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Balneário Camboriú
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Três décadas e meia depois, Camelódromo é um atrativo turístico consolidado em Balneário

O Camelódromo de Balneário Camboriú está completando 35 anos neste mês de outubro. O local, que abriga mais de 250 lojas modernas e bonitas – algumas até com dois andares e ‘vitrines’, se transformou com o passar dos anos e hoje conta com cobertura (finalizada recentemente), que impede um problema que foi por anos uma ‘pedra no sapato’ dos comerciantes, a chuva.  

O Página 3 esteve no camelô nesta semana para conversar com lojistas, que dividem suas opiniões sobre o empreendimento, além de destacarem a importância do centro comercial para a cidade. O jornal também ouviu o secretário de Turismo, Geninho Góes, e representatividades ligadas ao comércio. Confira.

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“No começo, para movimentar, foi difícil”

Daniel Costa é subsíndico do Camelódromo, dono do box 244, nascido em Itajaí, mas criado em Balneário Camboriú, ele é casado com Mariza Gomes de Góes, que começou a trabalhar com ele no camelô em 1995, na praça da Avenida da Lagoa. Eles são pais de Maíara, que é advogada e tem 26 anos hoje, e ficava no box com o casal desde que nasceu, e Junior, que nasceu quando Daniel e Mariza já tinham banca no local de hoje do camelô e trabalha com os pais. 

“Quando saí da praça da Lagoa, montei a minha empresa de presentes, decorações e acrílicos, mas acabei fechando e há quase 20 anos estou no camelô perto da igreja Santa Inês. Fui conselheiro do condomínio e hoje estou subsíndico”, conta.

Daniel, no centro, e família… todos possuem ligação com o camelô

Relembrando a época da praça da Avenida da Lagoa, Daniel salienta que o local era abandonado e que quando se mudaram para lá [antes o Camelô era na Avenida Atlântica] que começou a vigorar, pois na época havia um grande movimento de argentinos.

“Assim que o camelô saiu da Avenida da Lagoa o movimento lá caiu e antes atraía muita gente, de segunda a segunda, como abríamos todos os dias sempre circulava muita gente. Eu tinha muitos amigos que trabalhavam na época da praia ainda, e minha vinda para o camelô foi através deles. Quando começamos no local atual já pudemos fazer os boxes fixos, com madeirite e cobertos com lona, nesse período eu mantive banca aqui [no camelô da 1.520] e também no Schroeder [na Avenida Brasil]. No começo, para movimentar, foi difícil. Muitos desistiram, venderam ponto, vivenciamos uma fase bem complicada”, relembra.

Hoje os boxes são verdadeiras lojas

Porém, após esse início veio o verdadeiro ‘boom’ do local – no início dos anos 90 e 2000 o camelódromo era um point de turistas, principalmente pela venda de artigos como CDs e DVDs, além de roupas e tênis, eletrônicos, bebidas, etc. 

Com isso, o atrativo virou também alvo da Receita Federal, que realizava batidas frequentes no local.

“Fomos nos ajustando e saiu um pouco dessa linha, as empresas foram se adequando, hoje no camelô são mais lojas e em sua maioria trabalham com produtos nacionais e com importadoras. Somos quase um centro comercial, temos captação de água da chuva, reciclamos 90% do lixo, temos produtos de qualidade. É um grande orgulho ver essa transformação e temos perspectiva de melhorarmos ainda mais. Moradores, turistas, a sociedade toda vem e diz que ficou fantástico, pois não faz mais calor, a chuva não atrapalha mais. Agradeço a todos que colaboraram, quem acreditou que podíamos nos transformar, inclusive o público ao redor, moradores e empresários, o resultado valeu a pena”, afirma.

“Vamos continuar nos transformando”

Chuva não é mais um problema, agora o camelô tem cobertura (foto Renata Rutes)

Daniel cita que quando chovia (principalmente no verão) a água se acumulava em cima das lonas e até mesmo ‘dava um banho’ em quem passava pelo camelô. 

