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Insônia: especialistas falam sobre o transtorno, que tem tratamento

A dificuldade para dormir é uma grande dor de cabeça para muitas pessoas – e isso pode se tornar um problema crônico

A rotina alterada pela pandemia e o medo de contrair o vírus trouxeram várias consequências na vida das pessoas, uma delas é a dificuldade de dormir que nestes tempos já vem sendo chamada de ‘Corona-insônia’. A insônia é um fenômeno que ataca pessoas de qualquer idade. Ela é considerada uma porta de entrada para outras doenças, como infecções, obesidade, além de reduzir a imunidade. 

Insônia crônica x transitória:

Estilo de vida atual pode intensificar casos do transtorno 

Dra. Raquel (Divulgação)

A médica Raquel Basso está fazendo pós-graduação em Medicina do Sono pelo Hospital Albert Einstein; ela explica que nem sempre a insônia configura um transtorno e que pode ser apenas um sintoma, desencadeada por um fator emocional pelo qual a pessoa esteja passando ou por consequência do consumo de medicações que interfiram nos estágios do sono, bem como consumo exagerado de bebida alcoólica ou estilo de vida não saudável. 

“A insônia como sintoma também pode ser parte integrante de alguma doença como ansiedade, depressão, transtorno bipolar ou quadros clínicos de saúde como refluxo, asma, dor crônica, síndrome das pernas inquietas, hipertireoidismo, menopausa, entre outros. Nestes casos, a insônia costuma ser transitória, diferente do Transtorno de Insônia, que é caracterizado por um quadro crônico onde o indivíduo apresenta queixas pelo menos três vezes na semana e por mais de três meses”, diz. 

Segundo a psiquiatra, as queixas de insônia na população mundial cresceram consideravelmente durante a pandemia. Isso porque os hábitos de vida mudaram, incialmente, já durante o período de lockdown. 

“Passamos a nos expor menos à luz solar (desregulando nosso relógio biológico); reduzimos atividades físicas e de lazer; passamos mais tempo na cama do que o habitual, muitas vezes com cochilos ao longo do dia; alteramos nosso cronograma de sono (dormimos e despertando mais tarde) e aumentamos a exposição ao uso de telas [celular, computador, tablet, etc.]. Importante frisar ainda, a instabilidade dos quadros psiquiátricos ocorridos durante este período, principalmente os casos de depressão e ansiedade, patologias estas intimamente ligadas a quadros de insônia”, analisa. Nestes casos [envolvendo depressão e ansiedade], a médica pontua que os transtornos devem ser tratados prioritariamente como forma de melhorar a insônia, que geralmente se instala como um sintoma e não um transtorno. 

Raquel explica que o transtorno de insônia, afeta a vida do paciente tanto à noite quando durante o dia – as queixas noturnas estão relacionadas à dificuldade de iniciar ou manter o sono, despertar precoce ou sono de má qualidade, estando a pessoa em condições adequadas e favoráveis para dormir; e as consequências diurnas são diversas, porém a sonolência excessiva no outro dia é a mais comumente relatada. 

“Pode haver, ainda: sensação de fadiga e mal estar; tensão; diminuição da energia e motivação; humor irritável; impulsividade; prejuízo na concentração, atenção ou memorização; prejuízo na execução das atividades sociais, de trabalho ou educação; propensão a erros ou acidentes e preocupação com o sono”, afirma. 

Inclusive, segundo a médica, o estilo de vida vivenciado por grande parte da população tem sido um fator crucial para a interferência do chamado ‘ciclo sono-vigília’.

“Constantemente nos submetemos a privações de sono; estilo de vida sedentário; uso abusivo de cafeína ou outros estimulantes; abuso de álcool; exposição excessiva de luz artificial nas horas que antecedem o sono; inexistência de uma programação com horários fixos para dormir e acordar e etc. Todos esses fatores devem ser corrigidos de forma comportamental para que tenhamos uma melhor qualidade de sono”, salienta. 

A médica diz que não há um tratamento universal – ou seja, modalidade x pode ser positiva para uma pessoa, enquanto a y pode ser mais adequada para outro. 

“Cada caso é individual, mas em termos gerais, o primeiro passo é orientar o paciente sobre uma ‘higiene do sono’ e a imprescindibilidade de seguir as medidas comportamentais para correção dos fatores precipitantes da insônia. Porém, uma grande parcela dos pacientes insones acaba por desenvolver um estado de alerta cognitivo, que é observado pelo pensamento ruminativo e repetitivo de que perderam sua capacidade de dormir espontaneamente. Essa forte preocupação com o fato de não conseguirem dormir acaba gerando sintomas de ansiedade antecipatória, agravando ainda mais o quadro”, conta. 

