- Publicidade -
- Publicidade -
23 C
Balneário Camboriú
- Publicidade -

Leia também

- Publicidade -

Livro descreve a relação entre Ernest Hemingway e Paris

Três dias antes do Natal de 1921, um navio deixou o americano Ernest Hemingway, então com 22 anos, e sua mulher, Elizabeth Hadley Richardson, no porto francês do Havre, onde eles tomaram um trem até Paris. Não era a primeira vez que ele pisava em solo francês (passara por lá durante a Primeira Guerra Mundial), mas agora era o início de uma longa e frutífera relação, ponto de partida para Hemingway escrever suas principais obras como O Sol Também se Levanta (1929).

“Logo ao chegar, Paris entregou ao rapaz um dos seus dons mais bem-amados: o espírito de liberdade e de sentir-se acolhido. Liberdade para viver e trabalhar em busca de uma escrita própria e a sensação de ter todo o tempo do mundo para esse trabalho, sem um editor que lhe dê pauta”, observa Benjamim Santos, autor de Hemingway e Paris (Gryphus), livro que ganha nova edição e detalha a importância da ligação com a cidade.

Santos é um técnico em educação que sempre se interessou por Paris e, nas várias visitas que fez à capital francesa, buscou os pontos por onde passou o escritor (a quem trata por Hem), procurando identificar a força da influência. “Paris concedeu a Hemingway uma das marcas mais fortes da cidade, a de sentar-se num café para ler e escrever, hábito que ele carregou para sempre transferindo-o para os bares de outras cidades”, explica. “Ao lado disso, houve o encontro de pessoas especiais que o acolheram e se tornaram amigos. Conhecer Sylvia Beach e a livraria Shakespeare and Co. foi primordial, assim como James Joyce, Ezra Pound e Gertrude Stein. Ler Ulisses, de Joyce, lançado dois meses depois da chegada de Hem, abriu o horizonte do rapaz para a liberdade também na escrita.”

- Publicidade -

Hemingway lutou tanto na guerra quanto para encontrar a palavra exata

A relação entre Ernest Hemingway e a capital francesa foi, de fato, marcante. Na abertura do livro Paris É uma Festa, publicado postumamente em 1964 (o escritor se matou três anos antes), ele escreve que, se alguém teve a sorte de morar na capital francesa quando jovem, terá da cidade uma lembrança para toda a vida. Para ele, a vivência foi definitiva – herói da Primeira Guerra, o escritor vivia em Chicago incomodado com a consciência de que a América estava tomada pela euforia materialista triunfante que era a morte da alma. E, na prática, não tinha um tostão no bolso. Assim, em 1921, como correspondente do jornal canadense Toronto Star e com uma carta de recomendação para ser entregue à escritora Gertrude Stein, ele chegou a Paris.

Lá, ele aprendeu a utilizar com rigor a língua inglesa, principalmente com Stein e com Ezra Pound, com quem trocava lições de literatura por aulas de boxe. “Chame as coisas pelo nome certo”, escreveu o poeta. De Paris, Hemingway tornou-se um grande viajante, correndo atrás de guerras, revoluções e safáris “Depois de dez anos de convivência amorosa e uma pequena desilusão, o escritor deixou Paris e a relação entre os dois tornou-se como a dos casais que se amam ardentemente, mas preferem viver em casas separadas, visitando-se com frequência”, compara Santos.

Tornou-se conhecido também por suas façanhas. Esteve na Guerra Civil Espanhola (1936-1939), em que acompanhou as forças republicanas que lutavam contra o franquismo. Em 1944, na Segunda Guerra, trabalhou no serviço de espionagem, fazendo contatos entre os aliados e a resistência francesa. Cada aventura ajudava Hemingway a alimentar sua lenda, o que o motivava a buscar novas histórias para ficar à altura de sua imagem.

PRAZER

“Hem sempre viveu o prazer da aventura desde criança de férias ao lado do pai e adolescente sozinho pelas florestas do Michigan Nos primeiros anos de Paris, assumiu escrever sobre o que vivera por ter domínio disso e não viver certas situações para ter assunto sobre o que escrever. Ele sempre teve por regra ‘escrever somente sobre o que souber’ e do que ele mais sabia era de sua própria vida”, observa Santos.

Logo, sua escrita se tornou lendária e objeto de culto. “Hemingway transformou a prosa narrativa em um meio físico despojado de tudo o que era cerebral e extravagante, um meio adequado ao herói à moda Hemingway – duro, estoico, sofredor, exibindo o tipo de coragem à moda Hemingway que ficou conhecida como ‘grance under pressure’ (dignidade, ou elegância, sob pressão)”, observa outro escritor, Anthony Burgess, em Ernest Hemingway (Jorge Zahar Editor).

- Publicidade -

“Os contos foram seu caminho de aprendizagem”, completa Benjamim Santos. “Com eles, Hemingway recebeu a aprovação unânime e o elogio dos críticos literários, mas foi pelos romances que obteve o renome editorial, a grandiosidade de vendas e a popularidade que o fizeram entrar ‘na história’. Escrevendo contos, quando aprendeu a encontrar ‘a palavra exata’, num trabalho que ele considerava árduo, criou o estilo que marcaria sua obra literária e que influenciaria toda uma geração.”

FIM

O suicídio, porém, sempre rondou a trajetória de Hemingway – foram muitos exemplos, como o do próprio pai. “Ainda jovem, já tomou como ideia fixa dar fim ao seu destino se chegasse a um momento em que não valesse mais viver”, conta Santos. “A alguns amigos, propôs o pacto de que um avisasse o outro se decidisse suicidar-se, mas ninguém aceitou. Chegando aos 60 anos, em meio a crises de depressão e tratamento com choque elétrico, tentou várias vezes, mas sempre conseguiam evitar, até que burlou a família e deu-se fim com uma de suas espingardas que não haviam escondido.”

Mesmo que sua literatura já não tivesse mais o brilho do início de carreira e fisicamente padecesse de muitos males, Hemingway viveu seus últimos anos coroado pela glória. “Sua refinada combinação de machismo e estoicismo existencial cativou uma geração perdida e aniquilada pela guerra”, escreveu o jornalista Ron Charles no jornal The Washington Post. “Seu estilo elíptico hipnotizou leitores por décadas – e continua tão contagioso que os estudantes ainda se entregam a seu tom impassível, a sua simplicidade declarativa.”

(Ubiratan Brasil/AE).

- Publicidade -
- publicidade -
- publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -