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1 em cada 3 brasileiros que diz ter coleta seletiva não separa o lixo, aponta Datafolha

É quase uma unanimidade: a reciclagem é considerada algo importante para o futuro do país e do mundo por 99% dos brasileiros, segundo pesquisa do Datafolha que investigou a percepção da população e suas práticas cotidianas de separação de resíduos.

Ainda assim, 29% dos brasileiros afirmam não separar materiais recicláveis dos demais resíduos produzidos em casa. Dos 71% de brasileiros que afirmam separar esses resíduos que podem ser reciclados, 51% dizem o fazer sempre, 17%, só de vez em quando e 4%, raramente.

O Datafolha aponta que 54% afirmam ter coleta seletiva onde moram. Mesmo assim, 1 em cada 3 (33%) desses brasileiros com acesso a esse serviço não separa seus resíduos recicláveis em casa.

De abrangência nacional, a pesquisa entrevistou 2.010 pessoas em 112 municípios de todas as regiões do país, entre os dias 13 e 21 de maio. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.

“Os dados mostram a necessidade de expansão da coleta seletiva e, ao mesmo tempo, o desperdício desse serviço, que é pago com recursos públicos das prefeituras e nem sempre é aproveitado pela população”, avalia Flávio Ribeiro, consultor em economia circular e conselheiro do Pacto Global da ONU para a área.

Por outro lado, o engajamento declarado de 71% da população brasileira na separação de resíduos recicláveis destoa dos dados oficiais sobre reciclagem no país. O Brasil só recicla 4% de seus resíduos sólidos recicláveis.

“Se existe todo esse ânimo da população em fazer a separação de materiais recicláveis, por que isso ainda não se reverteu em um processo de aproveitamento de resíduos e de aumento da reciclagem no Brasil? Hoje em dia, aterros sanitários e, infelizmente, lixões estão repletos de materiais recicláveis”, afirma Carlos da Silva Filho, presidente da ISWA (International Solid Waste Association) e conselheiro da ONU para o tema.

Para ele, faltam incentivos para o desvio de resíduos de unidades de destinação final, como aterros, e seu encaminhamento a processos mais avançados de tratamento. “A população pode até separar, como indica a pesquisa, mas, como a coleta seletiva e a triagem têm custo alto, esse esforço muitas vezes acaba se perdendo no processo.”

Segundo Silva Filho, cidades que têm serviços estruturados de coleta seletiva e triagem de resíduos recicláveis não utilizam toda a sua capacidade porque não recebem resíduos suficientes.

“Cada uma das duas centrais de triagem da cidade de São Paulo, por exemplo, tem capacidade para triar 250 toneladas de resíduos por dia, mas só recebe em torno 150 toneladas. O caminhão sai vazio e volta batendo lata porque a população não separa o suficiente”, afirma.

Por outro lado, se o país reciclasse muito mais, a capacidade instalada seria insuficiente. “Se a gente tivesse a coleta de 30% de todos os recicláveis domiciliares, não teríamos capacidade instalada de reciclagem para receber tudo isso”, afirma Elisabeth Grimberg, coordenadora de projetos de resíduos sólidos e agroecologia do Instituto Pólis.

Esse paradoxo do reciclagem no país é reforçado por outro dado da pesquisa: 85% avaliam que atitudes individuais contribuem para a sustentabilidade e o meio ambiente –índice que sobe entre pessoas de 16 a 24 anos (88%), com maior renda (89%) e com nível superior de ensino (91%).

“É um dado muito relevante porque revela o potencial para a cidadania ativa dos brasileiros, de fazer pressão para que governos das três esferas desenvolvam políticas públicas mais efetivas para a substituição de materiais pela indústria e para o fim da obsolescência programada de produtos”, diz Grimberg.

Ela destaca que, segundo o artigo 33 da PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), é responsabilidade de fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes custear a coleta seletiva e a triagem de materiais. “A lei tem 14 anos, e os fabricantes e importadores driblaram a regra.”

Para ela, o fato de 85% dos entrevistados declararem saber que resíduos domésticos devem ser separados em três frações (orgânicos, recicláveis e rejeito) para coleta e de 71% declararem que separam resíduos em casa é muito significante. “Isso porque a gente sabe que não existem programas permanentes de comunicação e sensibilização da população para o tema.”

Para a diretora do Datafolha, Luciana Chong, o dado pode também refletir práticas mais pontuais dos entrevistados. “A pessoa pode separar alguma coisa, como a latinha de cerveja do churrasco, e responder que, sim, separa seu lixo, mesmo quando essa não é uma prática rotineira nem realizada com os demais resíduos”, explica.

Segundo Chong, o mesmo pode se dar quando a pergunta feita foi sobre resíduos problemáticos, como pilhas e baterias, eletroeletrônicos e remédios, que precisam ser levados até um ponto de coleta específico para esse tipo de material, num modelo chamado de logística reversa.

“Separar um par de pilhas e entregá-las no ponto de coleta específico pode ser o suficiente para a pessoa responder que adota esse tipo de procedimento.”

Na pesquisa, 43% dos brasileiros disseram que encaminham esses materiais para pontos de coleta específicos, enquanto 37% os descartam no lixo comum e 14%, no lixo reciclável.

Identificar quais são os materiais recicláveis por meio dos ícones presentes nas embalagens é algo complicado para a maioria dos brasileiros: 58% afirmam não saber reconhecê-los. O índice é ainda maior entre quem não separa resíduos (71%), quem tem apenas o ensino fundamental (70%), quem tem mais de 60 anos (65%) e também entre os mais pobres (65%).

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Sobre resíduos orgânicos, como restos de alimentos e podas de jardinagem, 71% dos entrevistados afirmaram saber que é possível reciclá-los por meio da compostagem, que produz composto e fertilizante.

Para Grimberg, do Pólis, “o dado mostra que as pessoas sabem que isso pode ser feito”. “Hoje tem gente das classes média e alta que já paga pelo serviço de coleta de resíduos orgânicos feito por empresas privadas. Ou seja, existe uma demanda reprimida por compostagem.”


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