado, é tudo muito novo para a gente. A minha filha, com a pandemia, chegou a ter ansiedade. Tive que contratar uma secretária para acompanhar ela, pois ela ficava em casa o dia inteiro, não aguentava mais aula online. Ela foi ao psicólogo. Foi bem difícil, ela exigia muito a minha atenção, me acordava várias vezes durante a madrugada, sabendo que eu trabalhava no combate ao Covid ela dizia que tinha medo que eu morresse, pois ouvia nos jornais. Por isso, paramos de assistir TV na frente dela, pois ela tinha muito esse medo. Agora voltaram as aulas e ela está muito melhor, a parte psicológica dela, tudo. Cada mãe tem a sua realidade, quantidade de filhos, se está empregada ou não, como é a rotina escolar, condições financeiras… é muito complicado. Foi e está sendo um desafio muito grande para as mães, por isso acredito que o Dia ganha um novo significado, queremos estar muito perto de nossas mães, mas com medo. É uma sensação muito diferente, eu fico até emocionada. Temos medo, nos sentimos culpados por saber que podemos transmitir o vírus [sendo assintomático], valor que damos à vida, gratidão por estarmos vivos e saudáveis diante disso tudo. E gostaria de reforçar um dos mandamentos de Deus: “Honra teu pai e tua mãe para que se prolonguem os teus dias na terra, que o Senhor, Teu Deus, Te dá”.”
“Nem sempre as crianças entendem que não podem ir à praia, ao parquinho…”
Cláudia Silvestre da Silva, auxiliar de governanta no Hotel Bella Camboriú, mãe de Cauã Henrique Silvestre de Melo, 8 anos, e Ruan Sebastião Silvestre de Melo, 4 anos
“Minha rotina no Bella se inicia às 7h, paro às 12h, tenho uma hora de intervalo e trabalho até às 15h20. Atuo no hotel há três anos. A preocupação em estar exposta ao público se torna um pouco maior por eu ter filhos. Ao voltar para casa, poder expor eles, mas tomamos todos os cuidados no hotel e ao me deslocar para casa, se torna menos preocupante, porque realmente nos cuidamos muito. O hotel preza muito pela biossegurança dos funcionários, de toda a nossa equipe. Meus filhos cobram minha atenção, mas consigo conciliar as duas coisas, trabalho na parte da manhã e eles também estudam nesse período, então na parte da tarde conseguimos estar sempre juntos. Eles estarem com a aula presencial ajuda muito, porque têm contato com outras crianças, conseguem aprender melhor e se desenvolver mais também. O meu filho mais novo pergunta mais sobre quando vou estar em casa, o mais velho consegue entender que estou trabalhando e que tenho um certo horário para voltar. Acredito que com a pandemia a maternidade se torna um pouco mais difícil, um desafio a mais, porque nem sempre as crianças entendem que não podem ir à praia, ao parquinho. O Dia das Mães, para mim, tem um significado imenso, não só por ser filha, mas por ser mãe também. É um dia iluminado, em que você tem que somente agradecer, é de extrema importância”.
