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Dia Mundial da Alimentação: especialistas falam sobre a importância de uma alimentação saudável

O Dia Mundial da Alimentação é celebrado neste sábado (16). A data foi instituída pela ONU em comemoração à criação da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), e é lembrada em mais de 150 países como um importante momento para chamar  atenção da opinião pública sobre questões relativas à nutrição e à alimentação.  

Um ponto que vem sendo discutido de forma mais abrangente é o consumo de alimentos que contém glúten – muitas pessoas o cortam por dieta, mas há quem sofre com a doença celíaca, que é uma reação do sistema imunológico ao glúten (proteína encontrada em cereais como o trigo, o centeio, a cevada e o malte). 

No Brasil, ainda que os números não sejam precisos, a Federação Nacional das Associações de Celíacos (Fenacelbra), estima que pelo menos dois milhões de pessoas tenham a doença, muitos ainda sem diagnóstico. 

Muitas pessoas também sofrem com intolerância à lactose e os números são ainda maiores: segundo dados da pesquisa Datafolha, no Brasil, 35% da população com idade acima de 16 anos (cerca de 53 milhões de pessoas), sofrem algum tipo de desconforto digestivo após o consumo de derivados do leite. 

Nesta reportagem, o Página 3 ouviu especialistas que apontam a necessidade de a população geral procurar manter uma alimentação saudável e, para quem é celíaco ou possui algum tipo de intolerância, seguir a dieta adequada. 

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Descascar mais e desembalar menos 

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A nutricionista Gracieli (foto Arquivo pessoal)

A nutricionista Gracieli Schwingel explica que, para ter uma alimentação saudável é importante incluir na rotina alimentos ricos em vitaminas e antioxidantes como uma salada bem colorida, frutas variadas, sementes e castanhas, raízes e tubérculos, ovos, carnes magras e peixes, evitando consumir em excesso massas e pães, embutidos com alto teor de sal, alimentos industrializados como bolachas recheadas e refrigerantes. 

“Ou seja, é importante a gente ‘descascar mais e desembalar menos’, como faziam nossos avós. Muitas pessoas não têm consciência da importância de colocar em prática no dia a dia essas pequenas mudanças para a saúde. Investir na alimentação é o mesmo que investir na saúde a longo prazo e gastar menos recursos com remédios no envelhecimento promovendo longevidade. É preciso destacar a importância do acompanhamento por um profissional, um nutricionista, para avaliar cada indivíduo individualmente e elaborar um plano alimentar de acordo com as necessidades específicas para cada paciente”, afirma. 

Lactose e glúten 

Celíacos, intolerantes e sensíveis devem seguir dieta (foto Divulgação)

Segundo Gracieli, para se ter uma alimentação saudável e equilibrada é necessário consumir todos os alimentos, porém sem excessos. Ela vê que as pessoas normalmente tendem a exagerar no consumo de lácteos, assim como pães, farinhas e massas.

“Esses alimentos possuem em sua composição proteínas de alta digestibilidade como a caseína e a gliadina que quando consumidas em excesso, por algumas pessoas, podem não ser digeridas completamente e gerar inflamação no intestino. O que chamamos de sensibilidade alimentar, gerada por algum alimento específico. Contudo, existem casos mais específicos de intolerâncias alimentares, como é caso da intolerância ao glúten, também chamada de doença celíaca. Sendo considerada uma doença complexa, no qual a pessoa tem uma reação imunológica quando exposta ao glúten, o que leva a uma lesão severa no intestino. É necessário diagnóstico médico e se faz necessária a retirada completa do glúten da dieta”, diz. 

A nutricionista cita ainda a intolerância à lactose, que ocorre porque a pessoa não produz ou produz pouco da enzima chamada lactase, que é importante para a digestão da lactose no intestino.  

“E a lactose quando não digerida gera sintomas desagradáveis como gases e diarreia, também gerando lesão no intestino. Pode vir a ocorrer por natureza genética, fatores como a idade que diminuem a produção, ou até mesmo uma lesão intestinal que pode ser por uma doença (infecção viral ou bacteriana ou reação imunológica) ou até mesmo cirurgia de intestino”, acrescenta. 

Pandemia x maus hábitos 

A pandemia trouxe diversas mudanças, e uma das medidas popularizadas durante esse período foi a de trabalhar em casa. A nutri pontua que o homeoffice trouxe uma mudança nos hábitos alimentares da população – o que pode ter aumentado o ganho de peso e contribuído para aumento do sobrepeso e obesidade.

