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Balneário Camboriú
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Dia Internacional da Mulher: moradoras de Balneário Camboriú falam sobre desafios e futuro

O Dia Internacional da Mulher foi oficialmente instituído em 1975, portanto quase meio século de comemorações, abraços, presentes e paparicos, louvando a data. 

As conquistas são inegáveis, mas o cenário, quase 50 anos depois da oficialização da data, não parece tão comemorativo e promissor. Ainda tem lacunas enormes. 

O melhor presente não tem para vender. 

As mulheres querem respeito aos direitos que conquistaram; querem igualdade tão propalada e tão ‘furada’ na prática; querem emancipação real; querem oportunidades, representatividade e sobretudo, clamam por segurança, porque os índices de violência contra a mulher disparam dia após dia e aparentemente a solução está muito distante.

O Página 3 conversou com diversas mulheres de Balneário Camboriú, que opinam sobre o cenário atual, desafios, e perspectiva de futuro para o público feminino na sociedade. Acompanhe.

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“Precisamos aumentar o número de mulheres na gestão da sociedade”

Syntia Sorgato, diretora geral do Hospital Municipal Ruth Cardoso

(foto Arquivo pessoal)

“Na minha trajetória profissional, trabalhei 10 anos na área da saúde e 10 anos na área de gestão, em cargos de gerência e direção. 

Depois desses 20 anos, tive a oportunidade, por meio do convite do prefeito Fabrício Oliveira de participar da gestão do Hospital Ruth Cardoso, um grande desafio profissional – como mulher e como profissional da saúde. 

É uma grande conquista chegar ao cargo de direção geral como mulher, representando todas as mulheres como exemplo e desafio que pode ser perseguido porque precisamos aumentar o número de mulheres na gestão da sociedade e também na representatividade política, já que ainda somos um dos países com o menor número de mulheres representantes na política. 

Como mulher e profissional da saúde, vivo uma luta diária na gestão de um hospital do porte que é o Ruth Cardoso, que atende toda a microrregião sul da AMFRI.

Estamos vivendo ainda a pandemia, presenciamos várias ondas de picos e de baixas. Estamos felizmente com um número menor de casos, com novas cepas mais leves e menos casos de internação, gripes mais corriqueiras, um sinal de que estamos saindo da pandemia. 

Temos muitas oportunidades na área da saúde para as mulheres e, quando a pandemia se tornar endêmica, teremos muita demanda do pós-Covid, que já estamos vendo – principalmente em quem possuía outras doenças de base e estão tendo um agravamento. Então, tem um campo da saúde que sempre vai continuar sendo necessário – pesquisa, assistência, novas descobertas nesse campo que vem pela frente.

Vejo o Dia da Mulher como uma lembrança para nós mulheres, um reconhecimento, e que precisamos seguir nessa luta de, cada vez mais, termos as mulheres reconhecidas, de vermos o machismo ser abolido da sociedade e dos casos de feminicídio e agressões à mulheres”.

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“Eu creio que o maior desafio, enquanto mulher, é o reconhecimento”

Sandra Barros, professora na rede municipal de Balneário Camboriú

(foto Arquivo pessoal)

“Sou a primeira mulher da família a ter um diploma universitário. O meu início lembro muito bem, a minha primeira sala de aula foi em uma escola improvisada, que era a antiga pastoral da criança. Era um galpão. Lá, foram as minhas primeiras paixões, os meus alunos. Naquele momento, naquele lugar, mesmo improvisado, era muito produtivo e de muito aprendizado. 

Os desafios de ser professora são grandes porque a profissão, que me desculpem todas as outras, é a mais importante, na minha visão, porque é a profissão que forma todas as outras. Eu acredito que as mulheres, sim, têm mais espaço profissionalmente, mas temos muito ainda a avançar. 

Hoje, nós temos algumas crianças e adolescentes que querem ser professores, mas precisamos avançar muito ainda. 

Eu creio que o maior desafio, enquanto mulher, é o reconhecimento nos altos cargos das empresas. 

