O feriadão da Proclamação da República foi mais uma amostra do que será a temporada em Balneário Camboriú. E até ‘lá’ setores do turismo precisam resolver um ‘pepino’ que veio junto com a pandemia: mão de obra para reforçar o atendimento em hotéis, pousadas, bares, restaurantes…
Segundo dados do Sindicato dos Empregados no Comércio Hoteleiro, Bares, Restaurantes e Similares de Balneário Camboriú e Região (Sechobar), com a pandemia foram demitidos cerca de 1.200 trabalhadores. A maioria foi embora para suas cidades ou mudou de área (empreenderam, conseguiram novos trabalhos, etc.).
Esta época, que normalmente é famosa em Balneário Camboriú e região como período forte das contratações, que tradicionalmente começa entre outubro e dezembro e segue até após o Carnaval, está enfrentando algo diferente: há cerca de 500 vagas abertas para trabalhadores que desejam atuar na área do turismo e as empresas estão com dificuldade para encontrar funcionários capacitados.
A Rede Pires realizou na quarta-feira (17) um mutirão para tentar preencher as vagas ofertadas (mais de 100) e, apesar de terem recebido diversos currículos, a maioria das vagas seguem abertas.
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1.200 trabalhadores demitidos na pandemia – há 500 vagas disponíveis hoje
Olga Ferreira, presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio Hoteleiro, Bares, Restaurantes e Similares de Balneário Camboriú e Região (Sechobar)
“Somente em nossa área do turismo, que engloba hotéis, pousadas, restaurantes, bares, lanchonetes e similares, foram 1.200 trabalhadores, aproximadamente, demitidos por conta da pandemia.
Há muitas vagas, em toda a nossa região (de Piçarras a Balneário Camboriú) há em torno de 800 vagas, sendo 500 são em Balneário.
Pela demanda que está sendo anunciada em relação ao verão muitas pessoas sem qualificação vão acabar sendo contratadas.
A oferta é tão grande que não vai dar tempo de fazer seleção adequada.
A grande maioria dos trabalhadores vêm de fora para Balneário, e vêm com a ideia de trabalhar e curtir, ou seja, não tem o mesmo comprometimento que o funcionário fixo.
Antes da pandemia estava havendo, na maioria dos estabelecimentos, uma manutenção das equipes, que estavam se mantendo de forma fixa, mas aí muitos trabalhadores foram demitidos.
E muitos foram embora de Balneário, buscaram outras formas de trabalho e não querem mais voltar, tanto para o turismo quanto para a nossa cidade, que tem um custo de vida muito caro.
O Sechobar, junto com o Sindisol (Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Balneário Camboriú e Região), realizou a convenção coletiva de trabalho, com 10% de reajuste do piso.
Depois que passar pelos três meses de experiência, o piso mínimo do turismo é de R$ 1.833 (área operacional, como camareira, é pago ainda a insalubridade, com o salário variando entre R$ 2.180 e R$ 2.200).
Pela ansiedade de contratar e de ser contratado, muitos trabalhadores também se sujeitam a ficar na informalidade, indo na onda de que é só para o verão, ‘só 3 meses, é ok ficar sem registro’.
Tem empresas também que tinham funcionários com 5, 10 anos de casa, recepcionistas com salário de R$ 3.800 pelo tempo que trabalhavam e que foram demitidos pela pandemia. E agora acham que é melhor pagar menos para quem está começando, mas estão tendo o retorno – a mão de obra sem a qualificação necessária.
Estaremos bem atentos e fiscalizando os estabelecimentos para saber se todos estão agindo na legalidade.
Garçons não podem ser contratados pelos 10% e não pagar salário, por exemplo.
Estaremos pedindo apoio junto ao Ministério Público para juntos fiscalizarmos e cuidar dos direitos dos trabalhadores. Vale lembrar que a nossa categoria exige um pouco mais, pois trabalhamos enquanto outros tiram férias, Natal, Réveillon, Carnaval. 24, 25, 31 de dezembro, 1º de janeiro.
É preciso comprometimento e um perfil adequado, atender com sorriso, tem que gostar!
Não pode ir trabalhar de ressaca no dia 1º. Tem que saber onde você está trabalhando”.
