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Balneário Camboriú
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Campeões da 10ª edição do Festival da Canção de Balneário Camboriú falam de suas composições

A pluralidade da cultura de Balneário Camboriú e região foi traduzida nesta 10ª edição do Festival da Canção, que levou ao pódio três canções de ritmos diferentes: em primeiro lugar a canção com alma sertaneja “Eu Também Sou do Mato”, de Venâncio Domingos Neto, o Vê Domingos, e Giana Cervi; em segundo lugar a nativista “Tenho confiança na gente do Sul”, de Juan Daniel Isernhagen (interpretada por Ita Cunha – que ganhou como Melhor Intérprete) e em terceiro lugar, o samba “Deusa Música”, de Elisa Maria Cordeiro.

A reportagem do Página 3 conversou ao longo da semana com os destaques do Festival, que compartilham suas emoções pelas conquistas e abordam o quanto o evento é importante para a música balneocamboriuense e catarinense, sendo um ‘celeiro’ de novos talentos.

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Em segundo lugar a nativista “Tenho confiança na gente do Sul” (Foto Divulgação)
Terceiro lugar, o samba “Deusa Música” (Foto Divulgação)

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A canção vencedora quase ficou de fora: Vê Domingos e Giana Cervi entraram como ‘suplentes’

O trio que conquistou o primeiro lugar (foto FCBC)

Venâncio Domingos Neto, o Vê Domingos, participou pela terceira vez do Festival junto com sua parceira, Giana Cervi

“Foi a terceira vez que participamos. Entramos como suplentes e isso revelou o nível muito bom de canções que participaram desta edição. Nós ficamos com a nota 9, perdemos por apenas um critério. 

Talvez não entramos logo de primeira porque o MP3 é diferente da apresentação ao vivo. 

O palco define muito mais, é quando rola a emoção, quando nos alinhamos com o público, e o público passa para o jurado. Eu e a Giana já compomos juntos há anos, tivemos o trio Mimo [com Bruno Kohl], passamos por uma turnê de 11 shows em 16 dias em Portugal, e queríamos celebrar os 12 anos de nossa primeira parceria. 

Na pandemia acabamos compondo mais. 

Eu tenho uma pasta de fragmentos, às vezes falta um refrão, alguns ajustes, às vezes a Gi tem uma inspiração, e a “Eu também  sou do mato” estava nessa minha pasta de fragmentos, a Gi gostou, lembrou do pai dela. 

Fazemos referência na música à canção O Menino da Porteira, e todo pai gosta (risos). 

A brincadeira foi essa, fazer referência ao Brasil sertanejo, mexeu com as nossas emoções afetivas, um repertório que cantamos em casa, um pouco mais diferente do nosso clássico. 

A canção precisa emocionar e essa nossa cumpriu com isso. Era uma canção que tinha força e a escolhemos por esse motivo. 

E deu certo! 

Eu e a Gi já havíamos participado de festivais em São Paulo, em Rio do Sul, vencemos com a Melhor Letra no Paraná, em Ponta Grossa, e nessa pegada de festival o público influencia muito. 

Nossa ‘régua de medida’ sempre foi o público, e sentimos na sexta-feira (26) que o pessoal gostou, os artistas no backstage também foram nos elogiar, e sentímos que iríamos conseguir ‘brigar’ por uma das três primeiras posições, ficamos com a esperança no coração. 

A qualidade da sonorização, os técnicos do teatro, a equipe estava fantástica, sentíamos um carinho com todos os artistas, e isso ajudou muito. 

No sábado (27) pensamos em algo a mais que poderíamos dar – e era a alma, não tinha arranjo novo, nada que pudéssemos dar a mais além da nossa alma, e subimos com isso em mente. Ficamos muito felizes por vencer, por alcançarmos. 

Qualquer um que levasse o 1º lugar seria muito justo, porque o nível estava muito bom. Já estamos com planos para 2022, a “Eu também sou do mato” ainda não tem registro oficial, estamos investindo em qualidade de produção, queremos produzi-la também”.

