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Quem trabalha com o riso enaltece o quanto ele faz bem: “Rir é um ato de resistência”

Neste Dia Internacional do Riso, comemorado em 18 de janeiro, a reportagem do Página 3 ouviu pessoas que residem em Balneário Camboriú, que vivem de ‘fazer rir’, seja nos palcos, na internet ou no cotidiano, como Rizzih, que dá vida à famosa Déte Pexera, a influencer Yasmin Castilho, que acumula dois milhões de seguidores, as palhaças do duo As Mareadas e a atriz Potyra Najara.

Os entrevistados falam sobre a importância da profissão que escolheram, de levar alegria para o público e da emoção que carregam ao ver este público sorrindo. 

O comediante Paulo Gustavo, vitimado pela Covid-19, foi lembrado pelos artistas, porque deixou um legado e inspirou milhões de brasileiros, e principalmente quem vive do humor e se inspirava no ator. Acompanhe:

“Percebo que as pessoas me identificam pelo humor”

Rizzih, ator, cantor, compositor, poeta e roteirista; ele interpreta a personagem Déte Pexera, que faz sucesso no litoral catarinense

Foto: Rizzih interpreta a famosa Déte Pexera (crédito Arquivo pessoal)

“Eu sempre tive esse lado cômico, acredito que por influência dos meus pais, que também são cômicos. Na escola, eu imitava professores, as pessoas, fazia todo mundo rir, era algo muito natural, parte da minha personalidade. 

Quando eu comecei a fazer teatro, por ter essa veia cômica que parece que chega antes de mim nos lugares, naturalmente a minha carreira foi indo pra esse lado, mas eu queria ser ator dramático. Porém, por ser palhaço, eu sempre pegava os papéis cômicos.

A Déte, nem todo mundo sabe, mas não foi planejada. Quando as criações são muito pessoais, como ela foi, tende a refletir um pouco do criador inevitavelmente, funciona quase como um alter ego. Ela tem muito da minha mãe, das minhas tias, e eu sou muito parecido com a minha mãe, logo a Déte é muito parecida comigo em muitos aspectos, bocuda, expansiva, embora para as pessoas eu pareça tímido, quem me conhece melhor sabe como eu sou assim [como a Déte]. Percebo que as pessoas me identificam pelo humor, a maior parte do meu trabalho, que alcançou mais as pessoas, sempre foi a comédia. 

Eu vim do teatro, acham que eu comecei pela Déte ou pela internet, mas eu faço teatro há muitos e muitos anos, e vir do teatro me faz ter a construção do personagem, que reflete na história, na própria vida… isso reflete no resultado final, as pessoas se assistem ou assistem pessoas que fazem parte da vida dela, justamente porque vejo que a arte imita a vida, causa identificação.

O ator tem como inspiração os pais (credito Arquivo pessoal)

A fala do Paulo, “Rir é um ato de resistência”, foi icônica por ser dita no momento que foi, havia uma dificuldade tão grande. Achar motivo de rir era realmente a maneira mais poderosa de resistir a qualquer tristeza, à gravidade dos dias; quimicamente no nosso corpo é a maneira de resistir física, mentalmente e espiritualmente. 

A comédia foi parte fundamental para passarmos pela parte mais difícil da pandemia, é a maneira de fazer a vida mais tolerável – se cercar de arte, alegria.

Eu estava vendo um vídeo da Jout Jout (criadora de conteúdo) e ela fala que antes sonhava com muitas coisas, mas que agora só pede um ano massa. E é isso espero de 2022, faço das palavras dela as minhas. 

A minha nova tour da Déte já voltou a rodar SC, vou lançar um álbum novo… espero que seja um ano legal, que eu seja feliz e que possa fazer felizes as pessoas que acompanham o meu trabalho. 

Fico muito feliz por ser lembrado no Dia do Riso, isso serve como um mecanismo para eu lembrar o quanto o trabalho de fazer rir é nobre. 

