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Balneário Camboriú
Dalton Delfini Maziero
Dalton Delfini Maziero
Historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima.
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A PRAÇA MILENAR DE CALLACPUMA 

A cada nova descoberta sobre as civilizações pré-colombianas, os arqueólogos são obrigados a um repensar sobre a antiguidade dos povos americanos. A certeza que civilizações complexas existiram muito antes do que imaginamos já é uma certeza aceita e difundida. Sítios arqueológicos como Caral e Cerro Sechin no Peru, empurram a ocupação humana há milhares de anos, nas proximidades do Período Lítico Andino (7000 – 4000 aC).

Em 2018, uma descoberta fascinante foi realizada a 550 km ao norte de Lima, em um sítio arqueológico conhecido como Callacpuma. Nele, foi desenterrada uma Praça Circular Megalítica que, após análises e prospecções, revelou-se datar de cerca de 4.750 anos de antiguidade, ou seja, cerca de 2750 aC. Isso faz dela, uma das mais antigas estruturas megalíticas conhecida na América do Sul. Com a aplicação de amostras de carvão submetidas ao processo de radiocarbono, os pesquisadores concluíram que a primeira versão desta praça circular é anterior as Grandes Pirâmides de Gizé (Egito) e contemporânea do círculo megalítico de Stonehenge, na Inglaterra. 

O espaço escavado abrigou dois círculos concêntricos de pedra, com diâmetro de 18 metros cada. As pedras eram posicionadas na vertical, sem uso de argamassa, de modo que os círculos ficavam “reservados” aos olhares de quem estava fora deles. O arqueólogo Jason Toohey (Universidade de Wyoming), coordenador do Projeto Arqueológico Callacpuma afirma que o espaço não foi exatamente “descoberto” pelos arqueólogos, pois a população local conhecia e usava o espaço há muitos anos. 

A construção de Praças Circulares muito provavelmente pertence a uma tradição de longo período, onde diversos grupos passavam a construir espaços semelhantes com pequenas adaptações. Até o momento já foram localizadas mais de 100 construções semelhantes. No caso das praças circulares, essa tradição certamente se estendeu de 3.100 a 800 aC; inicialmente na costa desértica peruana para depois ganhar as alturas da Cordilheira dos Andes, em especial em sua região norte. A datação corresponde e nos ajuda a entender outras tradições como a dos Altares de Fogo (já abordado aqui em nossa coluna) da qual as ruínas de La Galgada é um forte representante, com datação entre 3000 e 1700 aC. 

Por se tratar de um período onde grupos diversos estavam experimentando o processo de cultivo e que, portanto, não se encontravam ainda plenamente estabelecidos, muitos arqueólogos acreditam que as chamadas tradições – como a das praças circulares e dos altares de fogo – possam ser construções compartilhadas socialmente. Segundo Toohey, “eventos repetidos em praças como essa (de Callacpuma) também podem ter atuado para desenvolver ainda mais as identidades sociais e de grupos locais, amarrando as pessoas a um lugar”. 

Contudo, a praça circular de Callacpuma não se encontra isolada no contexto de sua montanha a 3100 metros de altura. Ela pertence a um complexo de 250 hectares onde se encontram mais de 60 pinturas rupestres – que incluem figuras geométricas e representações da natureza –, terraços agrícolas, sistema de cavernas, construções domésticas e parte de uma calçada incaica. A presença de tantas intervenções arquitetônicas de diferentes períodos só atesta a importância do lugar. Não se sabe ainda como eram os rituais praticados neste espaço, mas é certo que as pessoas que o utilizaram o fecharam de forma ritualística em algum momento entre 500 e 200 aC.

Desta forma, só nos resta com base nas pequenas evidências reveladas pela arqueologia, especular os motivos que levaram aqueles grupos a dispender tanto esforço e tempo na construção de monumentos como este. Certamente novos estudos nos revelarão muito mais a respeito dessas antigas tradições.

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor.
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