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Balneário Camboriú
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PMP alerta para necessidade de cuidado com animais marinhos em Balneário Camboriú e região

Em 2021 surpreendeu o número de animais marinhos que apareceram em Balneário Camboriú e região, como baleias jubarte, golfinhos, tubarões e o elefante-marinho que anualmente vêm à cidade. 

Há chances dessas ‘aparições’ acontecerem novamente neste ano por conta das mudanças climáticas – a água do mar está mais quente.

Esses animais são acompanhados pelo Projeto de Monitoramento de Praias (PMP), uma atividade desenvolvida para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, das atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia de Santos, que aqui na região é assistido pela Univali (o trecho 4, monitorado pela universidade, compreende de Barra Velha a Governador Celso Ramos). 

O PMP é responsável também pelo resgate de animais feridos e ainda aqueles que acabam mortos, como duas tartarugas que apareceram recentemente em Balneário Camboriú, na Barra Sul e na Praia do Estaleiro.

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Há chances de baleias voltarem para Balneário neste ano

Avistamentos de baleias podem voltar a acontecer em Balneário neste ano (foto PMP)

O Página 3 conversou com o oceanógrafo coordenador da unidade de estabilização do PMP da região, que fica em Penha, Jeferson Dick, que explicou que a quantidade de baleias surpreendeu de fato. 

A presença delas foi registrada em toda a região do litoral catarinense e ainda no Paraná e em São Paulo. 

“Tem dois fatores que podem influenciar, ainda não temos certeza das reais motivações, mas 1) a população delas (baleias jubarte) cresceu bastante, o que pode ser um influenciador, e 2) segundo a EPAGRI, a temperatura do mar estava 1 ou 2 graus mais alta do que anos anteriores, que também pode ser motivo para elas terem ficado por aqui. Normalmente elas vão até a Bahia porque lá a água é mais quente, mas por serem jovens podem ter optado por ficarem por aqui mais tempo. Seguimos analisando, não sabemos como vai ser este ano, mas há chance de acontecer novamente. Porém, não é um comportamento normal dessa espécie, é atípico e pode não se repetir ou pode, não temos certeza”, afirma.

Baleia encontrada morta em Taquaras, em Balneário (foto PMP)

Jeferson aproveita para dar uma dica antecipada para os moradores do litoral: quem estiver de barco e detectar a presença de baleias por perto deve manter uma distância de aproximadamente 100 metros, desligar a embarcação ou deixar em marcha lenta. 

“Elas sobem para respirar e não dá para saber qual rota vão tomar. Pode acontecer colisão que pode ser maléfica tanto para embarcação quanto para o animal. Não é adequado ficar perseguindo o animal, parando o barco e mantendo distância segura basta esperar, porque tem grande chance de a baleia se aproximar, porque são animais curiosos”, pontua.

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Elefante-marinho vem todos os anos para a região

O ‘grandão’ vem todos os anos para Balneário (foto PMP)

Um visitante anual que Balneário Camboriú e região recebem é o elefante-marinho. Coincidentemente ou não, o animal visitou a cidade exatamente na mesma época nos dois últimos anos, 2020 e 2021, chegando por aqui no mês de julho e passando vários dias descansando entre as praias da cidade e até mesmo nadando no Rio Marambaia. 

“Ele migra sozinho, já o acompanhamos há uns dois anos e é o mesmo animal (um subadulto macho) que aparece nesses anos seguidos, o que não é incomum para essa espécie. No Espírito Santo eles já conhecem um que vai há vários anos e o chamam de Fred (risos). Às vezes eles adotam lugares e permanecem vindo vários anos, vêm e voltam. Eles buscam alimentação, se proteger de animais predadores que têm no sul e descanso também”, conta.

Em 2021, o elefante ficou perto do público na Praia Brava de Itajaí e no Pontal Norte de Balneário Camboriú e as pessoas aproveitaram para se aproximar e fazer fotos e vídeos. Porém, isso não é recomendável. 