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Gastronomia e hotelaria afetadas pela falta de mão de obra
Isaac Pires, presidente do Sindisol (Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Balneário Camboriú e Região) e proprietário da Rede Pires e de unidades do McDonald’s de Balneário Camboriú e Itajaí
“O mercado voltou a aquecer, com a abertura de novos comércios, retomada econômica, e isso beneficiou também a hotelaria, gastronomia, comércio… Para nos mantermos dependemos de mão de obra, e pela grande demanda estamos tendo dificuldade nas contratações.
O mercado está com oferta maior do que procura.
É geral isso, no McDonald’s, por exemplo, também estamos contratando, normalmente temos facilidade por ser o primeiro emprego e atrair jovens, mas está difícil.
Estamos com 50 vagas em aberto.
Nossa expectativa é de uma ótima temporada e por isso estamos buscando reforçar equipes.
Já no caso dos hotéis, muitas camareiras hoje são diaristas.
As pessoas visualizam mais a curto prazo, não pensam ‘vou ganhar um pouco menos, mas vou ter um emprego durante todo o ano’.
E a maioria dos estabelecimentos quer equipe para o ano inteiro, queremos manter os funcionários.
Infelizmente tivemos a pandemia e muitos funcionários foram embora.
Nossa mão de obra sempre foi excelente e qualificada, temos que valorizar isso.
Indico que as pessoas procurem por empresas de tradição, comércios conhecidos, porque às vezes empresas novas podem fechar após o verão.
E os trabalhadores precisam entender que trabalhar com o turismo exige muita dedicação, mas vale a pena”.
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Hotel Sibara está com 32 vagas abertas
Osny Maciel Junior, gerente do Hotel Sibara
“Estamos anunciando as nossas vagas e está dando resultado, as pessoas estão ligando, pedindo endereço para enviarem seus currículos.
Temos vagas para todo o hotel, são 32, desde camareiras, recepção, mensageiro, auxiliar de limpeza (não exigem experiência, os funcionários são treinados dentro do hotel), e as técnicas – coordenador de restaurante, chef de cozinha, auxiliar de cozinha e coordenador de café da manhã (que exigem experiência).
Sabemos que muitos hotéis, incluindo o nosso, ficaram meses fechados; e o custo de vida da nossa região é alto, muitos trabalhadores foram embora, voltaram para suas famílias, há a problemática também de muitas pessoas que tiveram que ir embora porque não tinha creche para deixarem seus filhos.
A maioria de nossa mão de obra vem de Camboriú, Itajaí e Itapema, e a falta de transporte público também afetou bastante.
Pensando nisso, estamos fazendo premiações, dando bicicleta para nossos funcionários (quem indica um amigo para trabalhar no hotel e o amigo passa dos 3 meses de experiência, é premiado). O perfil para trabalhar na hotelaria é claro: precisa gostar de trabalhar com o público e de atender as pessoas e que saiba que vai precisar se dedicar ao trabalho aos finais de semana e feriados.
Tenho certeza, estou com pensamento positivo que vamos conseguir preencher essas 32 vagas. Estamos nos esforçando para isso. Vai ser um pouco corrido treinar, mas vamos conseguir.
Acabei de contratar um concierge para o hotel, que veio de Brasília pra cá procurar emprego e já contratamos ele.
Estão vindo pessoas de outras regiões e estados.
Algumas de nossas vagas são para a temporada, mas acreditamos que vai acontecer um aumento muito bom do turismo, porque o dólar está alto, o euro também, e com isso as pessoas estão deixando de viajar para fora e viajando mais internamente; vamos ter retomada dos eventos, e, por isso, prefiro acreditar que vamos continuar com a maioria dessas contratações de agora.
Nosso hotel tinha 140 funcionários, passamos para 35 com a pandemia e agora cerca de 110 – trabalhando para chegar novamente aos 140.
Balneário se reinventou durante a pandemia, muitos atrativos novos vieram, a faixa de areia foi ampliada… nos reinventamos para receber nossos hóspedes.
Com tudo novo que a cidade foi criando, vamos superar aos poucos essa lacuna entre baixa e alta temporada, Balneário tem que ser vista como turismo o ano inteiro – negócios, praia, atrativos e estamos nos moldando para isso”.
