- Publicidade -
22.5 C
Balneário Camboriú
- Publicidade -

Família Schurmann partiu neste domingo, de Balneário Camboriú, para sua quarta volta ao mundo

A conhecida Família Schurmann – Vilfredo, Heloísa e os filhos Pierre, David e Wilhelm, partem no domingo, às 15h, do Atracadouro Barra Sul, em Balneário Camboriú, para a sua quarta volta ao mundo – a ‘Voz dos Oceanos’, que tem como principal objetivo conscientizar a população mundial a respeito do lixo nos oceanos, especialmente os plásticos e microplásticos. A viagem tem apoio global do programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e conta ainda com quatro tripulantes.  

O Página 3 participou da coletiva de imprensa da Família Schurmann, na manhã de sexta-feira (27), no Atracadouro Barra Sul. 

Essa é a quarta volta ao mundo da Família – a primeira aconteceu há 37 anos, e durante essas três primeiras expedições os navegadores puderam constatar de perto que os oceanos vêm estando cada vez mais poluídos. 

Família fica no Brasil até dezembro: confira a rota de navegação 

A saída de Balneário vai acontecer às 15h de domingo (com transmissão a partir das 14h30 no YouTube – (clique aqui). Por conta da pandemia, não é recomendável aglomeração na Barra Sul. O filho mais velho, Pierre, lembra que, na primeira saída, em 1984, estavam no cais algumas pessoas – que demoraram 10 anos para terem acesso às fotografias da viagem, porque não havia internet. 

“Graças à evolução, todos poderão acompanhar a expedição, domingo, a partir das 14h30 estaremos ao vivo no YouTube e poderão nos acompanhar diariamente. Esperamos vocês lá!”, diz. 

O patriarca Vilfredo pontuou que, mesmo sendo a quarta expedição, já estão sentindo o ‘friozinho na barriga’, mas que seguirão à risca os cuidados sanitários. 

“Sabemos que muitas pessoas virão, mas precisamos tomar cuidado porque seguimos em pandemia. As expectativas para domingo são as melhores e parece a de 84, o mesmo friozinho na barriga! Estaremos online, ao vivo, as pessoas podem acompanhar de casa e devem nos acompanhar assim”, explica. 

Roteiro de navegação

A etapa brasileira inicia em Balneário e terá 11 destinos: Santos/SP, Ilhabela/SP, Ubatuba/SP, Paraty/RJ, Rio de Janeiro/RJ, Búzios/RJ, Vitória/ES, Abrolhos/BA, Salvador/BA, Recife/PE e Fernando de Noronha/PE. 

Esse trajeto deve durar até dezembro, quando a família partirá para o exterior – Caribe, Estados Unidos [Miami e Nova York – cidade que possui um problema sério com lixo nas águas], arquipélago das Bermudas, voltando para o Caribe, Cuba, México, cruzando o canal do Panamá, navegando até Galápagos, e então a maior travessia da expedição – seguindo pelo Oceano Pacífico Sul até Dulce Island [ilha paradisíaca, sem população, mas com muito lixo], Polinésia [várias ilhas] e terminando na Nova Zelândia, em setembro/2023. 

“Queremos que cada um se conscientize que precisa mudar” 

Segundo Vilfredo, em cada lugar que a Família chegar, vão mostrar desafios e soluções. A viagem é planejada detalhadamente porque há também a questão de furacões e ciclones. Eles terão cientistas ao longo do percurso para captar materiais e água do mar e ver o que acontece em certos trechos. 

Heloísa aponta que um dos maiores perigos é o microplástico, e que boa parte da humanidade ainda não se atentou sobre o problema. 

“Estamos sendo muito afetados pelo microplástico. A nossa missão vai além de conscientizar, queremos que cada um se conscientize que precisa mudar a sua atitude no dia a dia para que esses plásticos não vão parar no mar, mas principalmente usar os Rs: reduzir, reutilizar, reciclar e repensar o consumo. ‘Será que preciso e vou utilizar esse produto?’. Nós temos que mudar nossas atitudes do dia a dia para que os nossos oceanos parem de sofrer. A ONU se preocupou! Estamos na década dos oceanos, são 10 anos para recuperarmos, torná-los novamente limpos e dignos. Cada um pode ser A Voz dos Oceanos”, afirma. 

A ‘Voz dos Oceanos’ deverá ter duração inicial de dois anos, mas chegará a seis, com mais duas viagens acontecendo a cada dois anos. 

Tripulação 

A tripulação, da esquerda para direita: Alan, Pierre, David, Heloísa, Jefferson, Vilfredo, Wilhelm, Erica e Carmina (Foto Renata Rutes)

Entre risos, Heloísa relembra que na primeira expedição os filhos ‘não tiveram opção’ e embarcaram junto com os pais para aquela que seria a primeira grande viagem de suas vidas – mas é claro que os garotos se apaixonaram e seguem esse ‘estilo de vida’. 

Porém, desde a segunda expedição, a Família passou a buscar por tripulantes, que também possuem especialidades. 