“Estar em casa por um longo período aumentou as armadilhas calóricas. Muitas pessoas passaram a ingerir alimentos que proporcionam mais praticidade, como alimentos prontos ou optando por pedidos de fast foods através dos aplicativos. Além disso, pelo envolvimento no trabalho passaram a pular refeições, beliscar alimentos ou ter práticas inadequadas ao se alimentar, como comer enquanto trabalha”, analisa. 

A pandemia trouxe maus hábitos, como comer enquanto trabalhamos (foto Divulgação) 

Gracieli diz que o ideal, diante do contexto atual, é que as pessoas tenham disciplina e planejamento com a alimentação. 

“O ideal é manter um acompanhamento com nutricionista e é importante planejar com antecedência as compras dos alimentos da semana e ter sempre refeições prontas disponíveis para manter a alimentação saudável na sua rotina. Se a pessoa tiver tempo e gostar de cozinhar, seria interessante preparar refeições e deixá-las separadas em porções, facilitando assim em dias mais corridos. Ou até mesmo optar por serviço de marmitas congeladas”, aconselha. 

Dicas da nutri 

A nutricionista aproveita para deixar dicas: em casa é recomendável seguir algumas estratégias para evitar o excesso de consumo de alimentos, principalmente aqueles mais tentadores, de baixo valor nutricional e alto valor calórico. 

“Por exemplo, evitar comprar esse tipo de alimento e optar por deixar à disposição alimentos mais saudáveis como frutas, iogurtes, castanhas e cereais.  Outra medida que pouca gente se dá conta da importância é destinar um horário oficial para realizar as refeições, ou seja, interromper o trabalho para que possa valorizar a refeição e perceber a quantidade de alimento que está ingerindo”, comenta. 

Nutri sugere planejar e deixar marmitas prontas para a semana (foto Divulgação) 

A orientação para a hora da refeição é não ter aparelhos eletrônicos à mesa, a atenção deve estar toda ao momento da refeição, porque os estudos mostram que se você estiver fazendo outra coisa na hora de comer, a tendência é que você coma mais do que deveria. 

“Mastigar bem e comer de forma mais lenta também são indicados para melhor digestão e perceber o que e quanto está comendo. Por fim, estabelecer uma rotina de horários para a alimentação também é crucial para o equilíbrio do peso. Ter uma boa noite de sono, de 7 a 8 horas por noite, pode diminuir a fome e ajudar na saciedade”, completa. 


Comer bem, faz bem: cuidados com a alimentação da criança e do adolescente

Priscila e sua ajudante fantoche, Madame Nutrilda (foto AMA Litoral) 

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A nutricionista da infância e da adolescência Priscila Magalhães atua na AMA Litoral há três anos, atendendo crianças e adolescentes autistas. Hoje a AMA assiste quase 100 pacientes. 

“Na instituição temos vários terapeutas e a nutrição entra junto. Acontece o atendimento clínico junto do paciente e faço a investigação da alimentação (para saber o hábito alimentar), junto de análise de exames laboratoriais. Antes do diagnóstico (autismo), trato do paciente como um todo, vendo-o como um indivíduo de forma integral, pois a alimentação está totalmente atrelada ao crescimento e desenvolvimento. A alimentação precisa ser vista como algo natural, que faz parte da vivência. As crianças gostam de participar, de interagir com o alimento. Podem ajudar a cozinhar, a preparar um lanche, a arrumar a mesa, por isso incentivamos que as famílias participem, através de oficinas culinárias”, diz.

Combinações nutricionais 

Crianças podem aprender sobre os alimentos de forma lúdica (foto AMA Litoral)
Foto: Adolescentes podem ir para a cozinha e fazer seu suco ou comida (foto AMA Litoral)

Priscila trabalha com a terapia alimentar, inclusive de maneira lúdica, com a fantoche Madame Nutrilda, sua ‘ajudante’ que também é nutricionista. 

O objetivo é aproximar o paciente do alimento, através de combinações nutricionais – por exemplo, o que combina com banana, o que combina com macarrão, etc. 

“Quando falamos de crianças e até mesmo adolescentes com TEA, podemos ter a seletividade alimentar, como o consumo somente de um tipo de suco, um tipo de biscoito. É comum que só come se for a mãe que preparou, por isso temos a prática, onde o paciente tem contato com a cozinha, com o alimento, trabalhando junto com a terapeuta ocupacional e fonoaudióloga também. É um trabalho realmente integrativo, com foco no paciente de forma integral”, acrescenta.