“Vamos continuar nos transformando, Balneário é uma cidade em constante evolução e temos que acompanhar ela. Pretendemos fazer, em um futuro breve, melhorias na praça de alimentação. Queremos qualificá-la para trazer ainda mais clientes, fazer uma rua moderna, os banheiros vão ser reformados também. Mas as mudanças que fizemos nesses últimos anos já foram grandiosas. Estamos com excelentes expectativas para o verão, o alargamento da faixa de areia deve atrair muitos turistas”, completa.

“Apesar de a gente usar o nome ‘camelô’, não se trata mais disso”

Júnior está no camelô desde 1999 (Foto Renata Rutes)

Odenir de Assis da Rocha Júnior, 36 anos, trabalha no camelô desde 1999 (por cinco anos como funcionário e então abriu a sua loja – teve box nos três camelôs, o da igreja, o da 2.400 e o Schroeder) e hoje é proprietário da Box Tunning Bike Shop (box 20), além da unidade na Rua 1.500, com oficina especializada.

“Nossa expectativa para o camelódromo é que ele vai crescer bastante ainda, até porque de um tempo para cá os comerciantes passaram a perceber que, apesar de a gente usar o nome ‘camelô’, não se trata mais disso. Somos empresários. Oferecemos o melhor produto, de qualidade e de forma profissional, com o chamariz que é o melhor preço. Aqui procuro vender os melhores produtos, roupas, bikes e acessórios”, opina, citando que tem muito orgulho de ver como está o camelódromo hoje, e que a cobertura transformou o local – acabando principalmente com a problemática da chuva, que acabava com o movimento.

Quebra de paradigma

Júnior pontua que, pelos lojistas terem se profissionalizado mais, houve uma quebra no paradigma de que no local ‘é barato, de má procedência e não presta’. 

“A safra de empresários no camelô mudou, somos uma safra de comerciantes muito importante, que pode ditar tendências na cidade. O síndico do camelô, Nelson Oliveira, até mesmo citou em uma formação que tivemos há um tempo que a circulação de pessoas que temos aqui é maior do que a do Balneário Shopping, que é referência, e com os dias chuvosos junto com eles somos uma opção para os dias chuvosos”, informa.

“Aqui é a minha essência”

Júnior e seu box, que tem dois andares e até vitrine (foto Renata Rutes)

O empresário aproveita para contar que construiu a sua vida no camelô – é de lá que cria seus filhos, que consegue sustentar sua família, e inclusive um de seus filhos e seu cunhado trabalham com ele. 

“Emprego sete funcionários, já cheguei a empregar 14. São famílias diretamente atingidas por esse comércio. Considerando essa organização, visão de mercado, e as novidades da cidade, como o alargamento da faixa de areia, tenho certeza que essa temporada vai ser espetacular, a melhor dos últimos cinco anos. Acredito muito no potencial do camelódromo, aqui é a minha essência. Tenho outra loja, mas é daqui que sou, foi aqui que comecei, em 1999, ganhando R$ 1.200,00 por mês, consegui criar a minha família, e viver o sonho que era morar em Balneário Camboriú”, salienta.

Para o futuro do Camelô, para ficar ‘perfeito’, segundo Júnior, é preciso que seja construído estacionamento – inclusive há um projeto sobre um prédio com vagas, que deve ser construído nas proximidades; além de melhorias na praça de alimentação, com mais opções para o público.

Mudança foi ‘grandiosa’

Nicolaus é o camelô mais velho em atividade, ele tem 88 anos (foto Renata Rutes)

Nicolaus Trupos, conhecido como ‘Vô’ ou ‘Grego’ no Camelódromo, tem 88 anos e conhece o camelô desde a época da praia, mas tem box (nº 25) no local desde 2007. 