Parceria de 12 anos coroada com o primeiro lugar no Festival

Giana Cervi é cantora e parceira de Vê há 12 anos, ela interpretou a “Eu Também Sou do Mato”

“A nossa parceria começou quando eu ainda não era compositora, há 12 anos. 

Eu estava em processo de pesquisa de músicas para gravar o meu primeiro disco, e então conheci o trabalho do Venâncio e me apaixonei por uma das músicas dele, “O silêncio dos mundos”, e começamos a nos relacionar mais. 

Acabei gravando mais de uma música dele, e a parceria começou comigo interpretando canções dele, hoje compomos juntos. 

A composição juntos é interessante porque parte do movimento de um ou de outro, de uma conversa, e nesse caso partiu do Vê, conversamos, em encontros de ensaios, tocando e complementando, até justamente chegar nela. 

Tem muito carinho e verdade nessa música, ela comunica coisas diferentes do que estamos acostumados, e então optamos por trazer o acordeom, com a Amanda Carolina Patissi. 

Sempre falamos de amor, leveza, superação, e essa música em especial traz outro universo – nossas origens. 

A maioria de nós vem da simplicidade, de ser do mato. Buscamos a conexão com a reunião, aquela coisa de estar em uma varanda, juntos em família. 

Lembrei muito do meu pai, do meu avô, tem muito dessa relação, falando da memória. 

A própria canção O Menino da Porteira fez parte da minha formação musical quando criança, tem um universo muito diferente, tem um sertanejo, mas não como conhecemos. 

É sobre a nossa origem. 

É até curioso termos entrado como suplentes, mas revela o quanto o Festival é rico, se fosse outro júri, outro dia, outro público, poderíamos não ter ficado em primeiro lugar.

Vejo que não existe classificação de quem é a melhor música, a execução, o ‘ao vivo’, fazem muita diferença. 

Na gravação nossa música pode ter sido ouvida de outra forma, e ao vivo foi outra atmosfera, outra energia. 

Tenho certeza de que muitas músicas que ficaram de fora tinham muito potencial para serem premiadas. 

A música é momento, é energia, é a vibe do momento. 

O público interfere muito. 

Se existisse Festival com as músicas que ficaram de fora, tenho certeza que também teria sido muito valioso. 

Um Festival desse nível, que celebra encontros de músicos, acaba nos incentivando a produzir mais, e mostra também que a prefeitura de Balneário valoriza a cultura, o que é muito importante. 

Uma cidade que faz um evento como esse só tem a ganhar, pois traz identidade, afinal, as canções refletem o que a gente vive, o lugar onde a gente mora. 

A pluralidade do Festival também foi sensacional, para quebrar a cabeça dos jurados (risos). 

A expressividade musical tem muitos caminhos e cada um busca comunicar algo.

A música é comunicação! 

Penso que sempre que sentirmos que uma música tem potencial, devemos nos inscrever em um Festival como esse. Ninguém entra sem querer premiação, mas o ganho de apresentar a música para a plateia que não nos conhece é um grande presente. 

Ouvir que as pessoas se emocionaram com a nossa música é sensacional. 

A música é o nosso trabalho, essa foi a terceira ou quarta vez que participo, e a primeira sendo vencedora, e o trabalho musical é assim. 

Foi um privilégio imenso, estamos imensamente satisfeitos, inclusive já recebemos o convite para o show de sábado (dia 4, na abertura da temporada), e é muito bacana, pois um trabalho leva a outro”.


O vice-campeão, veterano, compositor participou de todas as edições

O momento da conquista do segundo lugar (foto FCBC)

Juan Daniel Isernhagen, músico e compositor responsável pela canção “Tenho confiança na gente do Sul”

“Participo desde o primeiro Festival. Já havia conquistado o segundo lugar duas vezes e Melhor Letra três vezes, e agora novamente. Participei de todos até hoje, e como compositor sempre chego na final. Esse feito eu soube que só eu consegui. 

