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Balneário Camboriú
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Pelo menos seis mil pessoas passam anualmente pelo AA de Balneário Camboriú

Neste domingo (7) é celebrado o Dia Mundial da Saúde, que enaltece a importância de uma boa qualidade de vida: alimentação saudável, prática de exercícios físicos, manutenção da saúde mental e hobbies, etc. Porém, em um universo onde a depressão é um transtorno considerado comum – a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 300 milhões de pessoas sofram com ele – outra doença acende um alerta: o alcoolismo. 

Dados também da OMS, que considera o alcoolismo como doença, mostra que o uso contumaz e abusivo do álcool é responsável por 2,8 milhões de mortes por ano no mundo, sendo 100 mil delas só no Brasil. 

No mundo, a média é de 7,5% da população que experimentou em algum momento do ano consumo excessivo de álcool – e no Brasil, a taxa é ainda maior: 12,5%. 

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Mas há uma luz no fim do túnel: o Alcoólicos Anônimos, grupo que em Balneário Camboriú celebra 48 anos de atuação neste ano.

Paulão recebe a ficha da vereadora Juliana Pavan (Divulgação)

O presidente da Academia de Letras de Balneário Camboriú, Paulo Roberto de Souza, conhecido como Paulão, motorista concursado da prefeitura de Balneário Camboriú, atualmente lotado no Conselho Tutelar, está há 20 anos sóbrio. É um exemplo de que é possível.

Na noite de quinta-feira (4), Paulo recebeu da vereadora Juliana Pavan a medalha do AA que simboliza esta vitória. 

“Foi uma maravilhosa cerimônia, 60 pessoas participaram, recebi a ficha de Serena Sobriedade dos 20 anos. Foi muito bom saber que somos prestigiados por outros membros do Alcoólicos Anônimos, além de amigos, colegas e companheiros do Resgate Social (onde Paulo atuou por muitos anos) e Conselho Tutelar”, disse. 

A ficha dos 20 anos (Divulgação)

A história do motorista virou livro, ‘De mendigo a milionário’, onde ele contou em detalhes sua trajetória com o alcoolismo, que o fez perder um cargo na Marinha até se tornar morador de rua em Balneário Camboriú, onde há 20 anos conseguiu se libertar. 

“Quando você ingressa no Alcoólicos Anônimos, recebe ficha de 30 dias, depois 3 meses, 9 meses, 1 ano, e recebe ano em ano, todo ano, até 10 anos, depois dos 10, se consegue chegar, recebe 20 anos, que eu recebi nesta semana. Foi uma noite para me lembrar do meu passado – há 20 anos entrei na irmandade do AA. Estava em situação de rua, com a alma despedaçada. Foi onde ganhei inspiração divina para escrever meu primeiro livro, e foi também quando recebi o convite para trabalhar no que hoje é o Resgate Social, que antes era Migração. Eu cheguei a ser Secretário de Inclusão Social. Eu também presidi o COMAD (Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas de Balneário Camboriú) e hoje sou presidente da Academia de Letras da cidade”, comentou.

Engana-se quem pensa que o alcoolismo tem cara ou condição financeira – a doença pode acometer jovens e até idosos, ricos ou pobres. 

A regra é clara – o membro do AA precisa frequentar a irmandade ‘até o fim da vida’, como lembra Paulo. 

Há membros do AA de Balneário que já estão, segundo ele, mais de 30 anos sóbrios. 

“Porque frequentando reuniões você assiste as recaídas de companheiros, que é um sinal de alerta para cada um. Se fico muito tempo sem ir, posso fraquejar, nos lembramos sempre de evitar o primeiro gole só por hoje – e cada só por hoje estou em 20 anos. No início tive 3 ou 4 recaídas, mas em 4/4/2004, eu tive a sabedoria de parar de vez. Nenhuma recaída nesses 20 anos, 20 anos limpo. Se tem recaída, tem que entregar todas as fichas e recomeçar do zero. O alcoolismo é doença e afeta todos ao redor, família, amigos, trabalho. O alcoolismo não é sem vergonhice, é doença e precisa ser tratada. Não tem cura, mas tem tratamento. Mesmo que pare de beber, será alcoólatra até o fim da vida”, completou.