Realmente você vê que ainda não existe a equiparação salarial referente a homem e mulher. 

Já trilhamos um caminho, mas precisamos continuar avançando. 

O Dia da Mulher é todos os dias, claro que temos um dia em especial, de forma simbólica, mas ele precisa ser comemorado todos os dias. 

É o respeito, o reconhecimento. Eu acredito e trabalho cada dia mais para que a nossa sociedade valorize mais a mulher, tendo esse olhar e empatia com o outro, para assim avançar”

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“Os desafios foram motores para toda a minha trajetória”

Lenita Novaes é funcionária pública aposentada e trabalha atualmente como psicóloga e atriz

(foto Arquivo pessoal)

“Minha trajetória de vida começa em 1939 no interior do Paraná. Confesso que vivi intensamente cada momento da vida, seja pessoal ou profissional. De lá pra cá foram quatro casamentos, 4 filhos, 7 netos e 3 bisnetos. 

Profissionalmente trabalhei desde atendente de balcão em lojas, bancária, várias funções em hospital e fórum, até chegar ao serviço público em Balneário.

Aqui comecei como Coordenadora de Promoção Social da prefeitura de Balneário Camboriú de 1978-1988, onde fundei a maioria das creches de Balneário Camboriú existentes até hoje. 

Fundei também em 1978 a primeira Banda Municipal com crianças e adolescentes em vulnerabilidade social, trabalho reconhecido pela UNICEF como um dos melhores projetos sociais daquele ano. 

Também fui vereadora suplente em 1990,  assumindo o Legislativo por um mês no lugar do vereador Jorge Caseca. Fui psicóloga na Vara Criminal da Comarca de Balneário Camboriú. Me aposentei da prefeitura em 1997. 

Todas essas ações me motivaram a estudar tardiamente e aos 52 anos entrei para a faculdade de Psicologia, na qual me formei em 1995. 

Desde então exerço ações na área da psicoterapia e desenvolvimento de grupos. 

Sou co-fundadora e presidente do Instituto de Psicologia Sentir e nele ajudei a criar o Espaço Cultural Sentir, a Sub Regional da ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer) de Balneário Camboriú, grupos de terceira idade e os Grupos de Teatro Sentir, Acontecendo por aí e Tramandoarte, onde atuo até hoje como atriz, diretora, figurinista e produtora cultural. Por todo esse trabalho fui reconhecida como cidadã honorária de Balneário Camboriú e cidadã Amiga da Cultura.

Os desafios foram muitos devido a todo patriarcado, machismo, conservadorismo da época, mas os desafios foram motores para toda a minha trajetória. E aqui preciso estender estas conquistas a todos que trabalharam comigo, em minhas equipes.

Portanto, confesso que vivi cada instante destes 82 anos de idade, caminhando motivada rumo aos 100. 

Atualmente acredito, sim, que as mulheres estão tendo mais espaço. 

Hoje já vemos mulheres na política (ainda não o suficiente), no empreendorismo, nos grandes comércios, em ações de lideranças, enfim ocupando muito mais espaço do que apenas o seu lar de antigamente. 

E digo isso com a experiência de anos na luta pelo reconhecimento e valorização da mulher como Ser de direitos.  Os desafios são vários, principalmente até chegarmos na igualdade e superação de direitos. Entre os desafios estão: DESIGUALDADES com relação aos homens em todos os sentidos e em virtude disso ainda temos violências, assédios,  pois os aspectos históricos e culturais ainda estão enraizados na sociedade humana. Por isso ainda temos muito que lutar e conquistar, pois sem luta dificilmente conseguiremos.

O Dia da Mulher é TODO DIA, pois todo dia é dia de acordar, levantar a cabeça e seguir em frente na luta por nossos direitos. Mas ter um dia é importante pois é uma forma de reflexão para essa sociedade machista e patriarca que PRECISA também lembrar que nós mulheres somos e temos as mesmas condições de qualquer outro humano e que, por isso, podemos sim ter direitos iguais com mais respeito e mais participação. 