Houve edições em que dava para se inscrever com mais de uma música, e vários intérpretes defenderam as minhas letras. O Ita Cunha participou pela segunda vez comigo. 

O Festival é um palco muito atrativo, de muita qualidade, ainda mais por ser em um teatro, com som bom e visibilidade muito boa também, além da transmissão online. 

Foi um evento bem abrangente, com vários estilos musicais. Desde o primeiro ano foi assim – éramos nós, então vinha reggae, rock, MPB, com uma integração muito boa entre artistas também. 

É excelente para conhecer os trabalhos dos colegas e também para nos apresentarmos para o público. 

O júri é muito técnico, são pessoas consagradas tanto na triagem quanto no Festival, que sempre prezam muito pela qualidade. 

Sempre ficamos muito felizes em participar, ainda mais trazendo a música tradicional. 

Eu gosto muito, sou entusiasta de festivais, participamos no RS, em SC, e como sou morador de Balneário, faço questão de participar aqui também. 

Já participamos de quase 100 festivais, sempre que tem, tentamos participar. 

Participamos de eventos exclusivamente nativistas e também plurais, como o de Balneário. 

Tentamos sempre trazer um trabalho de qualidade, nos incentivamos a melhorar. 

Focamos sempre em fazer com que o público perceba que a música gaúcha tem muita qualidade, normalmente na mídia tem tom engraçado, dançante, e a música nativista é mais séria, fala do amor pela terra, sobre as tradições, com elementos diferenciados, que não é todo mundo que conhece. E o Festival de BC dá essa oportunidade. 

Foram 6 músicas nativistas entre as 30 selecionadas, uma vitória muito grande porque fomos ganhando espaço ano a ano. 

Na primeira edição era somente eu de representante. 

O prêmio eu dividi com os artistas de palco, que com a pandemia tinham pouco trabalho, passaram 2 anos bem difíceis sem festivais e shows. 

Eu não vivo exclusivamente da música, então abri mão da premiação para que esses artistas que estão dia a dia no palco ganhem esse valor merecido. 

Posso adiantar que tem letras novas vindo aí, vamos tentar participar de mais festivais, inclusive a música “Tenho confiança na gente do Sul” vai ser lançada mês que vem nas plataformas digitais e a apresentação também vamos colocar no YouTube”.

Ita deu um show e conquistou também título de Melhor Intérprete do Festival (foto FCBC)

Ita Cunha, cantor nativista que interpretou a canção que ficou em 2º lugar no Festival, ele também levou o troféu de Melhor Intérprete

“Foi a segunda que fui ao palco do Festival de Balneário, e novamente chegamos na final. Foi algo muito emocionante, estarmos juntos de colegas de arte, a tribo toda junta, e é algo grandioso e muito bom representar a música nativista, ainda mais voltando da pandemia, quando ficamos isolados, tentando nos cuidar e cuidar da família. 

O palco estava brilhante, o público foi muito caloroso, e Balneário é uma cidade pela qual eu tenho muito carinho [Ita reside no RS]. 

Ser premiado alimenta a alma para seguirmos marcando encontros em SC, Balneário. 

Aí se reúne uma porção muito grande de amigos do sul, de todos os cantos. 

O pessoal abraçou, disse que ouve e acompanha nosso trabalho. 

Tenho muitos amigos de Balneário e região que sempre nos encontros que fazemos, em CTGs, piquetes, na própria Semana Farroupilha de Balneário, me sinto bastante em casa. E esse momento do Festival me fez sentir ainda mais próximo e presente. Voltei para o sul realizado, mas ficou uma parte de mim, do meu cantar, aí em Balneário. 

Temos novos projetos, eu e o Juan, em andamento, fiz parte do projeto Baguales, e agora ele vai lançar o Pueblito, onde eu também participei. 

