É praticamente unânime a percepção que o sistema educacional brasileiro é uma tragédia. Não faltam escolas no Brasil, temos elas aos montes e ainda estou para conhecer um político que diga não defender a educação, que faz parte do tripé genérico “Educação, saúde e segurança” que vemos repetidos por todos os candidatos de dois em dois anos.
Por que então temos uma educação, principalmente de base, tão ruim? Darcy Ribeiro, importante pensador brasileiro e ex-ministro da educação, dizia que uma dessas causas era a “perversão” criada pelos brasileiros que é o sistema de escola em turnos. Em todo o mundo, principalmente nas nações mais desenvolvidas, a escola é tratada como uma instituição de tempo integral, ao contrário do caso brasileiro que colocam suas crianças por poucas horas e logo as coloca para suas casas, quando há melhores condições e quando não há, direto para as ruas.
Com base nisso, Leonel Brizola e Darcy Ribeiro criaram um modelo de escola, chamada de Centro Integrado de Educação Pública (CIEP) que pela primeira vez tentava tratar nossas crianças de maneira mais digna. Colocando-as para estudarem em tempo integral, a criança teria acesso a refeições, ficariam longe das ruas, fariam os deveres de casa e teriam reforço na própria escola, além de que os pais poderiam trabalhar normalmente sem se preocupar.
Essa escola foi tão bem-sucedida no que se propôs que o seu modelo se espalhou por todo o Brasil, inclusive em Balneário Camboriú, com o CIEP Rodesindo Pavan, realizado na gestão do ex-prefeito Leonel Pavan e do então secretário de educação Luis Castro. Mas o objetivo do CIEP não era apenas “trancar” uma criança o dia todo na escola, ela foi feita sob um projeto pedagógico de alto nível, amplamente debatido por autoridades da educação, oferecendo uma educação que permitisse às crianças desenvolverem pensamento autônomo e desenvolver novas habilidades, como uma profissão ou um esporte.
Infelizmente, esse ideal se perdeu em Balneário Camboriú. Pouco a pouco, o CIEP da Vila Real foi perdendo sua essência e se tornando mais uma escola genérica, que entende como contra turno atividades como jogar vídeo game. O lazer também faz parte do desenvolvimento de uma criança, mas a educação não pode se basear apenas nisso.
O projeto pedagógico original foi totalmente desmantelado no governo Periquito e o governo Fabrício parece entender que “novas ideias” são escolas com estruturas decadentes, como aconteceu com o CEM Dona Lili, que chegou ao limite do perigo, e é feito com o CIEP, que é de conhecimento público as péssimas condições de sua estrutura já fazem anos. Ao que parece o compromisso do prefeito Fabrício de ampliar as vagas de educação integral no município (até agora um total de zero) foram substituídos por um revanchismo, de abandonar uma escola simplesmente por possuir o sobrenome de um desafeto político.
Isso se agrava quando vemos que o projeto da “Escola da Amanhã”, que realmente é do amanhã por nunca sair do papel, pretende construir a nova escola em cima do CIEP, que é patrimônio imaterial do município (Lei nº 4.379, de 11 de março de 2020). Uma escola que, caso saia do papel, será apenas mais do mesmo, construída acima de um marketing que vende “o novo”, “o futurístico”, “o descolado”, sendo que está sendo feito sem qualquer debate pedagógico.
É mais um caso de políticos que defendem a educação, mas não tentam solucionar em nada as mazelas do nosso sistema educacional.
É importante ressaltar que não precisamos reinventar a roda. Já tivemos em Balneário Camboriú uma escola de ponta, que foi apenas desmantelada pelos seus governantes.
Ao invés de utilizarmos aquilo que deu certo, o prefeito tenta reescrever a história apagando e colocando em perigo nossas crianças, que atualmente estudam em uma estrutura decadente no CIEP.
Nesse sentido é importante a intenção da construção de uma nova estrutura no local, mas essa não deve ser feita apenas como desculpa para apagar o legado de uma gestão anterior e sim para que a escola tenha uma estrutura de ponta capaz de retomar seu plano pedagógico, com as atualizações contemporâneas necessárias e com uma ampliação de vagas, permitindo o cumprimento do Plano Municipal de Educação (PME) do município que em sua meta 6 estipula “Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 60% (sessenta por cento) nas escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 40% (quarenta por cento) dos estudantes da educação básica, até o final da vigência do Plano” (Lei nº 3862, de 18 de dezembro de 2015).
O fato é que já possuímos uma escola do amanhã, ela se chama CIEP. Ela só necessita de um governo sério, com ao menos o mínimo de comprometimento com a educação e suas promessas de campanha.
Allan Schroeder é advogado, administrador público e vice-presidente do PDT de Balneário Camboriú