Sinto que o dia da mulher também pode ser pedagógico no sentido de clarear o passado para  modificar o presente e assim acredito que quanto mais homens e mulheres se apropriarem da sua história, mais mãos vão se juntar a luta pela garantia de direitos humanos e, assim, ninguém soltará a mão de ninguém até que todas sejamos livres…”.

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“A dificuldade mais comum era a de eu ser mulher”

Sara Soares, vereadora suplente pelo PDT – assumirá em breve, presidente da Associação de Moradores do Bairro das Nações e chefe de gabinete do vereador Eduardo Zanatta

(foto Arquivo pessoal)

“Minha vida política se iniciou há muitos anos, quando realizava minhas atividades na igreja e nos trabalhos comunitários. Já é sabido da dificuldade de as mulheres acessarem espaços de autoridade política em nossa sociedade. Muitos não sabem que essa desigualdade também enfraquece a própria democracia. 

Antes mesmo de me colocar à disposição de um cargo eleitoral em 2018 já me posicionava, de alguma maneira, na procura de melhorias para o bairro das Nações como secretária da Associação do Bairro e como Agente Comunitária de Saúde. 

A experiência de uma eleição à vereança foi indescritível, pude escutar das pessoas em suas próprias casas suas demandas e suas angústias. 

Dentre elas, demandas muito caras às mulheres, como: a violência doméstica, gordofobia e a questão de profissionalização e do retorno ao mercado de trabalho. 

No ano de 2018 recebi 338 votos e fui a mulher mais votada do Partido Democrático Trabalhista (PDT) na cidade. 

Um sinal de que meus esforços e meus projetos estavam dialogando com as urgências de Balneário Camboriú. 

Foi uma campanha samaritana, sem recursos e envolta de muitas dificuldades. 

A mais comum era a de eu ser mulher. 

As pessoas ainda recebem com receio e tentam descredibilizar as mulheres como se fossem incapazes de governar ou até legislar, um sinal típico da identificação da política como um exercício estritamente masculino. Isso está mudando, mas ainda precisamos lutar unidas para que se concretize efetivamente, por isso faço parte da Ação da Mulher Trabalhista, que tenta, dentro do partido, promover discussões sobre agendas pertinentes as mulheres. 

No ano seguinte fui convidado pelo vereador Eduardo Zanatta para compor seu gabinete. O convite foi resultado de toda transparência da minha campanha e das pautas que levantei com muita dedicação. Estar assessora parlamentar é conseguir mediar um diálogo entre a comunidade e a Câmara, na voz do vereador. 

Eu tive autonomia dentro do gabinete para criar elos e isso se refletiu na vitória da Chapa 2, na qual eu presido, na eleição da Associação do Bairro das Nações de 2021. 

Quando as pessoas entenderem que toda nossa vida é política poderemos dar curso as transformações e as melhorias em toda estrutura da nossa sociedade.

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“Serão elas os protagonistas do mundo como um lugar bom de conviver e viver”

Dagma Castro, fotógrafa e produtora cultural e de cinema, conselheira estadual de cultura (CEC) pelo audiovisual

(foto Leonel Tedesco)

“Há tempos percebi que minha vida tem pontos de virada por décadas, o normal seria por setênios, enfim… mas todas estas viradas aconteceram no campo pessoal e profissional. 

Logo após os 10 anos de idade comecei trabalhar num jornal (aos 13), aos 20 morava sozinha, iniciei na publicidade e me fiz mãe solo, aos 30 já trabalhava em audiovisual, aos 40 tratei um câncer de mama e fiquei grisalha, também começa ali minha atuação em coletivos, o aprendizado em produção e maior envolvimento com audiovisual, já beirando os 50 a maturidade me colocou a entender que era necessário entregas e diálogos em políticas públicas da cultura. 

Hoje, com 58, gosto de apurar o que vivi e das experiências, construir o novo e sonhar com futuros; tanto que estou concluindo minha primeira formação acadêmica (produção cultural), depois virá uma pós e doutorado.