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“Trabalhamos quando todos descansam e também quando todos trabalham”
Margot Rosenbrock Libório é presidente do Balneário Camboriú Convention & Visitors Bureau e proprietária dos hotéis Rosenbrock e Bella Camboriú
“Até mês passado estávamos com 12 vagas abertas, conseguimos preencher sete, mas tem gente que começa e não dá certo, há casos engraçados, como um funcionário que trabalhou três dias e não voltou mais (risos). Temos um recepcionista que começou há 10 dias, outro que começou terça-feira (16). Vamos tentando, porque precisamos preencher as vagas.
Seguimos entrevistando e tentando.
Está geral a busca por funcionários, mas vejo que há 30 dias estava mais difícil, acredito que as coisas vão se ajustar e que daqui a pouquinho essas vagas vão estar preenchidas.
Às vezes, no caso de um equipamento muito grande, tem que fazer muitas contratações, o que demora um pouco mais para se ajustar, mas sinto que vai tranquilizar.
Tem pessoas de outros setores tentando trabalhar no turismo. A maioria são vagas que, se o colaborador se empenhar, gostar da empresa, pode ser contratado não apenas para o verão.
É um momento de muitas oportunidades. A pandemia gerou vários movimentos, teve a questão de pessoas que se descobriram empreendedoras, saíram do turismo e abriram seus próprios negócios, teve aqueles que foram trabalhar em outro setor porque o turismo demorou para retornar (junto com setor de eventos foi um dos que mais demorou a voltar) e teve também quem voltou para cidade de origem.
Agora que a retomada acontece e que veem que a remuneração média em nossa região é boa comparada com outros lugares do país, muitos até pensam em voltar para Balneário.
A qualidade de vida é muito impactante.
Temos colaboradores que retornaram para BC, que são de Pernambuco, tinham voltado para lá e começaram a vir novamente para Santa Catarina.
O turismo é uma área que realmente tem que estar conectado com a atividade, pois trabalhamos quando todos descansam e também quando todos trabalham (risos).
Mas temos turnos interessantes – das 7h às 15h20, com parte da tarde livre, turno que começa 15h tem manhã e horário de almoço livre. É outra dinâmica.
Quem se adapta ao horário dessa jornada de trabalho tem vantagens, mas é preciso comprometimento do trabalhador com a atividade, pois trabalhamos Natal, Réveillon, Carnaval. Dificilmente você vai folgar em todos os feriados”.
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“Demonstrar interesse e disponibilidade em aprender é, para nós, bem importante”
Henrique Vendramin, gerente geral da rede de hotéis Brut By Slaviero
“Especificamente no Brut não estamos tendo muitos problemas com contratações, mas percebo que os colegas da hotelaria e gastronomia estão sentindo. Pontualmente no meu caso, consegui montar a equipe um pouco antes, nos antecipamos. Estamos com apenas duas em aberto (recepção e governança).
No restaurante consegui fechar minhas vagas, porém tenho trabalhado com extras, ocasional, e talvez abra mais uma vaga no salão, mas sei que se eu fosse abrir vagas neste momento teria mais dificuldade, por isso nos antecipamos.
No grupo que temos no WhatsApp, com o pessoal do Sindisol, percebo hoteleiros falando nesse mesmo tom, o pessoal da gastronomia também, que realmente não há mão de obra suficiente.
Por isso, não aguardei muito e fomos mantendo e montando nossa equipe. Conseguimos inclusive recontratar colaboradores de antes da pandemia, que eram bons e que quiseram retornar, com exceção de um ou outro que não condizia mais ou que voltou para a cidade de origem.
Um terço de nossa equipe é das regiões Norte e Nordeste, muitos vêm para Balneário em busca de trabalho.
O nosso salário também é interessante para eles, é um diferencial.
Porém, um problema é a moradia cara. Nem todos vêm com experiência em hotelaria, mas compensa porque há muitos que vêm com vontade de trabalhar.
Demonstrar interesse e disponibilidade em aprender é, para nós, bem importante. Conseguimos treinar os nossos funcionários dentro do hotel. A gente sempre foca nas entrevistas se a pessoa tem ideia do que é trabalhar escala 6 por 1 e com atendimento de temporada, para saber se a pessoa sabe onde está vindo”.