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Milhares de vidas salvas

A sala do AA de Balneário, espaço aberto (Divulgação)

O jornal também conversou com A.J.S., representante de serviços gerais (RSG) do AA de Balneário Camboriú, que contou que na cidade o grupo vai fazer 48 anos de existência em 10 de agosto e que já salvaram ‘milhares de vidas’ – inclusive a dele. 

“Temos frequência anual de, em torno, de seis a oito mil pessoas por ano. São reuniões diárias, com média de 26 pessoas/dia. Temos bastante ingresso e procura por ajuda. Há muitos jovens chegando também. O alcoolismo é doença – quem diz que é doença não é o AA e sim a OMS, que a catalogou em 1992 como doença crônica e sem cura. É uma doença tríplice – física, mental e espiritual. Trata-se o físico, às vezes temos que buscar ajuda mental, psicológica, porque essas pessoas ajudaram a fazer AA, e espiritual, pela eternidade – até que a gente fique por aqui”, explicou.

A.J.S. comentou que o AA tem como base o compartilhar do sofrimento daquele tipo de vida, que através da bebida envolve o ego, orgulho e indisciplina, com a fuga sendo sempre através da garrafa ou das drogas. 

“O AA tem um único propósito – ajudar o bebedor sofredor, aquele que sofre nas garras do álcool. Quem bebe e não tem problema, não tem necessidade de vir, e sim aquele que perdeu o domínio da vida dele para o alcoolismo. O alcoolismo ataca 2 a cada 10 pessoas que bebem, não tem idade, sexo, classe social, intelectual, jovem, velho, ateu e religioso, e faz equilíbrio não por cima, pelo grau de intelectualidade, e sim por baixo – humilhando, denegrindo, fazendo o ser humano rastejar. Mas mesmo que chegue em fraqueza total, dali nasce força, esperança”, destacou.

Feliz por não beber

O representante disse algo muito emblemático ao jornal – falou que é feliz por não beber e que só quem está em tratamento sabe o peso disso, a importância. 

“Para nós beber significa morrer. Estar no AA é chegar em patamar de recuperação de espírito de querer viver, de querer felicidade, não da alegria momentânea causada pelas substâncias. Felicidade plena, equilíbrio. Eu conheço o AA desde 12 de junho de 1974, tinha 11 anos. O meu pai era alcoólatra e me levou porque viu que eu tinha perfil de quem iria precisar do AA. Eu fiquei 4 anos com eles, participei da fundação em Balneário, na Igreja Matriz Santa Inês, em 10 de agosto de 1976, e em 26 de julho de 2005 voltei para pedir ajuda. Foi o meu reencontro com o AA, e nunca mais fiquei um dia longe”, acrescentou, citando que na época tinha 43 anos, já estava com perda de dente, pancreatite, úlcera e possivelmente cirrose, e ali foi se reconstruindo.

Mais de seis mil dias se passaram, mas A.J.S. pontuou que segue pensando no mandamento do AA – ‘Evite o primeiro gole só hoje’, frase que tem 24 letras, mesma quantidade de horas que há em um dia. 

“Eu cheguei no AA vazio internamente e externamente desse sentimento de amor, honra, pátria e família. Era um ser humano gelado e frio, que não tinha mais perspectiva de vida. A bebida era o problema. Hoje tenho qualidade de vida e amor. Não foi fácil. Desde 2005 venho praticando isso diariamente. Eu achava que felicidade era no bar e inferno em casa, e hoje é o contrário”, completou.

O AA existe há 90 anos no mundo e em 2025 Balneário Camboriú receberá o Encontro Catarinense de AA, em setembro. 

O Grupo Alcoólicos Anônimos (AA) de Balneário Camboriú fica na Rua Itália, 201, no Bairro das Nações, com reuniões diárias das 20h às 21h30. Mais informações: (47) 3348-6700.

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