Nem sempre levar alegria é fácil, nós que trabalhamos com o humor também ficamos suscetíveis ao medo, e assim lembro mais uma vez do Paulo Gustavo, dessa mensagem de continuar. Me revigora, fico feliz”.


“O riso cura”

Yasmin Castilho é influenciadora digital, acumula 2 milhões de seguidores no Instagram e faz sucesso com os vídeos engraçados que faz com o noivo, Lucas Provesi

Foto: Yasmin chama atenção pelo bom humor que exala nas redes; na foto, com o seu cão, Antônio (crédito Arquivo pessoal)

“Eu nunca aceitei que era engraçada. As pessoas sempre me falavam, mas nunca imaginei que poderia colocar isso na minha profissão, isso que é o mais legal. 

Depois que realmente não tive vergonha de ser na internet quem sou, foi quando tudo começou a dar certo e foi pra frente. 

Desde que era criança sempre gostei muito de brincar de gravar vídeo, eu gravava o Jornal Nacional e apresentava para o meu pai, ele nem precisava ler o jornal, eu que apresentava para ele. 

Eu pegava as minhas amigas para fazer teatro, dança, apresentações, sempre fui assim! 

Sempre gostei da câmera, e nunca imaginei que poderia trabalhar com isso, fazendo vídeo do jeito que gosto e como sou, e isso é muito legal.

Tem uma pessoa que admiro muito, que é a Tatá Werneck. Ela é um fenômeno. 

Antes de eu começar não tinha uma inspiração como ‘ah, meu Deus, eu quero ser isso’, sabe? Eu acompanhava muito blogueiras como Boca Rosa (Bianca Andrade), a Taciele Alcolea, e gostava muito do estilo de vídeos que elas faziam, que nos deixavam sentir mais próximas delas, mostrava a vida. E eu ainda gosto muito desse tipo de conteúdo. Mas eu nunca mirei em uma pessoa, eu simplesmente fui eu e deixei acontecer as coisas.

Yas divide momentos com o noivo, Lucas, figura frequente em seus vídeos diários (credito Arquivo pessoal)

Eu sempre uso a frase “O riso cura” e ela mexe muito, muito, muito comigo. Foi um dia em que eu estava pensando em o que colocar no meu Instagram, na bio, e me veio essa frase na mente: “Levando a sério a palhaçada” e “O riso cura”, porque eu acredito que o riso cura muita coisa! 

O sorriso e o riso contagiam, curam por dentro, curam traumas, depressões, tristezas… cura demais, cura a alma! 

O retorno dos meus seguidores com isso é incrível. Eles são demais, até me falaram esses dias o quanto é legal ver que eles vêm com tanto carinho falar comigo, pedir para tirar foto. E eu sinto muito isso, eles vêm com amor. A gente é amiga! E é isso que eu tento passar para elas, que podem contar comigo, que estou ali para fazer elas rirem. 

Quando entram no meu perfil, quero que esqueçam das coisas e só riam! Quando a gente ri, a gente fica mais leve. Muita gente se tranca muito, não quer achar tanta coisa engraçada, e eu acho tudo engraçado da vida! 

O que eu posso estar rindo, eu estou rindo, porque rir me deixa leve, me transforma! E cura. 

A importância da comédia, nos dias difíceis que vivemos, é a cura. Nos dispersamos, vamos para outros lugares.

Que neste Dia do Riso todo mundo possa rir demais, não só hoje, mas sempre. Que possamos tentar sorrir todos os dias – o riso cura, mas ele também contagia! Eu gosto de dizer que quando a gente sorri, a vida sorri de volta pra gente. Quando a gente sorri para alguém, às vezes aquele sorriso pode mudar tanto, pode fazer tanta diferença na vida daquela pessoa! Então sorria mais, não economize riso, rir é bom, gargalhar é bom! Ria mais, porque o riso cura mesmo”.