“Sabemos que ele chama a atenção por ser um animal de grande porte e que as pessoas têm curiosidade, mas ele é um animal silvestre que pode se tornar agressivo. Pode se irritar e pode atacar e tem uma mordida extremamente forte, tem mais de 400kg. Se pula em cima de uma pessoa, pode matar. Ele não é perigoso normalmente, não tem instinto de atacar, mas se ameaçado pode atacar. É um perigo” diz, acrescentando que o animal procura as praias e costões para descansar, e se ele não conseguir isso e voltar para o mar sem o repouso necessário para continuar a migração, nadar e caçar pode ser afetado.

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Em 2021, PMP atendeu 63 ocorrências em Balneário

Tartaruga encontrada morta recentemente no Estaleiro (foto Carol Cezar)

Segundo dados do PMP, em 2021 foram registradas 63 ocorrências de animais marinhos nas praias de Balneário, incluindo aves, mamíferos e tartarugas marinhas. 

As principais ocorrências foram 31 tartarugas-verde (Chelonia mydas), sendo apenas três vivas; 18 pinguins-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus); cinco tartarugas-cabeçuda (Caretta caretta), três toninhas (Pontoporia blainvillei) – o menor golfinho do Atlântico Sul e também o cetáceo mais ameaçado de extinção no Brasil; um leão-marinho (Otaria flavescens), dois botos-cinza (Sotalia guianensis), um albatroz-de-nariz-amarelo (Thalassarche chlororhynchos) e uma tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea).

Nos últimos três anos, o PMP atendeu na região (11 municípios) uma média de 1.500 casos (1.498 em 2019, 1.502 em 2020 e 1.590 em 2021), surpreende que na maioria dos atendimentos os animais estavam mortos (1.223 em 2019, 1.145 em 2020 e 1.315 em 2021). 

Tartaruga em estado de decomposição encontrada na Barra Sul, casco ‘explodiu’ (foto Leitor)

As espécies mais ‘comuns’ encontradas mortas foram tartarugas e pinguins. Nos últimos três anos, as espécies que mais necessitaram de intervenção veterinária para serem reintegrados à natureza foram as gaivotas, as fragatas, os pinguins e as tartarugas-verde.

Sobre a causa da morte desses animais, o PMP vê que é uma variante, pois atendem ocorrências de três classes de tetrápodes marinhos: as aves, os mamíferos e as tartarugas marinhas. Isso quer dizer que registram inúmeras espécies de animais com hábitos diferentes uns dos outros, podendo ser desde pela poluição (lixo no mar), por redes de pesca ou de causas naturais. 

O coordenador Jeferson cita os casos envolvendo duas tartarugas em Balneário, ambas da espécie Cabeçuda.

“Ocorrem regularmente na região e muitas vezes já estão mortas. A encontrada na Barra Sul já estava em estado de decomposição e não temos como ter certeza da causa da morte e sobre o que aconteceu para romper o casco dela como aparece na imagem, pode acontecer de ‘explodir’ quando se decompõe, mas já atendemos também colisão com embarcação onde o casco rompeu e existem ainda casos de maus tratos. 
Já recolhemos animais que visivelmente tentaram tirar o casco dele, não sendo possível saber se estava vivo ou morto quando fizeram isso. 
Tem caso de gente que corta para tentar afundar os animais. Não conseguimos fazer essa afirmação, mas é preocupante e triste, porque muitas dessas tartarugas têm boa condição corporal e morreram por interação com atividade humana. O lixo entra nisso também”, salienta.

Sobre a ingestão de lixo (com destaque para o plástico), Jeferson conta que a maioria das tartarugas morrem porque não conseguem defecar o lixo – o estômago fica cheio e elas param de comer porque se sentem ‘cheias’. 

“O lixo vai para o intestino, cria uma bola rígida, elas não conseguem defecar, criam gases, não consegue mais afundar para capturar o alimento e acabam morrendo”, diz.

Jeferson aproveita para citar que campanhas de conscientização são muito necessárias, pois lixo como papel de bala, bituca de cigarro e canudos descartados incorretamente podem realmente matar animais marinhos.

“Temos que gerir melhor o nosso lixo, empresas responsáveis pela destinação final de lixo também precisam incentivar, junto com municípios instalando lixeiras. É um processo que precisa andar junto porque é um problema mundial. O descarte dos resíduos de pesca e da maricultura também afetam muito. Tudo impacta. Uma rede abandonada no mar vai permanecer pescando durante décadas, matando, matando, matando e nada será feito”, afirma.