Venho de uma família simples, com valores éticos e humanidade, o que me fez corajosa e forjou uma pessoa forte. Então os enfrentamentos e desafios também são parte da minha trajetória. 

Na verdade de minha geração, principalmente das mulheres. Nos (re)posicionamos de todas as formas: seja em relacionamentos seja no mercado, brigamos muito não aceitando condicionamentos ou que nos desqualificassem, entendemos que capacidade  não está medida no gênero. Estas discussões se agigantaram nas novas gerações, nos inspirando ainda mais.

No eixo da cultura estas questões “parecem mais suaves”, ou são melhor mascaradas. Na produção de filmes por exemplo, ainda são poucas mulheres em funções principais, brigamos por indicadores em editais para mulheres na direção e técnica. Acredito que as lutas, inclusive de gênero, estão redesenhando a sociedade, por consequência  o mercado. Minha geração abriu o diálogo e fez enfrentamentos, mas nada se compara a coragem desta geração que aponta as mudanças comportamentais de fato, que se impõe e chuta o balde sem medo.

No entanto, ainda temos muitas discussões a travar. 

Serão el@s os protagonistas do mundo como um lugar bom de conviver e viver. E a arte, a cultura, tem grande relevância nestas transformações. 

Somos um mercado potente, um valor importante no PIB nacional (2,64%). 

Os jovens já não se condicionam às escolhas dos pais para a profissão, por fim, ainda bem, daqui a pouco teremos o mesmo tanto de advogados, engenheiros e artistas. Claro, por consequência um mercado mais competitivo, o que é ótimo. A democratização de acesso a equipamentos, técnicas e tecnologia promoveu isso. 

Temos diversas novas profissões neste viés da tecnologia e da inteligência das coisas. Mas precisamos nos atentar para questões importantes desse processo: Hoje as coisas, principalmente imagens no mundo virtual, estão descartáveis, se faz selfie e filme de tudo, se entrega 200 fotos iguais ao cliente e muitos são, ou querem ser, “influencer digital” ou potencial. É nova e importante profissão, que como todas as demais precisa de responsabilidade com o que se entrega ao público.

É necessário muita reflexão sobre isso. Que imagens deixaremos registrando a história da humanidade? Penso que são muitos desafios que a humanidade precisa enfrentar e transformar para questões de normalidade, de equidade social. Mulheres na política é um deles e de extrema importância; ocupar cargos de chefia – em qualquer segmento; não ser vista como vilã por ser a provedora de recursos da casa – o que não desqualifica o homem; enfim o machismo patriarcal é a principal desconstrução a ser trabalhada.

Ainda que sejam importantes estes marcos históricos, não gosto nada dos pragmatismos de datas para determinadas discussões. Penso que todo dia é tempo – necessário – de se falar de câncer de mama, de direitos, de negritude, de LGBTQIA+, de justiças sociais e todo assunto que precisa ser falado e transformado, para o momento e além futuro. Como disse a Baby: “todo dia é dia de índio””.


“Meus maiores desafios eram provar que eu não era um sexo frágil”

Iriscelia Alves Bezerra (Iris), 58 anos, Gerente Administrativo/Financeiro – “Comecei a trabalhar aos 15, vendendo roupas, me formei em Administração, função que exerço até hoje. 

Meus maiores desafios eram provar que eu não era um sexo frágil e desprovida de capacidade. 

Hoje as mulheres já conquistaram muito, o maior desafio atual é o respeito. 

O Dia da Mulher traz  todo esse tema, o quanto nós  mulheres temos a doar com nossa capacidade de liderança, de sagacidade, expertise, e a prova está aí para todos verem: mulheres governando divinamente vários setores, nós não nos limitamos a sermos somente  esposas e mães, estamos lutando a cada dia por RESPEITO. 

Ainda temos muito a conquistar, quebrar as correntes do machismo, que ainda existe gritantemente em nosso meio, mas estamos sempre unidas para essa batalha”.

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