“Os palhaços e palhaças são como uma ‘válvula de escape’ das pressões humanas”

Monique Neves (Palhaça Sorella) e Bruna Pierami (Palhaça Sollí) formam o duo As Mareadas, fazem shows em SC e outros estados desde 2016, representando a palhaçaria feminina e a cultura de Balneário Camboriú; atualmente ministram curso de teatro para crianças e adolescentes na cidade, com o Curso de Teatro Primo Atto

Foto: Duo As Mareadas (crédito Arquivo pessoal)

“O cômico é algo presente na vida de todos os seres, alguns mais explícito, outros mais discretos, mas o mais rabugento dos seres humanos, pode ser cômico. 

Nós somos duas pessoas que tivemos uma criação muito parecida, em famílias grandes, onde a comunicação, a interação e, consequentemente, o riso, sempre esteve presente espontaneamente. 

O momento que virou profissão foi quando decidimos trazer a ‘técnica’ para nossas brincadeiras, e passamos a estudar palhaçaria em cursos com grandes mestres e nossa própria pesquisa que resultou na dupla de palhaças As Mareadas.

Temos como referências grandes palhaços, como o palhaço de circo espanhol conhecido internacionalmente Charles Rivel, e também o icônico Charlie Chaplin. 

No Brasil temos Mazzaropi e também Ésio Magalhães com seu palhaço Zabobrim.  

Mas nossas maiores referências são as mulheres, da palhaçaria feminina, que vem ganhando cada vez mais força: As Marias da Graça, um dos primeiros grupos de palhaças do Brasil, a palhaça Rubra, a palhaça Barrica, a palhaça Marmotta, Circo do Solaides e palhaça Malagueta são uma das muitas referências que  temos, dentre tantas outras mulheres palhaças incríveis que temos no planeta. 

Bruna e Monique destacam a palhaçaria feminina (credito Arquivo pessoal)

A mulher sempre esteve ligada a um modelo de “ser perfeito”, a esposa perfeita, a mãe perfeita, a avó perfeita, a menina exemplar, recatada e do lar. 

Já o cômico vem a partir da ampliação de nossas imperfeições, onde gera o riso através do reconhecimento de nossas falhas. 

Por este motivo as mulheres por muito anos sofreram preconceito e até mesmo foram excluídas do cenário cômico historicamente. 

Porém, ultimamente isto tem mudado bastante, e com muita luta, as mulheres vêm tomando seu espaço na comicidade. Trazendo não apenas piadas machistas do universo masculino, como muito predomina nas antigas piadas e números, mas trazendo questões das vivências femininas e retratando o riso através da visão das mulheres. 

Isto é de extrema importância para a universalização do riso, ampliação do alcance de público e principalmente pela representatividade dos anseios e das experiências femininas, tanto dentro quanto fora do Brasil.

Os palhaços e palhaças são como uma ‘válvula de escape’ das pressões humanas. Não somente para as crianças, que logicamente se divertem com as trapalhadas de uma figura cômica, mas também para os adultos, que tem no riso um momento sublime de recuperação da alma. 

O público percebe que a vida não precisa ser levada tão a sério… Que pode se ter leveza, e poesia em nossa trajetória, e se algo der errado, ou fora do planejado, podemos simplesmente sorrir e seguir em frente. 

Já para o artista, com o nariz vermelho, ouvir as risadas do público e o brilho nos olhos das pessoas, é o mais incrível dos troféus. É a completa sensação de dever cumprido, e  o coração preenchido com a alegria de trazer alegria. Não há explicações, somente sensações eternas, quase que divinas, de se estar trazendo cura e vida, com o riso.

O riso nos tempos em que estamos vivendo, não é apenas importante, mas vital. É questão de saúde pública, tanto física quanto mental e ouso dizer espiritual, pois o riso alcança a alma e o espírito das pessoas. A conexão com o cômico é essencial para o equilíbrio da vida, pois a vida foi feita para ser ‘sorrida’”.