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O que fazer se encontrar um animal que precisa de ajuda

PMP atende os mais diversos pacientes (foto PMP)

Jeferson afirma que o apoio do público é fundamental. Se você encontrar um animal debilitado e que você acredita que precisa de intervenção ou ainda morto, deve procurar por ajuda especializada. 

“Lembrando que nem todos os animais precisam de ajuda ou contato humano, às vezes estão só nadando e estão na costa para descansar, mas o público pode entrar em contato, temos linha direta para atendimento via 0800-642-3341, onde será atendido por um biólogo, oceanólogo ou veterinário para esclarecer qual é a espécie, se o animal precisa de intervenção ou não”, diz. 

É possível enviar também vídeos e fotos e a localização exata, para auxiliar os profissionais no atendimento da ocorrência. 

Após resgate e atendimento em casos de animais feridos, os que sobrevivem voltam para a natureza (foto PMP)

As prefeituras, através das secretarias do Meio Ambiente também apoiam o PMP, além do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Guarda Municipal Ambiental, que auxiliam nos atendimentos até o PMP chegar. 

“Todos podem ajudar, mas com segurança. Se ver um animal, o ideal é ligar para nós e conversar para saber com qual espécie estamos lidando, riscos existentes e definir possibilidade de ajudar. Gaivotas e pinguins, por exemplo, são animais mais seguros, já um lobo ou leão-marinho demandam mais cuidados”, comenta.

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O que acontece com os animais mortos

PMP faz a necrópsia em animais encontrados mortos (foto PMP)

Todos os animais encontrados sem vida pela equipe do PMP são estudados. 

Se eles morreram há pouco tempo ajuda ainda mais com a riqueza de informações – é possível saber causa da morte, tempo de morte, se era jovem, filhote ou adulto e até mesmo se há toxinas no corpo dele. 

“Já sobre a destinação, existem vários caminhos. Se é animal com morte recente, ele precisa ser necropsiado para identificar causa da morte, coleta de tecidos e órgãos para avaliar condição de saúde em que estava no oceano – presença de contaminantes nos órgãos, saber se houve lesão (podem ter câncer, problemas pulmonares, infecções, parasitas, etc.). Dependendo do local e capacidade,  a destinação final pode ser feita por nós mesmos, com empresas capacitadas (incineração ou aterro sanitário), ou através das prefeituras que também nos apoiam para destinar as carcaças. 

Porém, o ambientalmente correto é deixar na areia da praia ou restinga para animais como urubus e caranguejos se alimentarem, mas como as nossas praias são mais urbanizadas essa decomposição ‘incomoda’, apesar de ser o melhor caminho”,  comenta, citando ainda que o PMP tem parceria com museus, como o Oceanográfico da Univali, e quando eles têm interesse, também destinam animais para eles. 

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Afinal, a obra do alargamento da praia central afetou a vida marinha?

Obra do alargamento pode ter impactado na vida marinha, mas sem grandes prejuízos até o momento (foto PMBC)

Um assunto bastante comentado em 2021 foi a respeito do alargamento da faixa de areia da Praia Central de Balneário Camboriú, muitos ‘entendedores’ falavam que a obra poderia estar afetando a vida marinha. 

O oceanógrafo Jeferson afirma que vê que a obra foi muito bem planejada e executada, mas que como toda obra, tem impacto. 

“O trabalho foi focado em minimizar esses impactos, porque evitar totalmente não tem como. Mas não teve nenhum animal ferido, apesar de que o barulho e a retirada da areia pode ter impactado”, analisa.

Sobre o aparecimento de tubarões, Jeferson aponta que eles estão o tempo todo em Balneário, nadando por ali e que isso é normal. 

“Porém, a movimentação da areia pode ter atraído mais. O tubarão quer se alimentar, e como mais animais estavam por ali, eles [os tubarões] acabaram nadando na superfície, aproveitaram para caçar. Já a presença das conchas também sempre estiveram ali, por séculos, e apareceram porque um volume de sedimento muito grande foi tocado e ressurgiram na superfície”, explica.


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