Sonda aponta que o sedentarismo é algo muito preocupante, e que com a pandemia muitas pessoas deixaram ainda mais de lado a atividade física, já que por muito tempo ficaram sem sair de casa. 

Cada paciente é tratado de forma individual 

No caso dos autistas, a profissional lembra que há terapias de estímulo, para potencializar habilidades, e que isso está totalmente atrelado à alimentação, já que o corpo precisa estar nutrido.

 “O autismo possui desordens neurológicas, alterações em relação a alguns comportamentos, mas também possui relação com absorção de nutrientes e digestão. Quando nosso corpo está nutrido, tudo funciona melhor, pensando no autismo, esse corpo está preparado para receber os estímulos e ter um bom aproveitamento como, por exemplo, nas terapias”, explica, lembrando que muitas pessoas acreditam que para comer bem exige trabalho e é caro, mas que isso não é verdade.

“Não existe dieta pronta de gaveta ou de internet, cada paciente precisa ser tratado de forma individualizada. Não trabalho com dieta e sim com combinações alimentares de acordo com cada realidade, e quando envolve crianças e adolescentes, a família toda precisa mudar. Nesses três anos que estou na AMA, estamos tendo resultados maravilhosos, mas com a pandemia claro que houve casos de ganho de peso, colesterol alto, pré-diabete pelo consumo de açúcar. Mas agora, junto com as famílias e mudança de hábitos, incentivamos que seja para a vida toda, e não é só o que comer, mas como comer. Na AMA trabalhamos muito isso, temos momentos de aprendizado, de sentar na mesa, como manusear talheres, convivência com os amigos, autonomia para montar seu sanduíche, servir o suco no copo. São detalhes que fazem a diferença, e que podem ser colocados em prática a todo momento”, salienta.  


Educador físico aponta a importância da alimentação saudável e do exercício físico 

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Vinícius Sonda (foto Renata Rutes)

Vinícius Sonda é educador físico e personal trainer, ele conta que já teve alunos que possuíam intolerância ao glúten e outros à lactose e que nesses casos é indicado cortar os alimentos, mas que para quem deseja emagrecer o ideal é ter uma alimentação equilibrada – sem cortar 100% o glúten ou a lactose. 

“Não é necessário cortar totalmente, só se você possuir intolerância. Uma boa alimentação precisa ser balanceada com vitaminas, fibras, proteínas, como ovo, carne, carboidratos são fontes de energia. O que não pode é ter excesso de fritura, sódio. O ideal é comer a cada três horas, focando na qualidade do alimento. Não pode comer pouco, porque se não o seu corpo não terá fonte de energia”, explica. 

O personal cita que a falta de atividade física na nova geração, crianças e adolescentes, que hoje ficam mais em casa, na frente da TV, computador ou celular, brincando menos na rua ou fazendo exercícios, é preocupante.

“Eu indico, se puder, fazer exercício todos os dias, mas no mínimo três, quatro vezes por semana, treino de uma hora, 45 minutos. O ideal é seguir exercício programado por profissional. Há pessoas que nunca treinaram e que saem caminhando, correndo. Por exemplo, aqui em Balneário, nunca correu e vai subir a Estrada da Rainha. Correu 10min, cansou e parou do nada. É errado, pode dar uma lesão muscular, no joelho, articulação, coluna. Você precisa fazer o exercício de acordo com o seu limite e aptidão física. Não faça por conta, antes de começar faça uma avaliação física, um exame médico”, afirma. 

Estrada da Rainha atrai corredores, Vinícius aconselha que somente quem tenha preparo físico encare o desafio (foto PMBC)

“É mais fácil dar desculpa que está trabalhando homeoffice e não pode parar um pouco, outros preferem assistir Netflix no tempo livre, e então não organizam a agenda, o exercício não é incluído na rotina. Isso está errado, as pessoas precisam procurar se cuidar, priorizar a saúde. É possível treinar protegido, usando máscara. Há atividades ao ar livre também. Procure um personal trainer, o exercício físico ajuda também no emocional e espiritual. Sempre há tempo, tenho aluno com 78 anos que voltou a treinar e outros de 18 que começaram agora e dão desculpa, que não pode malhar tal dia porque trabalha, e no outro não porque vai encontrar os amigos, de manhã é muito cedo, à tarde não pode também. Atividade física precisa ser prioridade, não dê desculpa”, completa.


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