Por isso, de acordo com Raquel, a Terapia Cognitivo Comportamental para insônia (TCCi) tem sido amplamente referenciada como primeira escolha para o tratamento da insônia, já que auxiliaria na desconstrução desses conceitos distorcidos acerca do sono. 

“Mas, na impossibilidade de acesso à TCCi ou quando esta não for resolutiva, o uso de medicação pode ser indicado, porém sempre sob orientação médica. Devemos sempre considerar que medicações não são isentas de efeitos colaterais e que, uma boa parcela dos remédios utilizados para insônia tem potencial de tolerância e dependência, devendo ser usados com cautela”, completa. 


Padrão ouro de tratamento é a terapia e não o farmacológico” 

A psicóloga especialista Bianca Martins (Divulgação)

Bianca Martins é psicóloga especializada em tratamento não-farmacológico para transtorno do sono – uma modalidade nova na Psicologia e que vem crescendo aos poucos no Brasil. Ela é uma das 30 profissionais do país credenciada com a especialização 

“A insônia é um transtorno, com classificação e etiologia própria. Quando se fala em tratamento, podemos falar de tratar a insônia que se apresenta como um sintoma como também como causa; quando a pessoa tem um quadro de ansiedade, a insônia pode ser um sintoma dela [da ansiedade], mas há casos de insônia crônica, de pessoas que sofrem com isso por 10, 20 anos”, diz.

A especialista diz que muitas pessoas têm o chamado ‘pensamento ruminante’ – por exemplo, está com problema financeiro porque perdeu o emprego por conta da pandemia.

“A pessoa fica pensando em como será o outro dia, problemas que têm para resolver, fica agitada e então tem dificuldade para dormir. E dificuldade para dormir não é insônia. Assim como, por exemplo, cuidar de um bebê durante a noite e assim ser privado do sono não é insônia. Insônia só pode ser diagnosticada como tal quando há oportunidade para dormir e mesmo assim a pessoa não consegue”, comenta, citando que a insônia pode ocorrer ‘uma vez na vida’ como ainda durar meses ou anos. 

Bianca atende em Balneário de forma online, através da Clínica Sonoprime [localizada no Bairro dos Pioneiros], especializada em diagnóstico e tratamento de sono. 

“Estudos apontam que a pandemia aumentou os casos de insônia, e na prática clínica percebi isso também. Atendo de forma online pessoas do Brasil todo, não há nenhum prejuízo em fazermos de forma virtual, o resultado é o mesmo. Inclusive é bom citarmos que há tratamento e cura para a insônia. Eu aconselho a terapia cognitiva comportamental para a insônia, é o protocolo que sigo. Há pacientes que conseguem resultados com cinco sessões, outros com 10, até 18. Dá resultado”, afirma. 

Assim como a médica Raquel Basso, Bianca vê que a medicação não deve ser a primeira opção para o tratamento, já que a insônia não é bioquímica e o remédio acaba surgindo como uma ‘estratégia’ e não solução para o problema da insônia. 

“Acabam atribuindo ao medicamento a condição de dormir. A medicação pode ajudar em quadros crônicos, mas servirá como uma ‘bengala’. O padrão ouro de tratamento é a terapia e não o farmacológico. Muitas pessoas acham que o tratamento terapêutico é demorado, e isso não é verdade. A terapia ensina sobre o sono, detecta o que acontece, o comportamento da pessoa, substâncias que podem estar causando a insônia. Esse tratamento tem começo, meio e fim, funciona e traz benefícios”, completa.


“Dormir exige um processo, que deve iniciar de uma a duas horas antes de você ir deitar”

Dr. Luis (Arquivo pessoal)

O médico Luis Fernando Pires é o diretor técnico do Instituto Maria Schmitt (IMAS) e faz a gestão da UPA do Bairro das Nações e do PA do Bairro da Barra. Ele conta que no período da pandemia percebeu um aumento gradativo de pacientes relatando problemas relacionados ao psicológico – como ansiedade, depressão, agitação e medo. 

“A pandemia trouxe insegurança tanto pelo medo de se contaminar como perder entes queridos e, é claro, a questão da economia. A maioria dos casos de insônia surgiam quando a pessoa positivava para o Covid e, durante o tratamento, tinha problemas para dormir (período de sete a 14 dias). Dormir exige um processo, que deve iniciar de uma a duas horas antes de você ir deitar. Não é recomendável mexer no celular, jantar comidas pesadas pouco tempo antes de ir deitar. Se você for para a cama sem preparação, o seu corpo não relaxou, e por isso você não consegue dormir logo, já que o seu cérebro ainda está muito ligado”, afirma. 

Doença moderna

Pires salienta que há cerca de 100 anos a insônia era uma doença que ‘praticamente não existia’, já que é o mundo moderno que está cada vez mais imediatista, com as pessoas mais ansiosas. 