O Juan é um esteio que ajuda a plantar a nossa música gaúcha em SC e Balneário, sempre gravando novas músicas e investindo em projetos. 

O objetivo maior é sempre plantar a semente da música, não só a gaúcha, mas todas! 

Depois desse dia (do Festival) nos adicionamos nas redes, conversamos, porque temos que crescer juntos, independente do gênero musical, juntar energias. 

Já estou torcendo e esperando para estar no palco ou pelo menos assistindo da plateia na próxima edição”.


3º lugar: Elisa participou do Festival pela primeira vez e já foi destaque

Elisa participou pela primeira vez e já conquistou lugar no pódio (foto Divulgação)

Elisa Maria Cordeiro, ficou em 3º lugar na 11ª edição do Festival com o samba “Deusa Música”

“Foi a primeira vez que participei, tanto como compositora quanto como intérprete. 

Alguns dos meus músicos já haviam participado, inclusive alguns eram da Terra Vista, banda que ganhou em 2019. 

Eu já havia ido assistir. 

Foi muito especial, ensaiamos muito, nos dedicamos, os meninos da banda acreditaram na minha música. 

Esperávamos chegar na final, mas no pódio foi uma surpresa. As duas outras músicas vencedoras foram lindíssimas, inclusive conheço a Giana, ela foi minha professora de canto; os gaúchos também estavam incríveis! 

Estar no meio dessa galera… não tinha como ser mais maravilhoso! 

A Fundação Cultural também foi muito bacana, estava tudo muito organizado, quando me classifiquei enviaram e mails, tinham grupos no WhatsApp, não teve atraso, teve um acolhimento. 

Foi tudo muito perfeito, só elogios! 

E isso tudo deixa a gente mais confortável, porque dá um nervoso na hora (risos). 

Saber que podemos contar com ajuda faz muita diferença. 

Eu tinha pouca experiência de subir em palco de teatro, havia subido pouquíssimas vezes, então na sexta (26) fiquei bem nervosa, até mais do que sábado. 

No sábado eu estava muito emocionada. 

Foi muito bom. Foi um nervoso bom (risos). 

Acredito que o Festival abre portas, porque muitos músicos estavam por ali, que não conheciam meu trabalho, e já me seguiram nas redes, deram feedback positivo, viram que tenho canções, que podem me chamar. 

Foi uma oportunidade também para o meu trabalho autoral, eu cantava sempre covers e agora estou montando o meu álbum, um EP. 

Pretendo lançar ano que vem, estamos em processo de gravação e mixagem. 

Uma das músicas é a do Festival. Aliás, algo muito bacana foi que a Karinah me elogiou bastante, assim que eu subi no palco ela disse que gostou muito da apresentação. 

Tive oportunidade de conversar com ela, ela disse que posso contar com ela, que vai me ajudar da forma dela, já conversei com ela pelo Instagram, interagimos pelas redes. 

É um baita incentivo porque ela é uma pessoa que chegou ‘lá’, com grande experiência, uma cantora de samba e pagode, que é o meu nicho também. 

Já sobre o prêmio, vamos fazer a divisão do cachê entre os músicos, considerando o tempo e dedicação que tivemos. Todos merecem ter esse retorno financeiro. 

E vamos continuar investindo nessa e em outras músicas. Saber que o povo curtiu só dá esperança para seguir dando gás em minha carreira, no EP. 

Vejo que estamos no caminho certo. 

A arte é muito ampla, a música é universal, a Deusa Música está aí para todo mundo! Um único festival conseguiu agregar todos – pop, reggae, música gaúcha, eu no samba. 

É muito importante isso (sermos acolhidos), cada estilo tem seu nicho, sua importância. 

Se for possível, pretendo participar ano que vem novamente, é uma grande oportunidade e foi de muito aprendizado. 

Eu não tinha até então muita experiência de palco de teatro, e aprendi muito sobre mim também e sobre o público”.

Elisa considera o elogio de Karinah um grande prêmio (foto Divulgação)

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