“Há uma veterana, a chef de cozinha italiana Erica, temos também a tripulante Carmina, que é assistente de produção e fará toda a produção e trabalho com o Alan, que é nosso diretor de fotografia, e por último temos o Jefferson, que foi escolhido depois de 300 participantes que mandaram seus currículos, todos os seus vídeos, e ele foi o selecionado e está embarcando conosco!”, conta. 

Os ‘tripulantes agregados’ Erica, Carmina, Alan e Jefferson (Renata Rutes)

“Desde a primeira volta começamos a notar”, diz David sobre a poluição 

David e os irmãos, Pierre e Wilhelm, velejam com os pais desde 1984, ele conta que desde a primeira volta ao mundo começaram a notar que os oceanos estavam ‘sofrendo algo’ – até então, perto de grandes cidades. Porém, com o passar do tempo, foram notando que os oceanos precisavam de mais ajuda. 

A primeira vez que notaram isso foi na Ilha Henderson [que é o lugar mais poluído por lixo plástico no mundo], que não é habitada e é um dos lugares mais ‘remotos’ do mundo. 

Isso foi de 1997 para 1998, já faz muito tempo. É um lugar de difícil acesso e, quando desembarcamos na ilha, a primeira coisa que a gente notou foi que parecia que o tempo tinha voltado – os pássaros não tinham medo de nós, os caranguejos vinham morder os nossos pés porque não sabiam quem nós éramos, e começamos a andar por aquela praia de 2km e começamos a notar poluição e lixo. Ficamos chocados, coletamos o lixo daquela praia, deu 10 sacos grandes de lixo e dali em diante vimos uma curva de crescimento de lixo no oceano”, conta. 

Ilhas de plástico

Schurmann cita ainda as ‘ilhas de plástico’ [como a que ‘flutua’ no Pacífico e triplica o tamanho da França, sendo o maior depósito de lixo oceânico do mundo com 1,8 trilhões de pedaços de plástico], as quais ele prefere chamar de ‘avenidas de plástico’ por terem centenas de metros de largura e quilômetros de extensão. 

“Quando começamos a encontrá-las, a primeira reação que você tem é ‘quem jogou isso aqui’? E então você se dá conta que isso veio de terra, da humanidade, de vários lugares do mundo”, salienta. 

Momento da virada

Foi a partir disso que a Família percebeu que precisava fazer alguma coisa de fato. O momento de ‘virada’ foi a visita à Ilha West Fayu, que fica próxima de Papua Nova Guiné, no Pacífico, uma ilha desabitada também, onde em 150m de praia recolheram mais de 30 sacos de lixo. 

“Ali ficamos chocados e decidimos que precisávamos dar algo a mais e nos sentimos motivados. Quando voltamos da Expedição Oriente, no final de 2016, sentamos em Família e discutimos qual o legado que queríamos deixar para as próximas gerações e surgiu a decisão: vamos fazer um projeto que ajude a salvar os oceanos e a humanidade”, acrescenta David. 

Durante quatro anos vinha sendo elaborada a Voz dos Oceanos, que era para ter sido iniciada ainda em 2020, mas teve de ser adiada por conta da pandemia. Em cada parada, a Família e seus tripulantes terão todos os cuidados necessários, assim como na coletiva, onde todos os presentes foram testados. 

O veleiro Kat 

Os Schurmann tinham mais uma filha, Kat, que nasceu em 1992 na Nova Zelândia – aos 3 anos ela se tornou a mais jovem marinheira ao ser adotada pela Família Schurmann. Porém, faleceu em 29 de maio de 2006, aos 13 anos, devido a complicações decorrentes do vírus HIV, do qual era portadora desde seu nascimento. Kat está simbolicamente presente na Voz dos Oceanos (assim como esteve na Expedição Oriente), através do nome do veleiro (Kat), em sua homenagem. 

Wilhelm, um dos filhos de Heloísa e Vilfredo, relembra que o veleiro Kat foi construído em 2012 e que o barco é 100% brasileiro. 

O foco é a sustentabilidade: há utilização de fonte de energia limpa através de painéis solares, hidrogeradores, energia do vento (eólicos). 

“E durante os últimos meses fizemos diversas mudanças no veleiro Kat para tentar otimizar o máximo possível essa energia renovável. Mudamos todas as nossas baterias que eram de chumbo-ácido para lítio, conseguimos armazenar de maneira mais eficaz. Toda a nossa água do barco é tratada, a do banheiro, chuveiro, passa por um sistema, e antes de ser destacada passa por ultravioleta, que mata 100% das bactérias [algo inédito no Brasil], então a água é descartada 100% limpa, o que é muito bacana. Também temos uma compactadora dentro do barco – separamos todos os lixos e conseguimos compactar para não ter tanto volume, o que pode ser um grande problema, já que às vezes ficamos muito tempo sem poder parar em algum local; compactamos até podermos reciclar”, conta. 

O Kat também possui gerenciamento de energia – sendo possível saber quanto de energia estão gastando e quanto estão produzindo, proporcionando um bom controle.

Texto: Renata Rutes

- Publicidade -
- Publicidade -
- publicidade -
- Publicidade -