“Vamos criando oportunidades no dia a dia”
Ali Farrah Gonçalves, trabalha no Grupo Oceanic como líder de equipe na fotografia do Classic Car Show, é mãe de Yasmin Gonçalves Pereira, 18 anos, e de Eduarda Gonçalves Pereira, 15 anos
“Minha história no Grupo começou no Oceanic Aquarium, fazendo freelancer no Espaço Kids. Dois meses depois fui contratada. Para mim foi maravilhoso porque adoro crianças, logo em seguida da minha contratação veio a pandemia, o aquário teve que fechar. Em meio aquele caos, nosso diretor Cristiano Buerger deu a melhor notícia: de não demitir ninguém. Por um lado, fiquei muito feliz, mas por outro preocupada, pois recém tinha sido inaugurado, fiquei rezando para que tudo voltasse ao normal. Ao reabrir o aquário, o Espaço Kids não poderia ficar aberto, então tive a oportunidade de trabalhar em outro setor, o de fotografia. Alguns meses depois fui convidada para um novo desafio: liderar uma equipe no Classic Car Show, inaugurado em dezembro de 2020. E eu me senti pronta para o desafio. Hoje estou muito feliz por todas estas oportunidades que o Grupo Oceanic me deu. E todos os dias quando acordo para trabalhar, retribuo com o meu melhor. No início, confesso que eu tinha um pouco de medo, sim, por ficar exposta, mas todos nós precisamos trabalhar. Tivemos que nos adaptar com esse novo momento em que estamos vivendo. Hoje me sinto mais segura porque o Grupo Oceanic preza muito pela segurança tanto dos seus colaboradores, quanto dos seus visitantes, sempre seguindo todos os protocolos de segurança. Por isso, me sinto mais tranquila ao chegar em casa. Minhas filhas entendem que tenho que trabalhar, hoje elas estão maiores e me apoiam. Quando podemos, marcamos um almoço no meu intervalo, ou elas vão me buscar com meu marido no final do expediente para sairmos um pouco. Às vezes não é fácil pelo fato de estar cansada, mas é o tempo que tenho para estar mais presente com elas. Vamos criando oportunidades no dia a dia para coisas juntas. Minhas filhas estudam, e no momento elas optaram por continuar com as aulas online. Em 2020 fiquei algumas semanas em casa, enquanto o aquário ficou fechado, e pude acompanhar e ajudar nessa adaptação. Para mim, o Dia das Mães é como um aniversário, é aquela data que comemoramos por mais um ano de vida, celebro a vida ao lado das minhas filhas e da minha mãe que amo muito. Ser mãe é uma dádiva de Deus, todos os dias olho para minhas filhas e agradeço a Deus pelo melhor presente que ele poderia me dar. Acredito que o Dia das Mães ganhou um novo sentido, para os filhos que não puderam dar um abraço na sua mãe durante a pandemia, ou até mesmo dizer um ‘eu te amo’”.
“Não vou dizer que foi fácil, mas conseguimos nos unir ainda mais”
Gislaine Cordeiro Costa, artesã e dona de casa, é mãe de Ludmila, 13 anos, e Isaac, de 6
“O bom de ser brasileira é que conseguimos nos moldar, e não foi diferente nessa época de pandemia. As crianças em casa, as aulas online… foi um desafio, mas sou daquelas que não foge dos obstáculos da vida, tento aprender com eles e usá-los como exemplos. De mãe e artesã, passei a ser professora em tempo integral (risos). Voltei a ter que estudar junto com ele, na verdade não só eu, mas meu esposo também. Eles vão voltar com as aulas presenciais na próxima semana [são alunos do CEM Dona Lili, que passou por reformas], e estamos um pouco apreensivos, com o coração apertadinho. Não vou dizer que foi fácil, mas conseguimos nos unir ainda mais. Houve, sim, momentos de desespero, estresses, mas o amor que tenho pelos meus filhos foram a minha base. O desejo de dar o melhor pra eles fez com que eu me reinventasse. Sou o tipo de mãe que deseja ver os filhos crescerem em todas as áreas. A bagunça na casa às vezes me deixava muito para baixo, me achando incapaz de dar conta de tudo, foi aí que descobri o verdadeiro significado da palavra ‘mãe’: sempre ouvi dizer que ‘ser mãe é padecer no paraíso’ e tem uma certa realidade nessa frase; mas o que descobri em meio aos obstáculos da pandemia é que ‘ser mãe é a dádiva mais linda para uma mulher’, pois é a verdadeira expressão do amor, é saber que fora de você bate um coração que é o seu. Descobri que ser mãe é para a vida toda e que na mesma proporção que você cuida você também é cuidada. Não há nada mais bonito e real do que ser mãe. Minha filha estava pré-diabética, durante a pandemia precisamos passar por mudanças, com a cozinha lowcarb, e nos redescobrimos na cozinha, descobrindo o nosso amor pela culinária. O Dia das Mães é surreal, é uma data que mexe muito comigo. Graças a Deus eu tenho a minha mãe ainda, e sendo mãe posso entender tudo o que ela passava. Posso dizer que devemos aproveitar cada instante, cada momento que temos com nossos filhos. A bagunça na casa é sinal de saúde, que eles estão bem. Temos que olhar pelo lado positivo: a bagunça, o barulho, é momento de agradecimento porque estamos todos bem. A pandemia não foi de todo ruim, pois me trouxe muitos momentos com a família, nos aproximamos muito mais e, além de mãe, me tornei muito mais amiga dos meus filhos, tirei muita coisa boa dessa época. Vivi muitos momentos que, talvez, se não fosse pela pandemia, eu não teria vivido”.