“A risada é fundamental no nosso cotidiano”

Potyra Najara, atriz, escritora, circense, contadora de histórias e palestrante

Foto: A atriz Potyra Najara (crédito Arquivo pessoal)

“Com os meus, família e pessoas próximas, a gente dá muita risada naturalmente, mas eu socialmente não me acho tão engraçada, sou até um pouco mais séria. Eu sou atriz, minha formação é em teatro, e a gente acaba trabalhando com vários gêneros, já fiz espetáculos de tragédia, drama, infantil, e também dentro do teatro montamos espetáculos de comédia, como o Arrox Cum Ovo, que está fazendo 11 anos.

O público recebe, deseja, tem necessidade do riso, do humor, de estar no teatro para valorizar a comédia. O Arrox Cum Ovu é muito essa resposta, é um dos meus espetáculos que têm vida mais longa. Ele mostra o cotidiano, a relação engraçada, como o nosso ambiente familiar é engraçado. 

É bacana porque o público consegue identificar humor na convivência dessas duas amigas. Fez tanto sucesso que virou canal no YouTube e também se tornou um curta o Arrox Cum Ovu em: Vai dar Bolo?, que já teve estreia no Teatro Bruno Nitz e participou de Festival de Cinema, e neste ano estará disponível para o público.

Potyra com sua colega de Arrox Cum Ovu, Bruna Froehner (credito Arquivo pessoal)

Eu gosto muito das nossas humoristas, Tatá Werneck, Ingrid Guimarães… não tem como não falar de Paulo Gustavo. Quando o mundo perdeu o Paulo foi como eu perder um parente, eu não o conheci pessoalmente, mas essa figura de humor, de ser humano, trazendo sua vida cotidiana para perto da gente… foi diferente. Ele rompeu barreiras, fez escola de teatro, uma peça, e conseguiu ir para o cinema e alcançou o Brasil inteiro, sendo uma referência como ser humano e artista. 

Tem Os Barbixas também, que gosto muito. Eu gosto de poder ter referência de nossos artistas brasileiros, como o Porta dos Fundos que faz um humor bem inteligente. E também valorizo muito o trabalho que fazemos na nossa região, como o Rizzih com a Déte. 

No Arrox Cum Ovo também trabalhamos com a cultura açoriana, com sotaque.

Potyra e sua perna de pau (credito Arquivo pessoal)

Me sinto muito feliz pelas mulheres em geral estarem ocupando o espaço que é delas também, incluindo o humor. Podemos fazer piada, falar de sexo, falar palavrão… afinal, por que mulher não pode se expressar da maneira que considerar adequada para exercer o humor? Não existe lugar da mulher ou do homem, e ser humorista é uma profissão, o que a mulher quiser ocupar como profissão, humorista é uma delas, ela pode e deve.

A risada é fundamental no nosso cotidiano, pode ser entre os nossos, na nossa intimidade, na nossa individualidade, no cinema, na literatura. 

O riso nos alimenta, nos deixa numa condição psicológica melhor, mais elevada, fluída. 

A gente tem falado tanto de doenças emocionais, tanta gente que não está sabendo lidar, considerando esse momento pesado e tão difícil, de tanto medo e tanta perda. 

Espero que a gente não perca a essência do riso, da alegria, que a gente possa encontrar em nós o divertido, o risível em nosso cotidiano. 

“Rir é um ato de resistência”, cito Paulo Gustavo. 

Rir é o nosso escudo de proteção no momento em que estamos vivendo, se ainda formos capazes de rir de nós, do outro, estamos cometendo um ato de resistência, que é o que mais importa para sobrevivermos. Vamos rir!

Aproveito para contar que neste ano estou com um livro novo que vai ser publicado, sobre contos de educação emocional, estou com um projeto em Camboriú de contação de histórias nas escolas públicas e apresentações de perna de pau na praça e centro de Camboriú”.


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