Ele conta que conhece Balneário Camboriú desde 1962, ainda antes da emancipação. Primeiramente morou em São Paulo, depois em Florianópolis (‘na época em que o governador era Colombo Salles’, segundo ele – entre 1971 e 1975), onde vendia peças para lambretas e vespas, e então mudou-se para Balneário. 

“Eu comecei no camelô em 2007, faz 14 anos. A minha banca é de ferramentas, mas comecei com banca de roupas, depois troquei para ferramentas e minha família também tem de perfumaria e cosméticos”, conta.

Grego afirma que a mudança que o local passou nos últimos anos foi ‘grandiosa’, relembrando que as bancas eram menores, cobertas com lona, ‘bem feinhas’ e também perigosas para trabalhar, mas que agora está ‘muito bom’, com aspecto de uma feira comercial. 

“Hoje é um centro comercial ao ar livre, está mais politizado, pessoas mais profissionais, é mais democrático. Eu sou o mais velho que todos aqui dentro! Tenho 88 anos, nasci em 1933. Venho todos os dias ajudar, trabalhar eu não trabalho mais (risos), mas estou sempre aqui, ajudando com a parte financeira”, explica.

Futuro: praça e cooperativa de compras

O comerciante opinou também sobre o futuro do camelô, a praça que pode ser construída na frente da igreja Santa Inês, dizendo que ‘não seria nada mal’ porque Balneário não possui muitos locais de integração para a comunidade. 

“Não tem lugar para criança brincar, seria bom se fizessem essa praça, sim. Mas sobre o camelô, está muito bem. Ainda tem o que melhorar, mas são problemas que dá para resolver. Criar uma cooperativa de compras seria muito bom também, porque aqui tem muita diversidade de produtos, porque assim poderíamos comprar juntos, mas temos que nos unir mais também, assim conseguiremos ter mais lucro, comprando através de uma cooperativa”, diz.


Opiniões

“Atende as necessidades de compra de quem nos visita”

Geninho Góes

Geninho Góes, secretário de Turismo de Balneário Camboriú

“O nosso comércio é rico e diversificado e isso faz dele um atrativo o ano todo. Acredito que o camelódromo faz parte deste segmento tão importante para a economia da nossa cidade e que atende as necessidades de compras de quem nos visita”.


“Houve momentos de tensão, sim”

Luciene Cristine Vieira

Luciene Cristine Vieira, diretora de relações institucionais da Câmara de Dirigentes Lojistas de Balneário Camboriú (CDL-BC)

“A nossa história com o camelô é longa, sei de histórias do meu pai, Luiz de Aquino Vieira, que foi presidente da CDL e acompanhou de perto essa situação. Os camelôs ficavam na praia, na calçada, a maioria vendia artesanatos inicialmente, mas depois passaram a vender produtos diferentes, do Paraguai. Eles ocupavam o calçadão da Atlântica, às vezes era até complicado caminhar. Meu pai começou a ficar preocupado, começou um movimento muito grande para tirar eles dali, e então eles foram realocados para onde é hoje o Hotel Mercure, atrás da praça Almirante Tamandaré. Ali havia um terreno e foi o primeiro camelô da cidade. 

Depois esse local foi vendido e eles foram para a Avenida da Lagoa. Lembro que era chão batido, as barracas eram de madeiras. 

Tem até uma história engraçada: um dia eu fui até lá visitar uma amiga, a Teka, que tinha banca no local

Era inverno, eu estava de saia e meia-calça, e uma barata gigante subiu pela minha perna, e não conseguíamos tirar (risos). 

Ela parecia pré-histórica, porque era enorme, vermelha, e não saía por nada. 

Depois disso, eu fiquei muito tempo com medo, achando que outra barata podia subir pela minha perna (risos), não gosto de barata até hoje por esse trauma. 

Era realmente um lugar muito sujo, não tinha ordem. Era feio para a cidade, e tinha também muito comércio ilegal lá, os próprios funcionários reclamavam que trabalham direto, que não tinha hora para saírem, e não eram registrados em carteiro. 