“A rotina é basicamente não dar conta de tudo, fazer o possível e comemorar”
Nanashara Piazentin, 35 anos, advogada, mestranda em Direito, Conselheira de Cultura, ex-Conselheira Municipal dos Direitos da Mulher e mãe de Noah Piazentin Mudrick, 14 anos, e Benjamin Piazentin Köche, 4 anos
“Desde que começou a pandemia estou trabalhando em homeoffice, consigo ter esse privilégio e facilidade que a profissão me permite, e também pela forma que me posiciono perante meu companheiro, onde o meu trabalho importa tanto quanto o dele. Mas essa é uma conquista e território de tensão diário, e sei que não é a realidade da imensa maioria das mães brasileiras, que tiveram que deixar dos seus empregos para cuidar dos seus filhos, e é para essas que temos que voltar nosso olhar. A rotina de trabalho com crianças em casa é caótica. Não sei onde de fato termina o trabalho e começam os cuidados com a casa e as crianças. Mesmo dividindo de forma igualitária as responsabilidades e cuidados com meu companheiro, ainda é altamente exaustivo. Tenho dois filhos. Noah de 14 anos, é o esportista da família e super independente e Benjamin que está com 4 anos, e pela idade demanda mais atenção, está toda hora pedindo por algo e não entende muito se estou trabalhando ou não. Então é criança aparecendo na live, chorando durante a reunião, eu desmarcando compromissos, louça acumulada, nem sempre conseguir acompanhar a tarefa de casa deles, é não estar com a rotina de exercícios em dia e nem ligar mais tanto para isso. A rotina é basicamente não dar conta de tudo, fazer o possível e comemorar. Esse ano meus filhos retornaram à escola de forma presencial. Foi um super alívio. A escola é a maior rede de apoio que pode existir e vai muito além da educação. Porque estamos falando de mães que não tem com quem contar, que não tem pai com quem dividir as tarefas, não tem Estado suprindo as necessidades mais básicas de se alimentar. Então escola funcionando deveria ser prioridade e prioridade de vacinação aos professores. Se fossem os homens que cuidassem em casa de suas crianças as escolas não teriam sequer fechado. Sem dúvida a maternidade enfrenta vários desafios nesse momento. A pandemia escancarou problemas que sempre existiram no universo da mulher: divisão não igualitária do trabalho doméstico, maior taxa de desemprego entre as mulheres, sobrecarga de trabalho. Eu enxergo a maternidade de uma forma profundamente política, talvez o espaço onde mais eu exerço um papel político: Sou mãe de dois meninos então eu tenho a dupla responsabilidade em entregar para o mundo dois seres humanos que possam espalhar amor por onde forem, e não mais dois babacas num mundo que já está cheio deles. Eu realmente espero que possamos usar o dia das mães para refletir politicamente em formas efetivas de como transformar a desigualdade e cuidar dessas mães. Então eu troco as flores e cesta de café da manhã por licença maternidade ampliada e igualitária, renda básica universal e descriminalização do aborto”.