“Muitas pessoas ficam em atividade 24h, seja com os filhos, com a esposa/marido, com o emprego. A insônia tornou-se comum na sociedade atual, tanto que hoje a taxa de procura por medicamentos para induzir o sono é muito alta. E é preocupante porque muitos se automedicam – ao invés de procurarem a causa da insônia, usam remédio. A insônia nem sempre é um transtorno e pode ser sintoma de alguma outra doença, que precisa ser tratada”, acrescenta. 

O médico aproveita para pontuar que há situações normais que tiram o sono – como uma reunião importante no trabalho ou uma prova na escola/universidade. 

“Essa não exige tratamento. Mas há uma situação preocupante que é o que muitos adolescentes vêm fazendo – que é optarem por não dormir e assim ficarem jogando, vendo TV, no celular, etc. É prejudicial porque é quando dormimos que o organismo trabalha, libera hormônios, absorve nutrientes; a musculatura relaxa. Jovens que não estão dormindo por opção podem evoluir para outros problemas psicológicos porque o cérebro não está descansando, podendo chegar em estado de estafe”, alerta.


Atividades relaxantes e mindfulness 

A psicóloga Laura Colau (Arquivo pessoal)

A psicóloga Laura Colau salienta que pela psicologia a insônia pode ser vista tanto como um problema crônico como também um sintoma de que ‘algo não está legal’. 

“É muito comum conhecermos pessoas que têm dificuldade para pegar no sono, que acordam várias vezes durante a noite ou que usam algum tipo de método para dormir. Infelizmente, os eventos estressores [como a pandemia, problemas pessoais] contribuem muito para isso (insônia)”, afirma, citando que é primordial que um especialista diagnostique o que está acontecendo – se é insônia [sem nenhum fator que a cause] ou algum outro problema psicológico [ansiedade ou depressão, por exemplo]. 

“Pode haver uma preocupação específica como um evento, algo no trabalho, e isso pode impactar na falta de sono, como ainda alimentação inadequada. Tudo isso pode contribuir. Uma estratégia é a ‘higiene do sono’. Se você costuma dormir às 22h, já às 19h deve começar a se desconectar dos aparelhos eletrônicos, criar uma rotina saudável e relaxante que facilite você a conseguir dormir bem”, acrescenta. 

Colau indica algumas atividades relaxantes que podem ajudar – como a prática de mindfulness [traduzida como “atenção plena”, é a prática de se concentrar completamente no presente], a qual ela mesma utiliza. 

“Ajuda muito no bem-estar e na questão do sono. O primeiro passo deve ser a higiene do sono, identificar a sua rotina, e se não for o suficiente há a opção da medicação [benzodiazepínicos, para dormir – recomendados por psiquiatras], mas eu recomendo muito a psicoterapia por pelo menos oito semanas, como prática de mindfulness”, diz. 


Insônia x problemas psicológicos 

Vivian é psicóloga do programa Abraço a Vida (Arquivo pessoal)

Vivian Martins Piva é psicóloga do programa municipal Abraço à Vida e Mestre em Educação com ênfase em Desenvolvimento Humano, ela conta que muitos pacientes que são atendidos no Abraço convivem diariamente com a insônia. 

“E dessa forma, o acompanhamento psicológico se torna importantíssimo, pois colabora com a reestruturação cognitiva do paciente para identificar e substituir pensamentos disfuncionais que causam reações desagradáveis por pensamentos compensatórios que trarão melhores reações emocionais e comportamentais melhorando os sintomas primários da insônia”, explica.  

Segundo Vivian, cada paciente do programa é avaliado individualmente e, de acordo com seu histórico e necessidades, é então estabelecido o melhor plano terapêutico.

“Esse plano terapêutico pode conter diversos tratamentos (psicoterapia, medicamentoso, etc.), que podem ser utilizados individualmente ou de forma associada. Inclusive, de maneira geral, a medicação para depressão e ansiedade pode auxiliar também o paciente a ter um sono melhor. Percebemos isso diariamente na prática clínica. Claro que sempre com a avaliação e indicação médica e sempre associada à psicoterapia, que também auxilia muito o paciente a ter um sono melhor, o que reflete nas suas atividades diárias”, informa. 

Vivian preparou especialmente para os leitores do Página 3
algumas dicas para combater a insônia: 


1. Evite dormir muito durante o dia 
2. Tenha uma rotina equilibrada 

3. Não durma tarde 
4. Pratique exercícios físicos 
5. Tente relaxar 
6. Não use o celular, televisão ou objetos luminosos antes de dormir 
7. Leia um livro antes de dormir  
8. Tome chás calmantes à noite 
9. Evite cafeína, nicotina ou outras substâncias estimulantes à noite 
10. Coma alimentos leves no jantar. 


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