Hoje até brincamos que o camelô deu certo por conta da CDL (risos). Porque nós incentivamos que eles se registrassem, que tivessem CNPJ, que se legalizassem. 

Tinha muita pirataria também, e precisávamos denunciar para a Nike, Adidas, porque era injusto vendermos as originais e eles as falsificadas. Diziam que era produto de primeira e segunda linha, mas não existe isso! É pirataria. 

Sofremos bastante represália quando eles saíram da praia, eram agressivos, alguns quebravam as nossas vitrines, jogavam pedras. Queriam nos amedrontar com agressividade. Houve momentos de tensão, sim. Hoje os camelôs são muito mais organizados do que nós (risos), eles sempre foram muito fortes porque precisavam dessa união para continuarem. E é um local famoso, atrai turistas, se esmeraram e deu certo. Hoje tem uma relação boa, mas infelizmente ainda existe ilegalidade ali, ainda há pirataria. 

Vejo que está na hora de evoluírem de fato, de crescerem, serem legalizados de verdade. Eles estão em um ponto maravilhoso, é uma vitrine para Balneário, e precisam ser uma vitrine bacana. 

A estrutura física hoje está muito bacana, mas ainda me preocupo com a questão da pirataria. Os comerciantes são muito fiscalizados, e é complexo com eles, não sei como funciona a questão de troca, de garantia. Como consumidora, acredito que ainda precisam melhorar muito”.


“Não fere mais a imagem de nossa cidade”

Hélio Dagnoni

Hélio Dagnoni, presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Atacadista de Balneário Camboriú (Sindilojas BC)

“Vejo que o camelô de Balneário Camboriú é muito bem organizado, está muito bem estruturado, hoje participam até como um ponto turístico de nossa cidade. 

Os turistas que vêm e procuram por algo diferenciado, encontram lá. 

O camelódromo está muito bem administrado também e não fere mais a imagem de nossa cidade, veio para somar, tanto que está mais para um centro comercial do que para camelô. Há muitas mercadorias de qualidade, eletrônicos, até adegas. Houve uma evolução muito forte, eles se inspiraram muito no comércio geral, viram a necessidade de profissionalização e atendimento de qualidade. 

A competitividade, que é legal, é também boa no sentido de incentivar os lojistas e movimentar a cidade toda. São mantenedores de famílias, empresas constituídas. Desejo sucesso”.


“Entendemos que ainda precisa ser aprimorado”

Antônio Demos (foto Renata Rutes)

Antônio Demos, presidente da Associação de Micro e Pequenas Empresas e Empreendedores Individuais de Balneário Camboriú (AMPE BC)

“Percebemos uma evolução muito grande, em vários aspectos, como qualidade do serviço, atendimento, diversidade de produtos. 

O camelô está muito bem localizado e hoje é referência. Muitas pessoas de fora vêm e se sentem na ‘obrigação’ de irem ao camelô, embora entendamos que ainda precisa ser aprimorado. 

A maioria deles [dos camelôs] são MEIs, mas não são nossos associados ainda, e gostaríamos que fossem, acredito que seria uma grande oportunidade eles se associarem, é apenas R$ 20,00 por mês. 

Ser associado da AMPE oferece ponto de vista de treinamento, assessoria, suporte principalmente na questão da qualidade dos serviços. Poderíamos contribuir para a quebra de paradigma de que no camelô produtos e serviços não são de qualidade. 

Me preocupo com a questão do atendimento, que poderia ser menos ‘agressivo’, além da questão da venda, principalmente no ponto da garantia e troca, e também com a política de preços, que divergem bastante de um box para o outro. Poderíamos fazer um treinamento nesse sentido. 

Gostaríamos de articular um encontro para apresentar a AMPE e nossos serviços. Aproveito para parabenizar a todos os empreendedores do camelódromo e desejamos sucesso.”


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